domingo, dezembro 09, 2012

Roberto Carlos - Esse Cara Sou Eu




Quando foi anunciado o lançamento de um EP do Roberto Carlos, o primeiro da era pós-vinil, achei um barato. O formato era o segundo principal da indústria fonográfica até meados dos anos 60, logo depois do single (chamado de compacto simples no Brasil), este disquinho trazia duas canções, normalmente uma candidata a hit que ocupava o lado A (e por isso mesmo o termo single que quer dizer algo como "um", "único" em inglês) e o lado B que tinha quase que a função apenas de completar o disco, sendo que um artista que tivesse duas canções “fortes” usualmente guardava a outra para lançar como lado A de um novo compacto (daí se origina o termo lado B para designar as canções menos conhecidas de um artista, mas certa banda liverpuldiana lançou uma série tão alucinante de compactos nos 60 em que os lados B's acabavam tornando-se tão hits quanto o lado A, assim como também foram fundamentais para que o LP, abreviatura para long-play em inglês se tornasse o formato principal na música popular a partir de seus álbuns repletos de sucessos e mais tarde com o início do que viria a ser os álbuns conceituais, aonde as canções traziam ligações entre si e faziam parte de um todo). Depois do compacto simples vinha o EP (em inglês abreviatura de Extendend Play, no Brasil ele foi batizado de compacto duplo) que trazia quatro faixas e por fim, aparecia o LP (long play) que trazia 12 a 14 faixas no caso da música popular e costumava conter as canções lançadas anteriormente nos compactos. A ideia era que o compacto (single) fosse o foco das vendas que devido ao custo menor tinha mais saída. Para artistas que estavam se lançando era extremamente interessante, pois o menor investimento por parte da gravadora fazia com que ela se encorajasse a viabilizar mais lançamentos e o artista podia "ser testado" concentrado basicamente com a produção de duas músicas, ao invés do lançamento de no mínimo uma dezena a mais de canções. No exterior, o lançamento de singles segue seu curso de maneira regular e como forma de estimular o ouvinte que compra o álbum completo a adquirir também o single é comum que este contenha canções ou versões exclusivas. Por razões que só a Indústria Pornográfica (digo, Fonográfica) Brasileira pode dar, o formato single acabou sendo extinto no Brasil pouco antes de fim da produção de vinil no país, sendo mantido na era CD quase que exclusivamente para CD's de divulgação enviados para rádios e imprensa. O fato é que há uns anos atrás, antes da pirataria e a internet darem um belo chute no traseiro das gravadoras, estas até tentaram investir no formato single CD no Brasil, porém com os discos sendo vendidos praticamente ao mesmo preço do CD "cheio" e o formato não vingou (lembro de lançamentos por aqui de singles do Eric Clapton e das Spice Girls nessa época)...coisas do Brasil. E foi por isso mesmo que achei interessante quando foi anunciado o EP de Roberto Carlos. Por conter duas canções inéditas e duas lançadas anteriormente (também era comum tempos atrás que o EP viesse com essa composição já que as músicas gravadas anteriormente ajudavam a baratear o gasto da produção) viria acompanhado na sequência de um CD inédito "completo" que o público de Roberto anseia há tempos, mas não é o que parece que vai acontecer. RC que durante toda a carreira praticamente lançou um disco por ano (considerando nesse caso o disco original em português, já que desde os anos 70 até início dos 90 seus discos eram vertidos para espanhol e lançados no mundo hispânico), nesses discos Roberto praticamente não cometeu regravações de seu próprio repertório, a primeira se deu em 1975, 17 anos depois do lançamento de seu primeiro compacto quando regravou "Quero que vá tudo pro inferno", lançada originalmente em 1965, essa regravação se justificou pelo fato de na ocasião celebrar os 10 anos do programa Jovem Guarda no qual Roberto se projetou nacionalmente. Depois disso ele só voltaria a revisitar seu repertório em seu primeiro disco ao vivo gravado em 1988, uma curiosidade é que esse disco saiu em junho daquele ano, sendo sabido que seus lançamentos tradicionalmente ocorriam próximos do Natal e no mesmo ano Roberto lançou também seu álbum regular de fim de ano, o disco ao vivo se explica porque naquele ano as vendas de disco andavam fracas e a então CBS (hoje Sony/BMG) resolveu pôr nas prateleiras um novo disco do Rei de forma a atrair o público às lojas, nem se faz necessária a confirmação que o ato deu certo, pois só no lançamento vendeu 750 mil cópias (nos tempos áureos do império das gravadoras o disco anual de RC não vendia menos de um milhão de exemplares).

Nos últimos anos, no entanto o cantor vem evitando e adiando o lançamento de um disco de canções inéditas, acredito que seja fruto de um grande receio por parte do artista que o disco não venda tanto quantos os álbuns ao vivo recheados de regravações que se tornou padrão na indústria brasileira, as gravadoras com isso economizam na produção e apostam no que "deu certo" confiando numa passividade e incapacidade do público de absorver novos trabalhos, soma-se a isso a questão que mesmo boas canções lançadas por RC nesse período acabaram não rendendo a repercussão devida, esse é o caso de "Te Amo Tanto", "Amor Sem Limite" ou "Pra Sempre", isso provavelmente serviu para desencorajar o artista uma vez que trabalhos como o Acústico e o disco em parceria com Caetano Veloso cantando Tom Jobim tiveram vendas muito expressivas (ótimos trabalhos estes, diga-se de passagem), assim como a série de "ao vivos" e ainda o disco Duetos em detrimento aos seus últimos projetos de inéditas. Seria até desumano exigir que o artista hoje lance um disco de inéditas por ano, mas acredito que um bom caminho a seguir seria o investimento em projetos realmente artísticos e caprichados como foi o disco com Caetano. Roberto poderia explorar um repertório que o agrada e que ele não visitou muito, quem sabe um disco de standards do jazz com coisas do repertório de Sinatra, Tony Bennett ou Chet Baker? Por que ele não grava um disco com canções do maior compositor brasileiro segundo ele, Chico Buarque? Clássicos da música brasileira? Cartola, quem sabe? Uma visita ao repertório rockeiro do início da carreira que ele já até gravou como Elvis ou Beatles? Mais do que simples regravações essas sim seriam registros históricos, um favor dele emprestar sua voz a grandes canções. Mas o cara é muito na dele e mesmo suas apostas mais ousadas, são muito, mas muito calculadas.

Enfim, chegando ao tal EP que traz as inéditas "Esse Cara Sou Eu" e "Furdúncio" e é completado com "A Mulher Que Eu Amo" e "A Volta", as quatro músicas carregam em comum o fato de terem sido veiculadas em telenovelas da Rede Globo (que tem um contrato de exclusividade com o artista para que ele grave seu Especial anual  de fim de ano, não se apresente em outros canais e faça eventuais participações em alguns programas da emissora), sendo que as duas inéditas estão presentes numa mesma novela que está no ar atualmente. Em outras épocas, quando suas vendas chegavam a superar a marcas de 2,5 milhões por ano de cada lançamento, Roberto não permitia que canções na sua voz entrassem em trilhas de novela, um fruto da alta competência com a qual RC sempre gerenciou sua carreira, a intenção era evitar a superexposição. Hoje os tempos são outros, Roberto ainda vende muito, mas não é mais líder absoluto quando se trata dos novos lançamentos, o lamentável é que praticamente todos que o têm superado em vendas são absolutamente medíocres artisticamente, sejam os padres-pops-"cantores" ou as "bailarinas"-"cantoras"-"modelos"-"atrizes". O lançamento atual, porém conseguiu o que canções de qualidade similar ou até melhores lançadas nos últimos dez anos pelo cantor não conseguiram, um hit inquestionável: "Esse Cara Sou Eu". A música caiu no gosto do povo de maneira arrebatadora, há tempos uma nova canção de Roberto não ia parar na boca de todos, mesmo aqueles que não fazem parte de seu público habitual, levando o disco rapidamente ao topo das paradas mesmo antes de seu lançamento através das reservas ou compras pelo site iTunes e a venda de um milhão de exemplares. A queda nas vendas de discos na última década poderia sugerir uma queda de prestígio do artista, ledo engano, seus shows continuam concorridos como sempre em qualquer lugar do mundo, não raramente ele têm sido obrigado a abrir datas extras para suas apresentações devido à procura por ingressos, assim como seu já tradicional cruzeiro que tem suas vagas esgotadas com mais de um ano de antecedência.

