domingo, fevereiro 07, 2010

It´s Not My Imagination - The Cranberries em Belo Horizonte 31 de janeiro de 2010



It´s not my imagination (isso não é minha imaginação), a frase estampada na camiseta de um fã-clube brasileiro e que faz trocadilho com uma canção da banda representa bem a feliz incredulidade com que a turnê brasileira foi recebida pelos fãs, a surpresa maior se deve ao fato de que a vocalista Dolores O´riordan acabara de lançar seu segundo disco solo e a banda estava parada desde 2001. Para quem, assim como eu esperava a banda por aqui há 15 anos ou mais e que praticamente não via muito probabilidade deles voltarem à ativa e muito menos tocar no Brasil, vê-los em Belo Horizonte (que não costuma receber muito shows internacionais, embora isso venha mudando um pouco) foi um choque maior ainda, difícil mesmo acreditar que não era apenas imaginação, mas, os Cranberries desembarcaram no Brasil e fizeram um belíssimo show na minha amada-odiada Beagá.
Um domingo que começou atípico para mim, saído de casa com um mau-humor tremendo e com certo mal-estar, apesar de estar indo pra um show há tanto tempo esperado (a vocalista da banda, Dolores passou pelo Brasil em 2007, mas não pude assisti-la). Casa cheia com lotação esgotada. Eu mesmo não me lembrava (ou imaginava) que a banda tinha tanto prestígio aqui, o que me fez passar uns dias apreensivos depois de ter comprado o ingresso no início das vendas com receio que o show pudesse ser cancelado. Graças a Deus, Belo Horizonte mostrou que ainda é uma cidade roqueira. E digo roqueira mesmo porque o show do Cranberries foi muito rock´n´roll, confesso que eu mesmo não imaginava que eles fossem assim ao vivo, não tem DVD, Blu-ray, tela de 100 polegadas, imagem 300D, som 7000.1 que reproduza a sensação de ver um show ao vivo de verdade. Eu mesmo poderia ver até então a banda como sendo mais pop, mas nada disso, o som, a presença de palco de Dolores, a sinceridade, o espírito são definitivamente rock´n´roll e quando falo rock´n´roll, meus amigos, não estou falando de quatro caras cabeludos vestidos de preto no palco batendo a cabeça, estou falando daquilo que rolou lá atrás, no começo de tudo ou um pouco mais à frente, no princípio do fim.
Eles entraram no palco às 20h28min (no relógio da minha amiga Mariana), abrindo com a música “How”, do primeiro álbum da banda, Dolores surgiu enrolada numa bandeira das Minas Gerais que por mais que eu sempre tivesse achado bela, nunca me deixou tão emocionado e orgulhoso, algo que já bastaria para conquistar a audiência, porém, esse não foi nem de longe um dos seus maiores trunfos no show. A moça realmente (en) canta, soltou sua voz que ecoou por todo o ginásio do jeitinho que a gente ouve nos discos, até os gritinhos roucos do fim das frases numa regularidade e precisão impressionante que se manteve até o fim do show, para não falar das suas famosas “dancinhas” frenéticas meio desajeitadas que por isso mesmo se tornam tão graciosas. “Animal Instinct” e “Linger”, o maior hit da banda mantiveram a empolgação da primeira música. “Ordinary Day” do primeiro álbum solo de Dolores veio na sequência que abriu caminho para “Wanted”, uma das minhas prediletas. Depois, duas belas baladas da banda “You and Me” e “Dreaming My Dreams” que Dolores cantou mantendo o público hipnotizado a sua frente (pelo menos eu estava). “When You´re Gone” também empolgou logo nas primeiras notas dedilhadas na guitarra por Noel Hogan. “Daffodil Lament” e “I Can´t Be With You” (outra das minhas prediletas) antecederam “Pretty”. Em “Ode To My Family”, Dolores desceu do palco e cantou próxima a grade de segurança, o que permitiu alguns afagos e apertos de mão do público, carismática ao extremo, mantinha aquele “dedo em V hippie” enquanto cantava vários versos ao longo do show ou quando parava para agradecer ao público que ela chamou de brilhante e não deixou de elogiar nem as churrascarias brasileiras que conheceu. Vieram então, “Free To Decide”, e “Waltzing Back” com uma perfomance adorável de Dolores valsando (passeando pelo palco) com a capa que fazia parte de sua roupa aberta como se fossem asas e como se ela mesma fosse uma borboleta voando pelos campos entre flores, distribuindo graça e ternura (tá ok, só eu que devo ter imaginado isso). “Switch Off The Moment”, também da carreira solo dela antecedeu a catarse que se deu com “Salvation”, “Ridiculous Toughts” e “Zombie” que encerrou o show. Encerrou até o bis, porque eles voltaram para tocar “Empty” (da lista de prediletas também, que inclusive acabou com a minha voz que insistia em tentar acompanhá-la cantando em falsete). Eu confesso que apesar de achar os músicos da banda apenas regulares, caso do guitarrista Noel Hogan e de seu irmão, o baixista Mike Hogan, com exceção do excelente baterista Fergal Lawler, senti que as músicas da carreira solo de Dolores soaram bem melhores com os Cranberries do que nos seus discos solos e esse foi o caso de “Journey” que também levantou a galera. Vale lembrar ainda que o tecladista Denny Demarchi que participou dos discos solos de Dolores completou a banda tocando teclados e guitarra em algumas canções. Na hora em que você já perdeu a noção do repertório e de alguma música que queria ouvir em especial eles mandaram “Promisses” e “Dreams” para fechar. Sendo uma banda com apenas cinco álbuns lançados (e uma coletânea com duas inéditas) eles ainda puderam se dar ao luxo de deixar de fora hits como “Just My Imagination”, “Analyse” e “Stars”.
No fim das contas um grandíssimo show, melhor que o esperado, e se usei tantas vezes o termo rock´n´roll no texto, repito-o mais uma vez, THE CRANBERRIES É MUITO ROCK´N´ROLL!!! E é ao vivo que essas coisas ressaltam, Dolores parece superar sua própria timidez para compensar a dos rapazes da banda que ás vezes dão a impressão que até vão se esconder atrás dos amplificadores de tão discretos no palco. Um belo final para um dia que pareceria ser insuportável (e para que servem shows de rock´n´roll senão para nos trazer um pouco de alívio, não é?). Quanto à Dolores, dá para gastar com ela todos aqueles adjetivos que você guarda para dizer para uma mulher especial: Musa. Linda. Maravilhosa. Perfeita. E se ela não fosse minha cantora predileta quando eu cheguei lá para assistir ao show, provavelmente teria se tornado quando eu saí.




Fotos: Priscila, na última, a própria e o cruzeirense que vos escreve clicados por um site de BH.