sábado, dezembro 15, 2007

The Police para quem precisa


Oito de dezembro, fatídico dia do assassinato de John Lennon em 1980 e da morte de Tom Jobim em 1994, a partir de 2007 a data passa a ter um significado musical positivo, pelo menos para mim e para quem teve a oportunidade de estar presente no maravilhoso show do The Police no Rio de Janeiro. Que porrada na cara!!! Depois de apagarem as luzes e os alto-falantes ecoarem a voz de Bob Marley cantando “Get Up, Stand Up”, às 21h30min em ponto eles entraram no palco como previsto (ah, se os shows brasileiros tivessem essa pontualidade). Antes passei pelo martírio que foi entrar no Estádio Jornalista Mário Filho, vulgo Maracanã (ah, se os shows brasileiros NÃO tivessem essa desorganização). Já acostumado com esse tipo de situação procurei manter o bom humor.

Logo na primeira música do show "Message In A Bottle" a banda já mostrou a que veio e sinceramente só essa abertura já teria valido o show. Na sequência vieram "Sincronicity II" e "Walkin On The Moon" que seguraram o clima empolgado da primeira canção e depois "Voices Inside My Head", "When The World Is Running Down" e "Don´t Close To Me" enquanto a banda desfilava toda a sua elegância musical. Sting arriscava umas frases em português nos intervalos das canções como: "obrigado", “que saudade do Brasil” ou "vocês querem cantar comigo?", até com certa fluência, incomum nos roqueiros ingleses que baixam na terra de Machado de Assis, por certo, resultado do antigo namoro com o Brasil através das amizades com o já citado compositor Tom Jobim ou os tempos de Floresta Amazônica com o Cacique Raoni. E o deleite seguia com "Driven To Tears", "Hole In My Life", "Truth Hits Everybody". Apesar do longo intervalo de mais de vinte anos a banda manteve no palco uma unidade ímpar numa combinação perfeita de técnica e emoção, com a bateria precisa de Copeland, os grooves de baixo marcantes e dançantes de Sting, e as belas texturas e solos de guitarra de Summers, tudo executado de forma bastante sedutora. Dispensáveis comentários para o equipamento, som, telões e todo o aparato técnico.

Outra coisa que descobri ou só agora me liguei para isso, é o fato de como o show deve ser diferente de acordo com o local na plateia que você se encontra, não apenas pela visibilidade do palco ou pelo som, mas sim pelas pessoas ao redor, nesse aspecto eu imagino que não haveria em todo o Estádio posicionamento melhor, cercado por verdadeiros fãs da banda que dançavam e cantavam todas as canções, entre elas uma garotinha de uns 12 anos e uma italianinha para lá de empolgada. Lulu Santos estava certo: “cada público tem o show que merece!”. Acho que os únicos que não mereciam é a já comum área VIP (formada por pseudo-celebridades que sequer conhecem o trabalho dos artistas e vão mais para aparecer na coluna social no dia seguinte ou em matérias tolas na TV dizendo que não conheciam a banda, ou cantando uma frase errada de uma canção que por ventura tenha sido tema de novela) que ficou numa posição privilegiada não permitindo um acesso muito próximo ao palco dos admiradores reais e que pagaram um alto preço pelo ingresso embora cada centavo tenha valido a pena. 

A banda ainda tocou uma saraivada de hits alucinantes um após o outro, “Every Little Thing She Does Is Magic” (minha predileta), “Wrapped Around Your Finger”, “De Do Do Do De Da Da Da”, “Invisible Sun”, “Walking In Your Footsteps”, “Can't Stand Losing You”, “Roxanne”, “King Of Pain” (numa versão que superou de longe a original) e “So Lonely” para encerrar no bis com “Every Breathe You Take” sempre com os improvisos que só um trio tem liberdade pra fazer, e mais do que liberdade eles têm uma extrema competência.

Ainda que pareça clichê, no show realizado no Rio durante o verão, tudo cheirava a alegria, carnaval e sensualidade. Se dois amigos chamaram o show de Roger Waters em fevereiro de orgasmo estético posso afirmar que esse show também foi um orgasmo, mas sexual mesmo.