Depois de tão longo prefácio, vamos ao disco:

Como ouvinte e colecionador chato e detalhista não gostei da baixa qualidade do papel do encarte, o motivo mais provável deve ser econômico para o disco ser vendido por um preço mais acessível como está ocorrendo. Tabelado como R$9,90, ele na verdade poderia ser mais barato, uma vez que vários álbuns "cheios" se encontram no mercado por esse preço.
  

1. ESSE CARA SOU EU

Composição solitária de Roberto Carlos, apesar de não ser das suas letras mais inspiradas, dá uma sensação de que ele já cantou todos os versos em outras canções, o Robertão convencido de “Detalhes” que sacramentava que a amante não o esqueceria a qualquer custo reaparece aqui para dizer “Eu sou o cara certo pra você/ Que te faz feliz e que te adora” (usando o eu lírico claro, como confessou o compositor de maneira mais humilde “esse é o cara que eu gostaria de ser”) o verso que traz o título resolve bem o fim das estrofes e é nesse gancho que se apóia seu sucesso. Já a estrutura musical da canção embora seja bem simples apresenta um arranjo de Tutuca Borba sob medida criando climas com interessantes dinâmicas que não deixa a baladinha lenta cair na monotonia, para a estrofe final aquela subidinha de tom clássica em canções do gênero, a sonoridade geral lembrou muito os discos do RC dos anos 80. Participam da faixa os músicos da banda de Lulu Santos, Chocolate na bateria e Jorge Aílton no baixo, além de Tutuca nos teclados e o próprio Roberto se arriscando mais uma vez ao piano e tem ainda uma guitarra não creditada no encarte que lembra muito o estilo de Paulinho Ferreira da RC9 (banda do Roberto) e que vem gravando com ele regularmente.

2. FURDÚNCIO

Parceria da dupla dinâmica Roberto e Erasmo se arriscando num funk melody, estilo que chamou a atenção de Roberto a partir da audição da canção “Se Ela Dança, Eu Danço” de MC Leozinho que rendeu um surpreendente dueto no Especial de RC em 2006. Uma qualidade inegável do intérprete Roberto Carlos é a capacidade de cantar diversos estilos sempre os adaptando muito bem ao seu estilo (basta dar uma passeada pela sua discografia e ver como ele gravou rocks, blues, valsas, tangos, boleros, sambas, bossas, pop, etc.) e dessa vez não foi diferente. Um arranjo recheado com efeitos eletrônicos, uma guitarra funky gravada por Ringo Moraes, teclados de Tutuca Borba e arranjos e teclado de DJ Batutinha. Na letra Roberto e Erasmo acabam por quase repetir um verso “Pra ver de perto aquela coisa bonita/Que me assanha, me provoca, me agita” que remete à canção "Símbolo Sexual" (1985) onde ele canta: “Você me fala tanta coisa bonita/Me acaricia, me provoca, me agita”, não sei se foi intencional, quase uma citação, mas ficou bem próximo e seria estranho que eles não tivessem percebido a semelhança, afora isso a letra resulta bem mais criativa que “Esse Cara Sou Eu”, a presença de Erasmo certamente tem a ver com isso. Interessante observar que apesar de os músicos da banda de Lulu Santos terem participado da canção anterior, essa gravação é que lembra um pouco o estilo de Lulu, o solo com um efeito de teclado simulando uma cítara acentua a semelhança. Ah, e ainda tem o assobio do cara durante o solo, ele também manda muito bem nesse quesito!


3. A MULHER QUE EU AMO

Canção lançada originalmente em 2009 na trilha sonora de mais uma telenovela e apesar desse apoio extra na divulgação acabou não emplacando. Instrumental também sob o comando de Tutuca Borba que executa piano, cordas (no teclado) e assina o arranjo.

4. A VOLTA

A primeira gravação dessa composição foi registrada pelos Vips em 1965 e foi um grande sucesso na época, a gravação de Roberto em 2004 também integrou a trilha de uma novela global, foi incluída como faixa bônus na segunda edição do disco “Roberto Carlos Ao Vivo No Pacaembu” e no álbum de 2005. Destaque para a guitarra à la Dire Straits tocada por Paulinho Ferreira e os vocais de Roberto que registrou também aquela bela segunda voz como só ele sabe fazer. Completando a ficha técnica tem Jurim Moreira na bateria, Dedé Marquez na percussão, Dárcio Ract no baixo, Paulinho Galvão no violão e Tutuca Borba nos teclados e piano.


Ainda: Um vídeo postado num blog sobre Roberto Carlos do meu amigo Baratta mostra a primeira vez que RC cantou "Esse Cara Sou Eu" em um show (para conferir clique AQUI). Segundo um site (que não me lembro agora), a nova canção teria sido a mais aplaudida da noite. Espero que sirva de estímulo para que ele continue apostando em material inédito (ou regravações relevantes)!    

sábado, agosto 25, 2012

The Dream Academy (1985)



Lado A
Life in a Nothern Town
The Edge of Forever
(Johnny) New Ligth
In Places on the Run
This World

Lado B
Bound to Be
Moving On
The Love Parade
The Party
One Dream


Sem o mínimo medo de parecer superficial confesso que comprei esse disco só pela capa, em especial pelas roupas bacanas que os integrantes estão usando e a bela Kate St. John. Não me recordava de ter escutado a banda antes (segunda metade da década de 1990), mas como estava bem barato na ocasião resolvi levar (o preço teria sido um real? Naquela época, quando as lojas estavam se desfazendo de seus estoques de vinis era comum achar umas promoções assim) e acabei pegando junto outro disco deles que também estava dando sopa na loja “A Different Kind Of Weather” porque tinha uma releitura de “Love” do John Lennon (inclusive, a gravadora “suja” a capa anunciando que a canção era tema de uma novela), bem bacana essa gravação. Só agora descobri que eles lançaram apenas mais um disco além desses (a internet tem lá seu valor). Os dois discos dessa banda inglesa ficaram meio esquecidos no meio da coleção e até o momento que escrevo esse texto, eu nunca havia lido nada sobre a banda, estranha sensação para mim que sempre fui super ligado nesses detalhes, porém nunca encontrei informações sobre eles nas revistas nacionais que eram as únicas fontes disponíveis na época, tudo que eu sabia era o que constava nas capas e encartes e no caso desse disco as referências que ficaram em minha mente eram a produção de Mr. David Gilmour (juntamente com Nick Laird-Clowes) e da participação de Guy Pratt que veio a ser o baixista do Pink Floyd na fase pós-Waters. Há anos sem escutá-lo resolvi colocar pra tocar hoje e me surpreendi, curti como nunca o havia curtido até então.

