quarta-feira, maio 30, 2012

Dolores O'riordan - No Baggage




Na postagem anterior sobre o disco Kisses On The Bottom de Paul McCartney, eu disse que não queria escrever sobre o disco a partir simplesmente da audição do mp3 (embora o tenha feito) e o que me fez pensar nisso foi o recém adquirido CD No Baggage da cantora Dolores O´riordan que embora lançado em 2009 só comprei esse ano, até então ouvia-o em mp3, embora não fique abordando aqui sobre a parte técnica das gravações, faz muita diferença a qualidade dos timbres e no caso desse disco, houve uma série de detalhes que só percebi ao ouvir o CD com a qualidade de áudio decente. Em resumo: mp3 quebra um galho, mas se quiser qualidade compre os discos! (nem precisava dizer, né?)

Para quem não sabe, Dolores O’riordan é a vocalista da banda irlandesa The Cranberries, esse foi o segundo disco solo (e último até então) lançado por ela. O curioso é que na época, final de 2009, a banda estava parada, sem previsão de volta e cerca de dois meses depois do lançamento do disco, eles anunciaram sua reunião e saíram em turnê pelo mundo, passando inclusive pelo Brasil e a minha Belo Horizonte (texto sobre o show aqui). Esse ano, eles lançaram Roses, o sétimo álbum da banda e seguem firme na estrada.

No Baggage não foge muito da linha do Cranberries, até porque Dolores sempre foi também a principal compositora da banda e assina sozinha praticamente todas as canções do álbum, as exceções são Be Careful e Fly Through feitas em parceria com Dan Brodbeck com quem também divide a produção do disco composto de rocks de colorido pop com refrões ganchudos e belas baladas que soam perfeitas na voz peculiar e encantadora de Dolores. No disco, ela toca apenas piano, se abstendo dos violões e guitarras que ela costuma gravar com o Cranberries, a banda que a acompanhou no CD é formada por Dan Brodbeck (guitarras), Dennis Demarchi (piano), Ger Farrel (bateria), Steve Demarchi (guitarra em Supid), Marco Mendonza (baixo em The Journey), Corey Thompson (bateria em Stupid e percussão em Throw Your Arms Around Me) e Matt Grady (digeridoo na faixa Throw Your Arms Around Me).

O disco abre com a pungente Switch Off The Moment que fala sobre perturbações mentais e de personalidade, temas sempre recorrentes nas composições de Dolores, e já dá a cara da sonoridade e arranjos do álbum, instrumentação enxuta e com detalhes sutis fazendo uma textura sob medida para a voz de Dolores. A propósito dos meus comentários no início da postagem, os belos graves presentes no disco foi uma coisa que só consegui perceber a partir da audição do CD. Skeleton segue a mesma linha da primeira faixa, rock com pegada vigorosa. A primeira balada surge na terceira faixa, It´s You, Dolores canta com suavidade e a letra me fez observar um elemento comum em várias de suas composições que é a repetição de uma mesma frase com pequenas variações melódicas ou simplesmente dinâmicas comum na música coral. Em The Journey ela puxa novamente para a mola-mestra que parece conduzir o disco, temas e sonoridades que sugerem uma viagem sem destino e sem bagagem por caminhos de paisagens naturais como nas fotos da capa e do encarte. Stupid é outra balada na qual Dolores explora muito bem a composição melódica e a interpretação vocal, mais um bom momento do disco. Dos rocks, a minha faixa predileta é Be Careful, aonde Dolores usa muito bem mais uma vez a repetição de frases, o que poderia ser visto talvez como falta de criatividade, acaba se revelando uma opção de estilo. Na letra, Dolores mostra um lado consciente (outros diriam conservador) que ela sempre teve desde os Cranberries ao falar de questões morais como as drogas, mas sem parecer ou querer ditar regras. Apple Of My Eye aparece na sequência voltando à tônica baladeira da compositora. Throw Your Arms Around Me tem uma sonoridade mais exótica com característica tribal extenuada com o uso do digeridoo (um instrumento de sopro originado dos aborígenes australianos) e da percussão. Fly Through, fala sobre o envelhecimento, mas de uma maneira otimista que me lembrou a canção Borrowed Time de John Lennon que também aborda o tema de uma maneira similar. Sem dúvidas a mais bela canção do álbum é Lunatic com uma melodia rica e um delicado piano fazendo acompanhamento à voz de Dolores. Tranquilizer, definitivamente tem cara de última faixa de um disco, parece programada para ser um encerramento ou um bis e deixa aquele clima: mudo o disco ou coloco para repetir? 

