A banda mais nova entre aquelas que eu me declararia fã, e olha que eles começaram a mais de quinze anos atrás, o que denuncia meu gosto por bandas (e coisas em geral) mais antigas, os Cranberries, surgiram na cidade de Limerick na Irlanda. Tudo começou em 1989 quando os irmãos Noel Hogan (contrabaixo) e Mike Hogan (guitarra) encontraram com o baterista Feargal Lawler, a banda então foi batizada com o nome de The Cranberry Saw Us, que fazia um trocadilho com a palavra sauce (molho em inglês) vale lembrar ainda que cranberry é uma fruta típica da Irlanda (me recordo então de “encher o saco” da minha professora de inglês querendo uma tradução para a palavra, e não havia, até pelo fato da fruta ser rara e não encontrada no Brasil), e a expressão ainda era uma citação a John Lennon, que fala “cranberry sauce” na música “Strawberry Fields Forever” presente no disco “Magical Mistery Tour” dos Beatles.
Entre vários vocalistas que fizeram testes com a banda depois da saída do vocalista Niall, surgiu uma garota de nome Dolores O´riordan que fora indicada por ele mesmo,
Dolores era amiga da namorada de Niall e acabou assumindo o posto, segunda ela, “os caras da banda esperavam chegar uma garota de mini-saia e costumavam levar todos os amigos para o ensaio e eis que surge ela de terninho e com um teclado debaixo do braço”. Além de uma bela voz extremamente marcante, Dolores também compunha, e dos primeiros contatos acabaram surgindo canções em parceria com o guitarrista Mike, sendo que Dolores era a responsável por todas as letras e participava também das melodias, e no fim ela se tornaria a autora da maior parte do repertório da banda.
Já com o nome mudado para The Cranberries eles gravaram em 1990 uma fita demonstrativa que rendeu um contrato com a gravadora Island e no ano seguinte eles lançaram o EP “Uncertain” que não teve muita repercussão, na seqüência saiu o single “Dreams” de 1992, mas o estouro mesmo veio com o single seguinte “Linger” de 1993 que até hoje é considerado o maior sucesso da banda, e abriu as portas para o primeiro disco, com o extenso nome: “Everyone Is Doing It, So Why Can’t We?” lançado no mesmo ano e que incluía os dois singles, destacam-se ainda “Sunday”, “Wanted”, “Pretty” a produção foi de Stephen Street, que havia trabalhado com os Smiths.
No ano seguinte também sob a tutela de Street eles lançaram o disco que consagrou a banda “No Need To Argue” entre os hits: “Zombie”, “Twenty One”, “Ridiculous Thoughts”, “Dreaming My Dreams”, e “Ode to My Family” (que me remete à primeira vez que ouvi a voz de Dolores, deitado no sofá num fim de tarde com o rádio ligado, aquela voz adentrou meus ouvidos e nunca mais saiu, tempos depois compus uma canção em sua homenagem, talvez um dia Dolores e a humanidade a conheçam...).
O disco “To The Faithful Departed” lançado em 1996, fecha uma trilogia de capas (esses três discos trazem a banda em fotos similares sendo que nós dois primeiros eles aparecem sentados em um mesmo sofá, no terceiro não há o sofá, mas o estilo permanece) e foi produzido pela banda juntamente com Bruce Fairbain (que havia trabalhado com as bandas de hard rock, Aerosmith e Bon Jovi), o disco tem uma sonoridade com guitarras mais à frente e mais distorcidas, porém permanecem as sutilezas dos arranjos, sejam dos instrumentos tocados pela banda ou pelas partes orquestradas, dessa vez feitas pelo maestro roqueiro Michael Kamen (até então essas partes tinha ficado a cargo de Dolores que também gravava teclados, violões e guitarras, sendo até mesmo a responsável por alguns solos). Nas letras, predominam a morte como tema, cabendo homenagens a vários mortos, John Lennon (I Just Shot John Lennon), Kurt Cobain (I´m Still Remembering) e Joe (dedicada por Dolores ao seu avô). Sendo quase sempre uma prova de fogo para qualquer banda que vem de dois primeiros discos de sucesso, esse terceiro disco definitivamente afirmou o lugar da banda na história do rock, sendo a segunda banda mais expressiva da Irlanda, que tem sua marca maior no U2 (que por acaso nunca gostei, com exceção de uma ou outra canção). Hits do disco: “Salvation”, “When You´re Gone”, “Free To Decide”, com destaque ainda para os belos “lados B´s” (se é que a expressão ainda faz sentido na ausência do vinil), “War Child”, “Will You Remember?” e “Forever Yellow Skies”.
Em 1999 lançaram o álbum “Bury The Hatchet”, aonde a banda também divide a produção do disco, desta vez com Benedict Fenner, destacam-se as músicas “Animal Instinct”, “Promisses”, “You And Me”, “Just My Imagination”, “Delilah”, “Dying In The Sun”, que mantiveram o prestígio da banda.
O último de inéditas foi “Wake Up and Smell The Coffee” de 2001, quando voltaram então a trabalhar com o produtor Stephen Street, o disco não teve a mesma repercussão dos anteriores, mas garantiu os hits: “Analyse” e “Time Is Ticking Out”, na minha opinião, o grande momento mesmo foi a faixa bônus “In The Ghetto”, uma regravação da canção do compositor Mac Davis que foi grande sucesso na voz de Elvis Presley.
A coletânea “Stars” de 2002 contendo as inéditas “Stars”, “This Is The Day”, “New New York”,parece fechar uma segunda trilogia de capas, agora em locais abertos e tendo o céu de mesma tonalidade azul ao fundo, este disco iniciou uma pausa nas atividades da banda, ainda não definida como temporária ou definitiva, apesar de que tudo aponte para a segunda opção. Noel está há algum tempo com um projeto tido até então como paralelo chamado Mono Band, Dolores vem trabalhando em um disco solo; e mais recentemente apareceu no filme “Click” cantando a já eterna e clássica “Linger”.
A banda conseguiu nesse período produzir uma obra consistente e que deve permanecer, os integrantes nunca foram virtuoses em seus instrumentos, com um destaque maior apenas para o baterista Feargal, mas como estamos falando de rock e música popular isso não é o principal, e sim a alma, a musicalidade impressa nas canções, e isso eles tiveram de sobra...
Post dedicado para Natália (que sugeriu a banda aqui), Priscila e Caio.
Para biografia e discografia completas acesse:www.cranberries.ie