The Dream Academy tem o clássico título do primeiro álbum de boa parte das bandas de rock e pop levando apenas o nome da banda. Veio-me logo de cara aquela sensação de um som meio datado dos anos 80, embora na minha cabeça o disco fosse dos anos 90, para minha surpresa, ao conferir, me dei conta que é de 1985. Muito do som que se fazia na época está nele, muitos teclados, sintetizadores, bateria eletrônica, excesso de reverb nos vocais, mas ele é repleto de belas melodias e arranjos sutis, criados pelos seus integrantes multi-instrumentistas, Gilbert Gabriel nos teclados e vocais; Nick Laird-Clowes nas guitarras, harmônica e vocais principais (também autor das interessantes letras do trio e possui um timbre vocal que lembra muito John Lennon em alguns momentos) e; Kate St. John no oboé, corne inglês, acordeom, saxofone tenor e vocais; a eles se somam um grande time de instrumentistas que se alternam nas faixas do disco: Benedict Hoffnung nos tímpanos e percussão; Dave Mattacks, Jake Le Mesurier, Tony Beard e o brasileiro (e meu conterrâneo belo-horizontino) Bosco de Oliveira na bateria; o rodado Pino Palladino, Mickey Féat e Guy Pratt no baixo; Chucho Merchan no baixo acústico; Peter Buck na guitarra; Gregg Dechert no órgão Hammond; Adam Peters no cello; David Defries no trompete; Caron Wheller, Sam Brown, June Lawrence e Ingrid Schroeder nos backings vocals; David Gilmour toca guitarra em “Bound To Be” e violão em “The Party”. Não sei se foi a banda que convidou Gilmour para produzir porque tinham uma sonoridade próxima (o irmão de David, Mark Gilmour participou da formação inicial da banda e também integrou junto com Nick Laird Clowes a banda The Act) ou se foi o Gilmour que levou esse som para o The Dream Academy, mas sua presença na produção faz banda soar muito parecida com o Pink Floyd daquela época, meio “A Momentary Lapse Of Reason”, embora esse tenha sido lançado depois em 1987. Nick também colaborou em parcerias com Gilmour em canções para o álbum “Division Bell “do Floyd. Entre todas as canções do álbum, para variar, como é comum com bandas de rock e/ou pop, a baladinha acústica “One Dream”, quase esquecida no fim disco é a faixa mais bonita, tão bonita que só ela (e a capa! rs) já valeriam o disco.




Ah, a edição em CD, como sempre, estragou a capa (não dê muito crédito às reproduções das imagens copiadas no blog, elas também desvalorizam o original) ao tirar a visão da paisagem ao fundo para focalizar os integrantes já que as imagens perderiam muito em definição com a redução do tamanho da impressão da foto do LP para o CD. 

domingo, julho 22, 2012

Maria McKee - You Gotta Sin To Get Saved (1993)



Nas últimas postagens sobre discos, falei de duas cantoras e compositoras que gosto, não foi premeditado, na verdade a única coisa que pensei é que escrevi pouco sobre discos no blog e resolvi dar uma garimpada na minha coleção e falar de alguns dos meus álbuns prediletos. Por obra do acaso, apareceu mais um disco de outra cantora e compositora na reta. Maria McKee é o nome da moça, americana, ex-integrante da banda Lone Justice.

Esse disco foi uma descoberta da era pré-internet quando não era tão fácil conhecer artistas que não estavam expostos na grande mídia (embora tenha feito muito sucesso nos EUA, Maria Mckee, por exemplo, nunca emplacou por aqui) e, acredite se quiser foi comprado de um vendedor de rua que trabalhava com CD's originais. Sim, já houve isso (pelo menos eu conheci alguns em BH), vendedor de rua de CD’s originais novos e usados, incluindo artistas desconhecidos e com direito a discman para testar e/ou conhecer o disco e foi dando uma ouvida rápida que resolvi levar esse CD. Maria McKee faz um pop com influências soul e folk e uma pegada blues/rock nesse álbum lançado em 1993.

“I’m Gonna Soothe You” abre o disco, parceria de Maria Mckee com Bruce Brody e Marvin Etzioni que fazem parte do enorme time de músicos que participam do álbum, um roquinho suingado com a participação das Waters Sisters nos backings vocals somando a bela voz de Maria, uma guitarra com um riff malandro à la Keith Richards passeia pela canção, aliás, o álbum produzido por Don Was em diversos momentos lembra um pouco a sonoridade dos Rolling Stones, na letra a garota resolve cuidar do namorado da amiga que não dá o devido tratamento ao rapaz. “My Lonely Sad Eyes “é uma regravação do grande Van Morrison, caiu muito bem na voz da cantora e essa é a principal diferença em relação ao arranjo gravado por ele, o instrumental, embora um pouco mais “cheio” (com um órgão Hammond fazendo aquela “cama” clássica) e vigoroso não foge muito do registro original. Na sequência duas boas composições solitárias de Maria, a balada “My Girlhood Among The Outlaws “e o country “Only Once” com uma sonoridade bem caipirona muito bacana. “I Forgive You”, ótima balada gospel de Maria Mckee em parceria com a cantora e compositora inglesa Sam Brown dá margem para ela soltar a voz com toda alma e energia, mais uma vez com o apoio das Waters Sisters que caem como luvas nesse tipo de canção. “I Can’t Make It Alone” trata-se de uma regravação da dupla de compositores Gerry Goffin e Carole King, bons intérpretes sempre têm o dom de fazer com que qualquer música que cantem soe como de sua autoria e é o que Maria Mckee faz nessa faixa que virou um rock muito interessante. O folk se faz presente em “Precious Time” com direito a gaitinha e tudo, composição dos guitarristas, Gary Louis e Mark Olson que também integram o time de músicos que participaram das gravações. Van Morrison reaparece na faixa “The Way Young Lovers Do”, outra música que Maria Mckee garimpou do repertório do compositor e regravou com muita personalidade, menos suingada que a versão de Morrison, acabou soando como um blues meio psicodélico. Também de autoria de Maria, Brody e Etzioni é a canção “Why Wasn´t More Grateful” , outro gospel com belos metais. Para fechar o disco, a canção título: “You Gotta Sin To Get Saved” de autoria de Maria, Brody, Etzioni e Sam Dogg, costumo dizer que grandes discos começam com bons nomes, pois esse começa e termina.

Posfácio: como esse disco tinha uma lista muito grande de músicos participantes (eu sei que isso não é uma desculpa), resolvi omitir essa informação no texto (até me senti traindo a classe da qual faço parte, rs), citando apenas os músicos que participaram das gravações e também de composições, mas o Baratta, amigo e leitor atento do blog chamou minha atenção para a participação do Jim Keltner na bateria que só pra começo de conversa tocou em vários discos das carreiras solos de Ringo Starr, George Harrison e John Lennon. Então aí vai a lista completa dos músicos que tem ainda a Maria Mckee ao piano e guitarras-base.

Maria McKee - piano, guitarra-base, vocais
Jon Auer - background vocals
Bruce Brody - órgão, piano, órgão Hammond, background vocals, palmas, Wurlitzer
David Campbell - regência
George Drakoulias - bateria
Marvin Etzioni - baixo, guitarra, bandolim, background vocals, palmas
Don Heffington - percussão, bateria, background vocals, palmas

The Jayhawks
Jim Keltner - bateria
Dale Lavi - palmas
Gary Louris - guitarra, background vocals, palmas

The Memphis Horns 
Spyder Mittleman - saxofone
Bud O'Brien - baixo
Mark Olson - violão, guitarra, gaita, background vocals, palmas
Nicol Sponberg - palmas
Ken Stringfellow - background vocals
Benmont Tench órgão, piano, órgão Hammond, background vocals, palmas, Wurlitzer, órgão Vox
Mike Utley - piano
Don Was – baixo

Waters Sisters
Julia Waters - background vocals
Maxine Waters - background vocals
Edna Wright - background vocals
                                                                                                                                                                                    

domingo, julho 08, 2012

BALANÇA ZAP - 10 ANOS ZAP18




No próximo sábado, dia 14/07 tem mais uma edição da festa/show Balança Zap comemorando os 10 anos da Cia. Teatral ZAP18. Dessa vez, além de participar da produção, também estarei tocando, primeiro junto com músicos e atores da ZAP18 relembrando músicas da trilha de algumas das peças montadas pela companhia e depois com a banda Turma do Matoso criada com os amigos Francisco Falabella, Marcone Henrique e Warlei Campos especialmente para a ocasião, o repertório privilegia canções de Roberto, Erasmo, Tim Maia e Jorge Ben.