sexta-feira, maio 25, 2012

Paul McCartney - Kisses On The Bottom





Paul McCartney é ousado, anunciou o fim dos Beatles e lançou um disco gravado em casa de forma totalmente experimental por pura diversão num gravadorzinho de quatro canais. Paul McCartney é louco, depois do fim dos Wings, sua segunda banda com a qual também alcançou sucesso mundial se mantendo nos topos das paradas, gravou mais um disquinho experimental baseado em sintetizadores e música eletrônica que fugia de seu estilo característico. Isso para não falar das composições de aspirações eruditas como o Liverpool Oratorio, o poema sinfônico Standing Stone e a mais recente composição para ballet Ocean´s Kingdom. Agora ele aparece dando a cara para bater mais uma vez lançando um disco com releituras de clássicos do jazz e do pop americano que ouvia na sua infância. Paul McCartney adora se divertir, e isso é o que ele fez nesse disco que apesar da grande produção soa mais como um projeto despretensioso e prazeroso que um cara que já fez tudo o que ele fez na carreira pode se dar ao luxo (e direito) de fazer, a começar pelo trocadilho do título do álbum extraído da letra da música de abertura I'm Gonna Sit Right Down que ao mesmo tempo que quer dizer "beijos na parte de baixo" ou "beijos no final", no caso de uma carta, pode ser interpretado como "beijos na bunda". O álbum tem produção de David LiPuma que produziu entre outros, Miles Davis, George Benson, Marcus Miller, João Donato, Tom Jobim, João Gilberto e Diana Krall que toca no disco acompanhada de sua banda, além das participações do guitarrista John Pizzarelli e seu pai Bucky Pizzarelli (ex-guitarrista da banda de Frank Sinatra), Eric Clapton e Stevie Wonder e a London Symphony Orchestra.


  1. I'm Gonna Sit Right Down (Fred E. Ahlert/Joe Young)  - piano, guitarra e bateria fazem o riff completado com o baixo solo na introdução. Mas não se enganem, não é Paul quem toca o instrumento. Esse é o seu primeiro álbum apenas como cantor. Num primeiro momento a voz de Paul não me agradou muito no disco, gosto de cantores com uma voz um pouco mais grave nesse estilo, os meus prediletos quase óbvios são Tony Bennett e Frank Sinatra. Paul canta mais suave e com leve falsete no disco, fazendo uma linha mais Fred Astaire que ele cita como inspiração no álbum e é um dos seus primeiros ídolos de infância, inclusive já homenageado por Paul na canção You Gave Me The Answer.

  1. Home (When Shadows Fall) (Peter van Steeden/Jeff Clarkson/Harry Clarkson) - Destaque para a orquestração e guitarra elegante com seus arpégios dialogando com a orquestra e a voz de Paul.

  1. It's Only a Paper Moon (Harold Arlen/E. Y. Harburg/Billy Rose) - A mesma elegante guitarra com um belo timbre surge nessa canção com ritmo mais suingado que caiu muito bem na voz do Paul, um solo de violino passeia pela canção num jogo de pergunta-resposta com a voz e o assobio de Paul no meio da música.

  1. More I Cannot With You (Frank Loesser) - Uau! Que guitarra! Paul sussurra a letra com arranjo suave e minucioso apresentando orquestra de cordas mais uma vez.

  1. The Glory of Love (Billy Hill) - O contrabaixo introduz a canção e acompanha a voz de Paul com exclusividade durante quase todo o primeiro minuto da canção. Um solo sutil de guitarra no meio da canção.


  1. We Three (My Echo, My Shadow and Me) (Sammy Mysels/Dick Robertson/Nelson Cogane) - Sem dúvidas, o grande destaque instrumental fica mesmo por conta da guitarra que sempre aparece muito bem ao longo do disco, para contrabalançar Paul faz uma de suas melhores interpretações nessa faixa.

  1. Ac-Cent-Tchu-Ate the Positive (Arlen/Johnny Mercer)  - Gravada por Ella Fitzgerald, essa é outra canção mais suingadinha do álbum que são as que eu acho que soaram melhor na voz do Sir predileto da casa.