Para quem estranhar o nome da banda, Turma do Matoso era como se auto-intitulava a turma que reunia essas quatro “figuraças”  bem antes de ser tornarem famosos e outros amigos no Rio de Janeiro na Barra da Tijuca no final dos anos 1950 na esquina da Rua do Matoso com Haddock Lobo, desses encontros surgiriam as bandas The Sputniks da qual faziam parte Roberto Carlos, Tim Maia, Arlênio Lívio e Wellington; e The Snakes, montada por Wellington após o fim dos Sputniks com formação que trazia Erasmo Carlos, Zé Roberto “China” e Edson Trindade (compositor, entre outras músicas, de “Gostava Tanto de Você”, sucesso anos mais tarde na voz do amigo Tim). O ponto de encontro da turma era o Divino Bar, ali, eles se reuniam com outros amigos, entre eles Jorge Ben e Dedé Marques que foi inicialmente baterista e segue até hoje como percussionista da banda de Roberto Carlos.

Bem, postagem curta, mas deu para explicar a origem do nome da banda, não é? Penso inclusive que a verdadeira Turma do Matoso merece uma postagem contando mais detalhes da sua história aqui no rockngeral. Aguardem!

No mais, estão todos convidados para o aniversário da ZAP18!

Grande abraço e ate lá!

BALANÇA ZAP - 10 ANOS ZAP 18

Local: Sede da Zap18 - Rua João Donada, 18 - Bairro Serrano (clique AQUI e veja o mapa)

Data: 14/07 (sábado)

Horário: 19h

Para maiores informações podem acessar o site: www.balancazap.blogspot.com ou a página do evento no facebook: http://www.facebook.com/events/254878364628156/

segunda-feira, junho 25, 2012

Joni Mitchell - Blue (1971)



  1. All I Want
  2. My Old Man
  3. Little Green
  4. Carey
  5. Blue
  6. California
  7. This Flight Tonight
  8. River
  9. A Case Of You
  10. The Last Time I Saw Richard


Descobri esse disco faz alguns anos, mas desconhecia o seu enorme sucesso e importância na carreira de Joni Mitchell, além de já gostar da cantora, talvez a bonita capa tenha me atraído em especial, assim como o nome que é o da minha cor predileta, embora nesse caso o colorido seja outro, a palavra que em inglês significa "azul", mas também quer dizer “dor”, aparece na faixa título como um apelido carinhoso para uma pessoa. Mesmo carregando o blues no nome, é um disco com forte influência folk (estilo que eu costumo assimilar à nossa dita MPB por também se tratar de um seguimento onde prevalece o violão e a voz em canções aonde as letras tem tanta ou muito mais importância do que as músicas feitas por compositores geralmente bons, mas que não sabem cantar e tão pouco tocar violão em sua esmagadora maioria). Bem, o fato é que a Joni toca e canta muito (!) e o disco é recheado de belos timbres e arranjos de violão que imperam nesse trabalho praticamente todo acústico (com exceção para o uso do baixo e do pedal steel em algumas poucas faixas), aonde o piano também cria bons acompanhamentos à voz da cantora. Além de cantar, ela toca piano, violão e dulcimer e conta com o auxílio de músicos de primeira linha: Stephen Stills toca baixo e violão em “Carey”; James Taylor toca violão em “California”, “All I Want”, e “Case Of You”; Sneeky Pete toca pedal steel em “California” e “This Flight Tonight”, Russ Kunkel faz a percussão em “California”, “Carey” e “Case Of You”.  

Joni Mitchell assina sozinha todas as faixas do disco e equaliza brilhantemente as músicas com letras que tratam quase que exclusivamente de relacionamentos amorosos, digo “quase” porque em um momento ou outro Joni aproveita para fazer uma crítica social ou política que também sempre foi uma marca do seu trabalho. Totalmente introspectivo e melancólico, como não poderia deixar de ser um álbum com esse título e temáticas, as canções vão direto ao ponto com melodias ricas que fogem do banal e surpreendem a cada nova frase musical. Na letra de "Blue", Joni diz que “songs are like tattoos (canções são como tatuagens)”. Perfeito! Posso dizer que tenho essas dez belas canções tatuadas em mim.  



Ainda: enquanto procurava uma imagem da capa do disco para ilustrar o post, encontrei um blog que trata exclusivamente desse disco com vídeos, entrevistas, fotos...vou começar a explorá-lo agora, parece bem bacana, para quem quiser conferir, segue aí: http://jonimitchellblue.blogspot.com.br/

domingo, junho 10, 2012

Suíte Gargalhadas – Cento e tantas histórias engraçadas sobre música e músicos – Henrique Cazes




A dica da vez é o livro Suíte Gargalhadas de Henrique Cazes que tem o subtítulo Cento e tantas histórias engraçadas sobre música e músicos.  Lançado pela Editora José Olympio em 2002, o livro não parece ter tido outras edições, embora seja bem interessante e engraçado como se propõe, mas ainda pode ser encontrado em alguns sites de livrarias. Ser músico por si só nesse país já é uma piada e o cavaquinista Henrique Cazes conseguiu garimpar e selecionar uma boa coleção de histórias e casos que ele juntou nesse livro de crônicas curtas que ocupam cada uma no máximo duas páginas. Vários nomes famosos do cenário musical brasileiro aparecem no livro, sendo que o autor não se preocupou em procurar confirmar a veracidade dos fatos, o que vale é que o caso seja engraçado, entre eles Noel Rosa, Aracy de Almeida, Paulo Moura, Radamés Gnattali, Nelson Cavaquinho, Wilson das Neves, Tom Jobim, Chico Buarque, Nelson Gonçalves, Zé Kéti, Cazuza e Angêla Rô Rô.

O universo de Henrique Cazes é o samba e o choro, e esse ambiente é o que prevalece na maioria dos casos, mas escolhi uma crônica que fala sobre rock para publicar aqui e dar uma idéia do livro. Segue abaixo:

ENTERRO DE GUITARRISTA (Extraído do livro "Suíte Gargalhadas - Cento e tantas histórias engraçadas sobre música e músicos", Editora José Olympio - Rio de Janeiro, 2002, pág. 75)

A morte de um guitarrista de rock brasiliense foi um trauma pra turma roqueira do planalto. No enterro a rapaziada compareceu em peso e, com seus trajes extravagantes, criava um contraste curioso com a família do rapaz, composta por sisudos funcionários federais.

Quando o caixão desceu, o pai do rapaz quis dizer alguma coisa mas sua emoção não deixou. Pediu então a um guitarrista amigo de seu filho que dissesse algumas palavras de despedida.

O guitarrista continuou de cabeça baixa, com os cabelos encobrindo o rosto, e foi logo dizendo:

- Pô, cara, esse lance de falar não é comigo. O meu lance é tocar...

Os outros membros da turma ali presentes deram o incentivo que faltava:

- Fala aí, você era o mais chegado a ele.

Diante da situação o guitarrista se aproximou da sepultura e respirou fundo, fitou o caixão e ficou pensando no que iria dizer. De repente, alisou a madeira de lei do caixão e saiu com essa:

- Pô, maneira a case do cara, aê.

Pra quem não está acostumado, case é como os músicos de rock e jazz chamam o estojo do instrumento.

quarta-feira, maio 30, 2012

Dolores O'riordan - No Baggage




Na postagem anterior sobre o disco Kisses On The Bottom de Paul McCartney, eu disse que não queria escrever sobre o disco a partir simplesmente da audição do mp3 (embora o tenha feito) e o que me fez pensar nisso foi o recém adquirido CD No Baggage da cantora Dolores O´riordan que embora lançado em 2009 só comprei esse ano, até então ouvia-o em mp3, embora não fique abordando aqui sobre a parte técnica das gravações, faz muita diferença a qualidade dos timbres e no caso desse disco, houve uma série de detalhes que só percebi ao ouvir o CD com a qualidade de áudio decente. Em resumo: mp3 quebra um galho, mas se quiser qualidade compre os discos! (nem precisava dizer, né?)

Para quem não sabe, Dolores O’riordan é a vocalista da banda irlandesa The Cranberries, esse foi o segundo disco solo (e último até então) lançado por ela. O curioso é que na época, final de 2009, a banda estava parada, sem previsão de volta e cerca de dois meses depois do lançamento do disco, eles anunciaram sua reunião e saíram em turnê pelo mundo, passando inclusive pelo Brasil e a minha Belo Horizonte (texto sobre o show aqui). Esse ano, eles lançaram Roses, o sétimo álbum da banda e seguem firme na estrada.

No Baggage não foge muito da linha do Cranberries, até porque Dolores sempre foi também a principal compositora da banda e assina sozinha praticamente todas as canções do álbum, as exceções são Be Careful e Fly Through feitas em parceria com Dan Brodbeck com quem também divide a produção do disco composto de rocks de colorido pop com refrões ganchudos e belas baladas que soam perfeitas na voz peculiar e encantadora de Dolores. No disco, ela toca apenas piano, se abstendo dos violões e guitarras que ela costuma gravar com o Cranberries, a banda que a acompanhou no CD é formada por Dan Brodbeck (guitarras), Dennis Demarchi (piano), Ger Farrel (bateria), Steve Demarchi (guitarra em Supid), Marco Mendonza (baixo em The Journey), Corey Thompson (bateria em Stupid e percussão em Throw Your Arms Around Me) e Matt Grady (digeridoo na faixa Throw Your Arms Around Me).

O disco abre com a pungente Switch Off The Moment que fala sobre perturbações mentais e de personalidade, temas sempre recorrentes nas composições de Dolores, e já dá a cara da sonoridade e arranjos do álbum, instrumentação enxuta e com detalhes sutis fazendo uma textura sob medida para a voz de Dolores. A propósito dos meus comentários no início da postagem, os belos graves presentes no disco foi uma coisa que só consegui perceber a partir da audição do CD. Skeleton segue a mesma linha da primeira faixa, rock com pegada vigorosa. A primeira balada surge na terceira faixa, It´s You, Dolores canta com suavidade e a letra me fez observar um elemento comum em várias de suas composições que é a repetição de uma mesma frase com pequenas variações melódicas ou simplesmente dinâmicas comum na música coral. Em The Journey ela puxa novamente para a mola-mestra que parece conduzir o disco, temas e sonoridades que sugerem uma viagem sem destino e sem bagagem por caminhos de paisagens naturais como nas fotos da capa e do encarte. Stupid é outra balada na qual Dolores explora muito bem a composição melódica e a interpretação vocal, mais um bom momento do disco. Dos rocks, a minha faixa predileta é Be Careful, aonde Dolores usa muito bem mais uma vez a repetição de frases, o que poderia ser visto talvez como falta de criatividade, acaba se revelando uma opção de estilo. Na letra, Dolores mostra um lado consciente (outros diriam conservador) que ela sempre teve desde os Cranberries ao falar de questões morais como as drogas, mas sem parecer ou querer ditar regras. Apple Of My Eye aparece na sequência voltando à tônica baladeira da compositora. Throw Your Arms Around Me tem uma sonoridade mais exótica com característica tribal extenuada com o uso do digeridoo (um instrumento de sopro originado dos aborígenes australianos) e da percussão. Fly Through, fala sobre o envelhecimento, mas de uma maneira otimista que me lembrou a canção Borrowed Time de John Lennon que também aborda o tema de uma maneira similar. Sem dúvidas a mais bela canção do álbum é Lunatic com uma melodia rica e um delicado piano fazendo acompanhamento à voz de Dolores. Tranquilizer, definitivamente tem cara de última faixa de um disco, parece programada para ser um encerramento ou um bis e deixa aquele clima: mudo o disco ou coloco para repetir? 

sexta-feira, maio 25, 2012

Paul McCartney - Kisses On The Bottom





Paul McCartney é ousado, anunciou o fim dos Beatles e lançou um disco gravado em casa de forma totalmente experimental por pura diversão num gravadorzinho de quatro canais. Paul McCartney é louco, depois do fim dos Wings, sua segunda banda com a qual também alcançou sucesso mundial se mantendo nos topos das paradas, gravou mais um disquinho experimental baseado em sintetizadores e música eletrônica que fugia de seu estilo característico. Isso para não falar das composições de aspirações eruditas como o Liverpool Oratorio, o poema sinfônico Standing Stone e a mais recente composição para ballet Ocean´s Kingdom. Agora ele aparece dando a cara para bater mais uma vez lançando um disco com releituras de clássicos do jazz e do pop americano que ouvia na sua infância. Paul McCartney adora se divertir, e isso é o que ele fez nesse disco que apesar da grande produção soa mais como um projeto despretensioso e prazeroso que um cara que já fez tudo o que ele fez na carreira pode se dar ao luxo (e direito) de fazer, a começar pelo trocadilho do título do álbum extraído da letra da música de abertura I'm Gonna Sit Right Down que ao mesmo tempo que quer dizer "beijos na parte de baixo" ou "beijos no final", no caso de uma carta, pode ser interpretado como "beijos na bunda". O álbum tem produção de David LiPuma que produziu entre outros, Miles Davis, George Benson, Marcus Miller, João Donato, Tom Jobim, João Gilberto e Diana Krall que toca no disco acompanhada de sua banda, além das participações do guitarrista John Pizzarelli e seu pai Bucky Pizzarelli (ex-guitarrista da banda de Frank Sinatra), Eric Clapton e Stevie Wonder e a London Symphony Orchestra.


  1. I'm Gonna Sit Right Down (Fred E. Ahlert/Joe Young)  - piano, guitarra e bateria fazem o riff completado com o baixo solo na introdução. Mas não se enganem, não é Paul quem toca o instrumento. Esse é o seu primeiro álbum apenas como cantor. Num primeiro momento a voz de Paul não me agradou muito no disco, gosto de cantores com uma voz um pouco mais grave nesse estilo, os meus prediletos quase óbvios são Tony Bennett e Frank Sinatra. Paul canta mais suave e com leve falsete no disco, fazendo uma linha mais Fred Astaire que ele cita como inspiração no álbum e é um dos seus primeiros ídolos de infância, inclusive já homenageado por Paul na canção You Gave Me The Answer.

  1. Home (When Shadows Fall) (Peter van Steeden/Jeff Clarkson/Harry Clarkson) - Destaque para a orquestração e guitarra elegante com seus arpégios dialogando com a orquestra e a voz de Paul.

  1. It's Only a Paper Moon (Harold Arlen/E. Y. Harburg/Billy Rose) - A mesma elegante guitarra com um belo timbre surge nessa canção com ritmo mais suingado que caiu muito bem na voz do Paul, um solo de violino passeia pela canção num jogo de pergunta-resposta com a voz e o assobio de Paul no meio da música.

  1. More I Cannot With You (Frank Loesser) - Uau! Que guitarra! Paul sussurra a letra com arranjo suave e minucioso apresentando orquestra de cordas mais uma vez.

  1. The Glory of Love (Billy Hill) - O contrabaixo introduz a canção e acompanha a voz de Paul com exclusividade durante quase todo o primeiro minuto da canção. Um solo sutil de guitarra no meio da canção.


  1. We Three (My Echo, My Shadow and Me) (Sammy Mysels/Dick Robertson/Nelson Cogane) - Sem dúvidas, o grande destaque instrumental fica mesmo por conta da guitarra que sempre aparece muito bem ao longo do disco, para contrabalançar Paul faz uma de suas melhores interpretações nessa faixa.

  1. Ac-Cent-Tchu-Ate the Positive (Arlen/Johnny Mercer)  - Gravada por Ella Fitzgerald, essa é outra canção mais suingadinha do álbum que são as que eu acho que soaram melhor na voz do Sir predileto da casa.