  1. My Valentine (Paul McCartney) - Composição inédita de Paul McCartney, assim como fez em Run Devil Run (outro álbum de releituras, mas enfocando o Rock'n'Roll dos anos 50) no qual além das releituras incluiu algumas canções inéditas de sua lavra seguindo o estilo das outras canções do disco . Quando o guitarrista de plantão se ausenta da banda, quem surge para executar um solo de violão de nylon é ninguém mais, ninguém menos que Eric Clapton.

  1. Always (Irving Berlin) - A sensação ao ouvir o disco pela primeira vez era que se tratava de uma apresentação ao vivo que ia aquecendo e melhorando com o decorrer. Embora gravado em estúdio e sem saber a ordem fiquei com essa sensação nas duas primeiras audições, desse ponto para frente o disco me parece soar melhor. Grande interpretação e outro belo solo de guitarra.

  1. My Very Good Friend the Milkman (Harold Spina/Johnny Burke) - Não bastasse cantar como ninguém e executar diversos instrumentos com extrema competência, Paul ainda tem mais essa qualidade: assobia muito bem! E esse é o destaque nessa canção junto com o solo de trompete.

  1. Bye, Bye, Blackbird (Ray Henderson/Mort Dixon) - Essa já foi registrada por outro beatle antes, Ringo Starr a gravou em Sentimental Journey, seu álbum de releituras de standards do jazz também. O piano aparece de maneira mais efetiva nessa canção.

  1. Get Yourself Another Fool (Haywood Henry/Tucker) - Engraçado, quando comecei a ouvir essa música que apresenta um solo de guitarra na introdução pensei: parece muito com o timbre e as frases de Clapton! E isso antes de saber quem em definitivo havia gravado o instrumento na faixa que inclusive já tem um pezinho mais no blues.

  1. The Inch Worn (Loesser) - Um violão de aço surge apresentando a canção de clima melancólico que remete mais à Inglaterra do que aos EUA, tanto que até parece uma composição de Paul.

  1. Only Our Hearts (McCartney)  - A outra inédita de Paul no disco (gostei mais até do que My Valentine) não destoa do restante do trabalho. Com participação especial de Stevie Wonder que faz um solo de gaita fecha bem o disco e dá vontade de colocá-lo para tocar mais uma vez.

Paul disse que o disco é para ser ouvido em casa depois de um dia de trabalho acompanhado de uma xícara de chá ou de uma taça de vinho. Se fosse comparar esse disco com uma garrafa de vinho não diria que ele é fruto de uma safra especial como um Ram 71, um Band On The Run 73 ou ainda um Flaming Pie 97, diria (como dizem os chatinhos) que ele é bastante honesto, bom para o dia-a-dia.

Em tempo: O disco Ram que apareceu aqui na minha lista de discos de 2011 acaba de ser relançado em edições especiais em vinil e cd. Sonho de besta: será que Paulie andou lendo o rockngeral?

Ainda: Não que esse blog tenha algum compromisso com tempo, mas escrevi sobre o disco na ocasião de seu lançamento em fevereiro, na verdade pouco antes dele sair mesmo, a partir de um mp3 vazado, a demora para postar aqui foi porque não queria comentá-lo simplesmente a partir da audição do som tosco do áudio mp3, mas como ainda não o adquiri resolvi publicar assim mesmo. Pelo menos ele não precisou esperar 40 anos como o Ram para ser comentado aqui. (Como se fizesse falta, rs).

terça-feira, maio 15, 2012

Cazuza - Só as mães são felizes



 
Li Cazuza - Só As Mães São Felizes (Ed. Globo) de Lucinha Araújo na época do seu lançamento em 1997 emprestado do meu amigo Eduardo Dornelas, o maior fã do Cazuza que eu conheço, acabei comprando e relendo-o ano retrasado. Apesar de considerado por sua mãe, Lucinha Araújo, como um relato de sua própria vida e de tudo que passou com o filho, especialmente o drama da AIDS ao qual Cazuza acabou sucumbindo, ele vale sim como uma biografia de Cazuza. Os depoimentos de Lucinha foram dados a jornalista e escritora, Regina Echeverria (autora de Furacão Elis, na minha lista de espera para ser lido e; Gonzagão e Gonzaguinha, uma história brasileira, que li já faz alguns anos e também gostei) que conseguiu dar uma boa forma ao livro e fazê-lo funcionar como um documento histórico. Lucinha Araújo assina o prefácio do livro e acaba sendo o centro dos primeiros três capítulos. Farto em fotos, mas sem descuidar do texto que embora espaçado e com letras grandes tem bom conteúdo.

Ainda que seja uma visão pessoal e passional não há o que se possa questionar no tocante à qualidade do trabalho de Cazuza, inclusive Lucinha Araújo é bastante honesta até quando fala das porra-louquices do filho. O livro dá uma boa repassada na carreira de Cazuza, desde o início com o Barão Vermelho que gerou três discos e uma série de grandes canções com o amigo e parceiro Roberto Frejat que inclusive se repetiu em vários momentos da carreira solo até seu último álbum Burguesia. Os capítulos finais tratam, como não podia ser diferente, do drama com a AIDS numa época em que a doença ainda era pouco conhecida e muito mais vítima de preconceito do que ainda é hoje.

Na última parte ele traz algumas dezenas de páginas com frases e pensamentos de Cazuza extraídos de entrevistas dele ao longo da carreira não tão longa assim, mas suficientemente intensa do autor da frase: “prefiro viver dez anos a mil do que mil anos a dez”.

Ah, para os que não sabem, o título desse blog é inspirado na letra da música Rock'n Geral de Cazuza composta em parceria com Frejat  e lançada por eles no primeiro disco do Barão Vermelho. 


segunda-feira, maio 07, 2012

Com vocês, o meu amigo: Baratta!!!



Ama Roberto Carlos sobre todas as coisas, beatlemaníaco, músico, acima de tudo rockeiro, não dispensa o bom e velho disco de vinil para ouvir seus artistas prediletos. Mal-humorado a ponto de tornar-se engraçado, principalmente quando começa a se autodepreciar, crítico, crítico, crítico e além de crítico, reclamão. Até aqui qualquer pessoa que me conheça pode pensar que falo de mim mesmo, mas não, esse é meu amigo Baratta, também conhecido por Sr. Madruga. Não sei se as coincidências param por aqui, mas das poucas diferenças que eu consigo lembrar, uma é que o cara fuma um bocado, enquanto eu já reservo meus excessos para uma boa bebidinha (estamos cogitando futuramente trocar o fígado dele por um pulmão meu) e outra é que ele não gosta de futebol. Trombamos-nos pela primeira vez por volta de 2006 no extinto Orkut  (ah, você ‘tá brincando que aquilo ainda não acabou) e de lá para cá são bate-papos quase diários falando de música, mulher, música, mulher, música, mulher e por aí vai...a quem possa achar a gente bitolado gostaria de dizer que também falamos de música e mulher e de vez em quando só de mulher. Brincadeiras à parte, tudo vira assunto quando a gente "se encontra" na internet, são prosas que costumavam adentrar a madrugada (hoje, como o velho aqui costuma ir para a cama mais cedo elas duram um pouco menos), quem acompanha o rockngeral sempre encontra seus comentários ao final de cada postagem no que acaba virando quase um chat paralelo nosso na falta de tempo e desencontro de horários atualmente (o cara vive em horário japonês como diz um amigo meu, janta depois da meia-noite e trabalha o dia inteiro). Encontros pessoais foram apenas dois bem rápidos, tive o prazer de receber sua presença quando fui tocar na sua São Paulo natal com o grupo teatral ZAP18 e depois ser recepcionado por ele no aeroporto de Guarulhos na ocasião do show do nosso amigo Paul McCartney em 2010. Extremamente gente fina, Baratta é o tipo de cara que só quer curtir sua vida numa boa, sem perigo de assustar ninguém, assim como aquele rockzinho antigo do Raul Seixas.
Acho que esta aí um pouco da personalidade de Mr. Baratta e dessa amizade já duradoura e desde o início eterna.

Ainda: Mr. Baratta possui dois blogs bem bacanas, um que fala de generalidades musicais e culturais como o rockngeral e outro exclusivo sobre o Rei Roberto Carlos, são eles:


Foto: Baratta e eu em Sampa no Espaço Cultural da Vila Maria Zélia, cada um trajando seu manto sagrado: ele com a camisa do Elvis e eu com a camisa do Cruzeiro Esporte Clube defendida por Fábio, maior time e goleiro do Brasil, respectivamente.




Maiores informações: http://balancazap.blogspot.com.br