  1. My Valentine (Paul McCartney) - Composição inédita de Paul McCartney, assim como fez em Run Devil Run (outro álbum de releituras, mas enfocando o Rock'n'Roll dos anos 50) no qual além das releituras incluiu algumas canções inéditas de sua lavra seguindo o estilo das outras canções do disco . Quando o guitarrista de plantão se ausenta da banda, quem surge para executar um solo de violão de nylon é ninguém mais, ninguém menos que Eric Clapton.

  1. Always (Irving Berlin) - A sensação ao ouvir o disco pela primeira vez era que se tratava de uma apresentação ao vivo que ia aquecendo e melhorando com o decorrer. Embora gravado em estúdio e sem saber a ordem fiquei com essa sensação nas duas primeiras audições, desse ponto para frente o disco me parece soar melhor. Grande interpretação e outro belo solo de guitarra.

  1. My Very Good Friend the Milkman (Harold Spina/Johnny Burke) - Não bastasse cantar como ninguém e executar diversos instrumentos com extrema competência, Paul ainda tem mais essa qualidade: assobia muito bem! E esse é o destaque nessa canção junto com o solo de trompete.

  1. Bye, Bye, Blackbird (Ray Henderson/Mort Dixon) - Essa já foi registrada por outro beatle antes, Ringo Starr a gravou em Sentimental Journey, seu álbum de releituras de standards do jazz também. O piano aparece de maneira mais efetiva nessa canção.

  1. Get Yourself Another Fool (Haywood Henry/Tucker) - Engraçado, quando comecei a ouvir essa música que apresenta um solo de guitarra na introdução pensei: parece muito com o timbre e as frases de Clapton! E isso antes de saber quem em definitivo havia gravado o instrumento na faixa que inclusive já tem um pezinho mais no blues.

  1. The Inch Worn (Loesser) - Um violão de aço surge apresentando a canção de clima melancólico que remete mais à Inglaterra do que aos EUA, tanto que até parece uma composição de Paul.

  1. Only Our Hearts (McCartney)  - A outra inédita de Paul no disco (gostei mais até do que My Valentine) não destoa do restante do trabalho. Com participação especial de Stevie Wonder que faz um solo de gaita fecha bem o disco e dá vontade de colocá-lo para tocar mais uma vez.

Paul disse que o disco é para ser ouvido em casa depois de um dia de trabalho acompanhado de uma xícara de chá ou de uma taça de vinho. Se fosse comparar esse disco com uma garrafa de vinho não diria que ele é fruto de uma safra especial como um Ram 71, um Band On The Run 73 ou ainda um Flaming Pie 97, diria (como dizem os chatinhos) que ele é bastante honesto, bom para o dia-a-dia.

Em tempo: O disco Ram que apareceu aqui na minha lista de discos de 2011 acaba de ser relançado em edições especiais em vinil e cd. Sonho de besta: será que Paulie andou lendo o rockngeral?

Ainda: Não que esse blog tenha algum compromisso com tempo, mas escrevi sobre o disco na ocasião de seu lançamento em fevereiro, na verdade pouco antes dele sair mesmo, a partir de um mp3 vazado, a demora para postar aqui foi porque não queria comentá-lo simplesmente a partir da audição do som tosco do áudio mp3, mas como ainda não o adquiri resolvi publicar assim mesmo. Pelo menos ele não precisou esperar 40 anos como o Ram para ser comentado aqui. (Como se fizesse falta, rs).

terça-feira, maio 15, 2012

Cazuza - Só as mães são felizes



 
Li Cazuza - Só As Mães São Felizes (Ed. Globo) de Lucinha Araújo na época do seu lançamento em 1997 emprestado do meu amigo Eduardo Dornelas, o maior fã do Cazuza que eu conheço, acabei comprando e relendo-o ano retrasado. Apesar de considerado por sua mãe, Lucinha Araújo, como um relato de sua própria vida e de tudo que passou com o filho, especialmente o drama da AIDS ao qual Cazuza acabou sucumbindo, ele vale sim como uma biografia de Cazuza. Os depoimentos de Lucinha foram dados a jornalista e escritora, Regina Echeverria (autora de Furacão Elis, na minha lista de espera para ser lido e; Gonzagão e Gonzaguinha, uma história brasileira, que li já faz alguns anos e também gostei) que conseguiu dar uma boa forma ao livro e fazê-lo funcionar como um documento histórico. Lucinha Araújo assina o prefácio do livro e acaba sendo o centro dos primeiros três capítulos. Farto em fotos, mas sem descuidar do texto que embora espaçado e com letras grandes tem bom conteúdo.

Ainda que seja uma visão pessoal e passional não há o que se possa questionar no tocante à qualidade do trabalho de Cazuza, inclusive Lucinha Araújo é bastante honesta até quando fala das porra-louquices do filho. O livro dá uma boa repassada na carreira de Cazuza, desde o início com o Barão Vermelho que gerou três discos e uma série de grandes canções com o amigo e parceiro Roberto Frejat que inclusive se repetiu em vários momentos da carreira solo até seu último álbum Burguesia. Os capítulos finais tratam, como não podia ser diferente, do drama com a AIDS numa época em que a doença ainda era pouco conhecida e muito mais vítima de preconceito do que ainda é hoje.

Na última parte ele traz algumas dezenas de páginas com frases e pensamentos de Cazuza extraídos de entrevistas dele ao longo da carreira não tão longa assim, mas suficientemente intensa do autor da frase: “prefiro viver dez anos a mil do que mil anos a dez”.

Ah, para os que não sabem, o título desse blog é inspirado na letra da música Rock'n Geral de Cazuza composta em parceria com Frejat  e lançada por eles no primeiro disco do Barão Vermelho. 


segunda-feira, maio 07, 2012

Com vocês, o meu amigo: Baratta!!!



Ama Roberto Carlos sobre todas as coisas, beatlemaníaco, músico, acima de tudo rockeiro, não dispensa o bom e velho disco de vinil para ouvir seus artistas prediletos. Mal-humorado a ponto de tornar-se engraçado, principalmente quando começa a se autodepreciar, crítico, crítico, crítico e além de crítico, reclamão. Até aqui qualquer pessoa que me conheça pode pensar que falo de mim mesmo, mas não, esse é meu amigo Baratta, também conhecido por Sr. Madruga. Não sei se as coincidências param por aqui, mas das poucas diferenças que eu consigo lembrar, uma é que o cara fuma um bocado, enquanto eu já reservo meus excessos para uma boa bebidinha (estamos cogitando futuramente trocar o fígado dele por um pulmão meu) e outra é que ele não gosta de futebol. Trombamos-nos pela primeira vez por volta de 2006 no extinto Orkut  (ah, você ‘tá brincando que aquilo ainda não acabou) e de lá para cá são bate-papos quase diários falando de música, mulher, música, mulher, música, mulher e por aí vai...a quem possa achar a gente bitolado gostaria de dizer que também falamos de música e mulher e de vez em quando só de mulher. Brincadeiras à parte, tudo vira assunto quando a gente "se encontra" na internet, são prosas que costumavam adentrar a madrugada (hoje, como o velho aqui costuma ir para a cama mais cedo elas duram um pouco menos), quem acompanha o rockngeral sempre encontra seus comentários ao final de cada postagem no que acaba virando quase um chat paralelo nosso na falta de tempo e desencontro de horários atualmente (o cara vive em horário japonês como diz um amigo meu, janta depois da meia-noite e trabalha o dia inteiro). Encontros pessoais foram apenas dois bem rápidos, tive o prazer de receber sua presença quando fui tocar na sua São Paulo natal com o grupo teatral ZAP18 e depois ser recepcionado por ele no aeroporto de Guarulhos na ocasião do show do nosso amigo Paul McCartney em 2010. Extremamente gente fina, Baratta é o tipo de cara que só quer curtir sua vida numa boa, sem perigo de assustar ninguém, assim como aquele rockzinho antigo do Raul Seixas.
Acho que esta aí um pouco da personalidade de Mr. Baratta e dessa amizade já duradoura e desde o início eterna.

Ainda: Mr. Baratta possui dois blogs bem bacanas, um que fala de generalidades musicais e culturais como o rockngeral e outro exclusivo sobre o Rei Roberto Carlos, são eles:


Foto: Baratta e eu em Sampa no Espaço Cultural da Vila Maria Zélia, cada um trajando seu manto sagrado: ele com a camisa do Elvis e eu com a camisa do Cruzeiro Esporte Clube defendida por Fábio, maior time e goleiro do Brasil, respectivamente.




Maiores informações: http://balancazap.blogspot.com.br

domingo, abril 29, 2012

On The Run Tour: Paul McCartney - Estádio do Arruda, Recife/PE, 21 e 22/04/2012




Para falar desse momento mágico resolvi fazer algo inédito aqui, uma postagem em duas versões, então aí vai a primeira:

PRIMEIRA VERSÃO:

Inacreditável!


Pronto. É isso, eis a primeira versão, não precisa ler a segunda para saber como foram os shows. Eles foram inacreditáveis e pronto! Pode acessar o próximo blog, caro amigo leitor.
Ah, resolveu ler a segunda versão? Tudo bem, vamos lá, mas apesar de ser o maior texto já postado no rockngeral, essa versão não adiciona muito a primeira versão que é por sua vez o menor texto já postado aqui.

SEGUNDA VERSÃO:

Parte 1: 21/04/2012 (sábado) – O Primeiro Show


Obs: os parágrafos em itálico são detalhes da viagem e podem ser pulados sem  qualquer dano quanto aos detalhes do show.

Inacreditável! É a primeira palavra que vem à mente acompanhada de uma sonora exclamação quando penso nos dois shows de Paul McCartney que vi no Recife no último final de semana. Inacreditável pelo fato do músico vir pelo terceiro ano seguido ao Brasil, inacreditável por ver um show dele na região nordeste do país, região, aliás, que eu ainda não conhecia, inacreditável depois de (quase) achar que não veria o cara ao vivo estava ali para assistir ao meu quarto e quinto concertos dele, inacreditável pela força e enorme popularidade do artista capaz de lotar o Estádio do Arruda em Pernambuco, o Teatro Apollo no Harlem, o Olympia de Paris, assim como uma praça pública em Kiev e parar qualquer cidade onde ele chegue com sua comitiva para um show. Inacreditável a energia que ele consegue esbanjar ainda que o calor de Pernambuco e os vários dias passados na América Latina tenham parecido castigá-lo um pouco. 

Desembarquei no começo da tarde de sábado no Recife acompanhado do meu amigo André Guimarães (vulgo Geléia) para assistir ao primeiro show, enquanto aguardava a liberação do quarto do hotel fomos almoçar, não sem antes Mr. Geléia acidentalmente quase quebrar uma tela do Romero Brito que estava com vários quadros em exposição no hotel.  De início já experimentamos uma porção de carne de bode com fritas, típicos turistas conhecendo as iguarias gastronômicas locais, o que provavelmente mataria o vegetariano militante Sir Paul do coração. Perdão Paul, mas estava muito bom, assim como o filé aos quatro queijos, delicioso também o preço da cerveja por lá. Retorno ao hotel e depois de um breve descanso, partimos para o show com a super escolta de Adreson, amigo recifense do Geléia que foi lá cortesmente apenas para nos levar ao show. Na porta, Lalau, outro amigo de Recife, juntou-se a nós, inacreditavelmente gente fina esses caras, meus novos amigos e novos ex-amigos do Geléia (piada interna). 

Na entrada do estádio o movimento estava um pouco confuso, filas que não se sabiam onde começam nem acabavam, e ainda restava tirar os ingressos na bilheteria, nada que eu não esperava que fosse se resolver bem, como sempre, e assim foi. Resolvido o assunto, cerveja tomada, hora de entrar (não sem certo empurra-empurra, mas quando a causa é nobre a gente nem repara, o público divulgado girou em torno de 55 mil pessoas). Pronto. Dentro do estádio. Dessa vez achei o vídeo de introdução mais bacana que das outras três vezes que assisti, lembrando que o vídeo ainda é o mesmo da Up And Coming Tour. Paul abriu o show com Magical Mystery Tour, uma das três opções freqüentes nas últimas tours ao lado de Venus & Mars/Rockshow e Hello, Goodbye que ele guardou para o dia seguinte. Yeah! Lá estava ele novamente com seu velho baixo Hofner e seu terninho de “estilo beatle” mandando ver, a segunda música foi Junior´s Farm da fase Wings que eu sempre gostei, mas dado o tempo que ele não a tocava, desde o final dos anos 70, não esperava ouvir ao vivo até que ele começou a executá-la nos shows da On The Run Tour. Rockaço! Obrigado, Paul! Com seu “Oi Recife, boa noite, pernambucanos” num português que se continuarem assim as vindas ao Brasil daqui a pouco estará fluente ele cumprimentou a platéia. A segunda canção-beatle da noite foi All My Loving que já remete àquele clima saudosista dos anos 60, especialmente para a turma que pôde viver essa época abençoada. Jet, outra dos Wings garantiu o clima rockeirão do show e desembocou na super empolgante Got Get Into My Life dos FabFour. Depois Sing The Changes do projeto Fireman, que eu acho que soa muito melhor ao vivo do que no disco, aliás, Rock´n´Roll que se preza sempre soa melhor ao vivo e o cara não esta aí para brincadeira. Outra canção esperada por mim era The Night Before, um “quase um lado B” dos Beatles porque acho meio impossível dizer que se possa existir um lado B desses caras (penso que no caso deles só dá para considerar lado B mesmo os outtakes), a música presente no filme Help! também fez parte da sua trilha sonora, foi a primeira vez que Paul a tocou no Brasil, sendo ainda a primeira vez que ele a toca numa turnê. Para não perder o pique, Let Me Roll It e Paperback Writer, ambas tocadas na guitarra, respectivamente uma Gibson Les Paul e a Epiphone Casino original usada na gravação da faixa. Paul se dirigiu ao piano pela primeira vez para tocar The Long And Winding Road, Nineteen Hundred And Eigthy Five (que ele sempre dedica aos fãs dos Wings embora toque quase uma dezena de temas dessa fase no show), a nova My Valentine dedicada à sua belíssima esposa Nancy em suas próprias palavras e Maybe I’m Amazed que ele dedicou para Linda, sua primeira esposa e musa da canção. Com seu violão Martin em punho Paul tocou Things We Said Today que eu ainda não tinha ouvido ao vivo emendando com And I Love Her. Sozinho no palco ele mandou Blackbird quando uma grande lua cheia surge no telão criando um belo efeito visual. Here Today feita em homenagem ao seu parceiro mais famoso pareceu mais uma vez emocionar Paul que fez uma pausa no meio da canção (por um lado também devido às palmas da platéia que sempre atravessa o tempo quando o tenta acompanhar nessa canção já que ele a toca num andamento livre). Servido do bandolim tocou Dance Tonight, canção do disco Ever Presente Past de 2007 que vem se mantendo desde então no repertório dos shows e que tem um acompanhamento coreográfico do baterista Abe Laboriel que dança durante sua primeira parte tornando hilária a apresentação da música. A banda atual que completa dez anos de formação é constituída por Rusty Anderson (guitarra e violão), Brian Ray (guitarra, baixo e violão) e Paul “Wix” Wickens (teclados e violão), este já está há mais de vinte anos atuando ao lado de McCartney, além da competência instrumental, todos cantam muito bem, o que resulta numa ótima soma aos vocais de Paul ainda em forma aos 69 anos. Mrs. Vanderbilt que também tem se mantido no repertório foi a próxima e então Paul relembrou a eterna Eleanor Rigby para em seguida homenagear George Harrison tocando Something que ele começa sozinho se acompanhando com o ukelele Gibson presenteado pelo amigo, um dos momentos mais comoventes do show, especialmente quando o telão começa a passar imagens deles em estúdio. De improviso a banda tocou o refrão e o primeiro verso de Yellow Submarine, acredito que por manifestações da platéia que costuma gritar o nome de Ringo depois das homenagens aos outros dois parceiros de banda. O clima rockeiro voltou com Band On The Run e Ob-la-di, Ob-la-da que funciona muito bem ao vivo e levantou a multidão mais uma vez. Paul sempre encaixa uma música mais agitada/alegre após cada uma das homenagens, pois ele parece realmente ficar emocionado nesses momentos e usa uma canção mais “neutra” para quebrar o clima depois. Numa sequência alucinante, Paul tocou Back In The USSR, I´ve Got A Feeling e A Day In The Life que emenda com Give Peace A Chance da carreira solo de John Lennon e ao piano fez Let It Be, Live And Let Die com seus fogos de artifício e explosões no palco que sempre impressionam o público e encerrou com Hey Jude. Shows do Paul nunca acabam sem bis e ele retornou para tocar Lady Madonna, Day Tripper e Get Back. Shows do Paul nunca acabam sem ele tocar Yesterday  e ele voltou para tocá-la como primeira música do segundo bis que se seguiu com Helter Skelter (eu ainda quero entender como ele consegue cantar essa música depois de mais de duas horas e meia de show, inacreditável) e não pode haver final mais perfeito para um show dele do que a suíte curta formada pelas músicas Golden Slumbers/Carry The Weight/The End.

Cansou de ler? Imagine o cara tocando isso tudo então, caso o amigo leitor queira fazer uma pausa para uma agüinha pode ir lá que vou emendar o segundo show nessa mesma postagem (meu caro Baratta pode aproveitar para pitar seu cigarro e tomar um cafezinho).

Parte 2: 22/04/2012 (domingo) – O Segundo Show


No final do primeiro show Paul disse: "não vamos dizer tchau, vamos dizer até a próxima”, para mim esse “até a próxima” já era o dia seguinte.

Se comer carne de bode poderia decepcionar o nosso querido Paul, tenho certeza que ele ficaria orgulhoso da pizza vegetariana que Geléia e eu comemos após o primeiro show...quer dizer, na verdade não era bem vegetariana, pedimos uma pizza de frango, mas ela veio sem o frango (!?), não fica difícil entender porque a pizzaria ao lado do Arrudão estava razoavelmente vazia enquanto uma multidão que deixava o estádio poderia ter parado ali para fazer uma boquinha antes de ir embora.

O segundo dia começou com café da manhã reforçado e F1 seguido de uma cervejinha na beira da piscina do hotel, mais ou menos o que poderíamos chamar ”picaretamente” de "trabalho de recuperação" preparando para a segunda noite de show. A convite do Adreson e do Lalau fomos almoçar no restaurante Bode do Nô e experimentar a picanha de bode, me agradou, mais gostei mesmo foi da fava e do queijo manteiga com melaço (sou um queijolátra confesso), depois fomos comer um camarão (outra paixão) e assistir ao jogo Náutico X Sport, e aí começou meu show de bolas-foras, resolvi torcer pro Náutico e nem o pênalti defendido pelo goleiro Gideão salvou o alvirrubro da derrota por 2 a 1, fui torcer pro Santa Cruz e ele perdeu por 2 a 1 para o Salgueiro, Flamengo também perdeu para o Vasco pelo mesmíssimo placar, nem o meu Cruzeiro se salvou perdendo de 3 a 2 para o América-MG pela semifinal do campeonato mineiro. Pelo menos o camarão estava ótimo. De volta ao hotel, Adreson e Lalau levaram dois violões e fizemos uma jam com os nobres anfitriões relembrando os bons tempos dos Engenheiros do Hawaii (a unanimidade entre os quatro) com direito entre outras canções a Comfortably Numb do Pink Floyd e uma bela canção própria do Lalau (grava isso aí, bicho!). E lá fomos nós para o Arrudão novamente escoltados pelos parceiros recifenses.

O segundo show foi dia de pista premium, eu gosto mais do clima da pista comum, mas para ver o show não há dúvida do quanto a premium é melhor, ver o palco por inteiro, os caras ali na frente, os detalhes da iluminação (vários que eu não tinha percebido no dia anterior) e mesmo o som que é excelente no estádio inteiro ainda estava bem melhor ali, tive que mudar de lugar num determinado momento por causa do impacto dos graves das caixas de som explodindo no meu peito (imagine que era principalmente do baixo do Paul. Phoda!). Paul abriu a segunda noite com a opção mais provável: Hello, Goodbye no lugar de Magical Mystery Tour e variou mais três canções em relação à primeira noite, Got To Get Into My Life deu lugar a Drive My Car, I’ve Just Seen A Face entrou no lugar de Things We Said Today e um bônus para mim foi ouvir I Saw Her Standing In  There ao vivo de novo após o segundo show no Rio de Janeiro ano passado, música que ele não tem tocado com frequência nos últimos tempos e que ele acabou trocando no bis por Helter Skelter, provavelmente para poupar um pouco a voz. Eu já tinha achado Sir Paulie meio cansado na noite anterior, apesar de toda a vitalidade do velho Macca e da banda que literalmente desceu a lenha na segunda noite, deve ter pesado o calor que fazia no Recife e os vários dias em que ele já estava na América Latina, em alguns momentos sua voz falhou um pouquinho, não sei se isso foi perceptível para todo o público e lembro-me de ouvir um erro na linha de baixo em uma canção, nada que desabonasse a performance geral, mais uma vez completamente acima da média, o cara faz o maior show de rock do planeta indubitavelmente. Às falas em português ele acrescentou um "Salve a terra de Luiz Gonzaga!" que deixou a platéia atônita de emoção e o aplaudiu intensamente, mais do que pernambucano, Luiz Gonzaga é um patrimônio nacional que deixou o mineiro aqui super orgulhoso também, o povo pernambucano ainda pode se orgulhar da bandeira de Pernambuco que Paul agitou no palco ao final de cada show, não me recordo dele fazer isso com bandeiras de um estado antes, normalmente ele agita a bandeira do país em que está se apresentando, enquanto o tecladista Wix traz a bandeira inglesa, a bandeira brasileira ausente na primeira noite foi carregada pelo guitarrista Rusty na segunda apresentação, no primeiro dia o baterista apareceu no palco com uma bandeira de pirata (fato que eu achei muito engraçado). Paul não precisava fazer nada disso, não precisava se esforçar em falar um pouco do idioma local como ele faz em cada país que visita, aprender frases e gírias típicas de cada região, mas ele faz questão de dar esse mimo aos seus fãs e aos boçais que o criticam eu pergunto: qual é o problema?  Mais uma promessa de "até a próxima" no fim do show e outra vez a sensação de alma lavada e dever cumprido. Valeu Paul, valeu Recife! E que venha o Mineirão em 2013!

Mesmo ainda durante o show eu pensava: “não acredito que estou em Pernambuco vendo esse cara!” Mas estava. Inacreditável, né? Mas acreditem em mim: esses shows foram realmente inacreditáveis!



Fotos: 1 internet (não consegui identificar o autor). 2 e 3 internet (Marcos Hermes). 4 Da esquerda para a direita no alto: Paul ao piano (22/04); Lalau, Geléia, eu e Adreson nos arredores do Arrudão; os passaportes da alegria; close na mão e na Gibson 335 de Rusty (22/04); no meio: eu prestando um tributo ao Geléia e suas fotos com cerveja; as iguarias locais apreciadas durante a estadia; público do dia 21/04 no Arruda, Paul novamente ao piano; embaixo: paisagem do Recife e o pôster do show.

Dando crédito a quem tem: a idéia dos parágrafos "paralelos" em itálico veio do livro Como Dois e Dois São Cinco - roberto carlos (& erasmo & wanderléa) de Pedro Alexandre Sanches, aliás, já devia ter postado sobre este livro há muito, uma hora ele pinta por aqui .