Então nos encontramos novamente...
Depois de rodar algumas cidades do Brasil para assistir aos seus shows,
pela sexta vez no período de quatro anos, tive o prazer de ver Paul
McCartney ao vivo, dessa vez na minha cidade natal. E pela sexta vez
consecutiva me surpreendo com sua performance. Talvez por ter sido na minha cidade, a aventura parece ter sido bem menor, ao mesmo tempo em que a distância para chegar pareça ter sido inexplicavelmente maior. Divagações à parte, o ponto alto do show foi a
renovada no repertório da nova turnê intitulada “Out There”. Ele já
abriu a noite com a completamente inesperada “Eight Days A Week”,
canção dos Beatles que ele nunca havia executado ao vivo e que
tinha John Lennon nos vocais principais, ele sempre priorizou
nos shows as canções nas quais ele fazia a primeira voz, com raras exceções
como o medley “Strawberry Fields Forever/Help/Give Peace A Chance” que
tocou algumas vezes nos anos 1990 em ocasiões de homenagem ao parceiro, só nas
últimas turnês a partir de 2004 ele se permitiu cantar algumas dessas canções como
“I’ll Get You”, “Please Please Me” e mais recentemente “A
Day In The Life” que tinham John como vocalista principal. Ele pulou
dos Beatles para os Wings logo na canção seguinte, com a super
rockeira “Junior´s Farm”. “All My Loving”, a primeira a ser
apresentada dentre canções sempre esperadas nos shows foi cantada a plenos
pulmões pela multidão de mais de 55 mil pessoas que lotou o estádio (desde o
jogo entre Cruzeiro e Argentinos Juniors na despedida do jogador Sorín em 2009
eu não via o Mineirão tão bonito). Daí para frente veio uma série de surpresas, “Listen
To The Man Said” com Paul tocando contrabaixo ao invés do piano como
fazia na turnê Rockshow dos anos 70, última vez que a música
freqüentou o setlist de um show seu, foi outra que deixou o
público cativo do músico embasbacado. “Let Me Roll It” também
se manteve no setlist, e desde que comecei a ir a shows do Paul se
mostra realmente muito forte e revigorante ao vivo, mais do quando a ouço em
disco agora. “Paperback Writer” veio logo na sequência. A
primeira visita ao piano foi para tocar “My Valentine” presente no disco Kisses On The Bottom lançado no passado e dedicada à atual
esposa Nancy Shevell. Ele emendou com “Nineteen Hundred and Eighty-Five”, também da fase Wings e a antológica “The Long And Winding
Road”, umas das mais belas (entre tantas) baladas compostas por ele, assim
como a destruidora “Maybe I’m Amazed”, dedicada à ex-esposa Linda
McCartney que veio logo a seguir com uma execução que deixa evidente a
capacidade técnica da excelente banda que vem o acompanhando há dez anos.
O tradicional set acústico dessa vez iniciou-se com “Hope
Of Deliverance” com todos os músicos da banda tocando violão, exceção
para o baterista Abe Laboriel que ficou no baixo, durante a
música foi perceptível algumas falhas no sistema de som no PA, o áudio ficou um
pouco embolado e baixo, nada que estragasse a empolgação da platéia. “We
Can Work It Out” teve novamente versão com toda a banda tocando junto,
ao contrário das últimas vezes em que Paul a executou sozinho ao violão.
“Another Day” foi outra que voltou ao repertório depois de muitos anos e mais
uma vez arrebatou a platéia e teve Paul tocando um violão de 12 cordas,
instrumento que ele também não empunhava ao vivo há tempos. “And I Love
Her”, canção que nunca falta em seus shows no Brasil, teve uma reação tão
forte do público que eu acredito que ela continuará a incluindo sempre em seus
shows aqui. Em “Blackbird”, uma plataforma montada a frente do
palco deixou Paul isolado num nível bem mais alto em relação à altura normal do
palco, lá de cima executou também “Here Today”, canção composta para o amigo
John que sempre o emociona e vez por outra arranca lágrimas do cara e assim foi
na apresentação de BH. “Your Mother Should Know” , outra das surpresas do
show foi recebida com reverência pelos espectadores e desaguou em “Lady
Madonna” e “All Together Now”, também apresentada ao vivo
pela primeira vez e, não fosse uma lista que circulou pela internet e que
muitos chegaram a pensar ser falsa, o impacto das novas canções incluídas no
show seria ainda maior. “Mrs. Vanderbilt” deu sequência ainda na
mesma pegada
balada-de-violão-para-ser-dançada-e-cantada-em-coro-(de-preferência-por-pessoas-bêbadas).
Já a balada mais épica e contida “Eleanor Rigby” serviu para dar uma recuperada
no fôlego.
Tanto com Beatles, Wings ou na carreira solo mais propriamente dita, o
cara tem tantos hits para executar em um show que fica até
difícil ele tentar sair disso para uma canção mais lado B, e aí a gente é
obrigado a ter que considerar uma música como “Being For The Benefit Of
Mr. Kite!” como uma dessas, outra vez Paul quebrou a tradição (na
verdade ele já a mandou pro espaço faz tempo) e cantou uma música “mais” de
John Lennon que ainda o tinha na voz principal, anunciada por Paul como uma
estréia mundial em Belo Horizonte, fato que ele chamou atenção por ela nunca
ter sido executada ao vivo por ele, entretanto esse também foi o caso de “Eight
Days A Week” , “Your Mother Should Know” e “All
Together Know” e “Lovely Rita”. “Something” mais uma
vez serviu para homenagear George Harrison e continua sendo um
dos melhores momentos do show (aliás, ele já deveria ter incluído uma homenagem
ao Ringo nos shows faz tempo). Ele também manteve dos últimos shows a música “Ob-La-Di,
Ob-La-Da” que sempre coloca o público para dançar e dá uma revigorada
durante as apresentações de aproximadamente três horas feitas por Paul. Em “Band
On The Run” houve novamente uma falha no sistema de som, porém dessa
vez o PA emudeceu totalmente em dois trechos da canção, no entanto os músicos
continuaram tocando normalmente no palco porque o problema não afetou o sistema
de retorno, provavelmente Paul deve ter percebido algo errado em função das
expressões do público, mas levou a música até o fim e depois o som seguiu
perfeito até o final do show. A inclusão de “Hi, Hi, Hi” no
show também foi outra grata surpresa já que ele também não a executava ao vivo
desde os anos 70, essa banda rende muito nas músicas da fase Wings, uma deixa
para os guitarristas Brian Ray e Rusty Anderson sentarem
a mão nas guitarras e apresentarem ótimos solos. “Back In The USSR” também
foi mantida no setlist e continua sendo responsável por um dos
momentos de maior empolgação do show.
De volta ao piano para tocar “Let It Be” com o show de luzes feito pela
platéia usando aparelhos celulares e que levou o beatle (decide que não vou
chamá-lo mais de ex-beatle depois que o próprio declarou que sempre será um
beatle!) novamente às lágrimas. A apoteótica “Live And Let Die” acompanhada
dos efeitos de luz, fogos e explosões no palco cria sempre um grande momento de
catarse que mais uma vez se repetiu. Ainda ao piano, mas agora usando o “Magic
Piano” tocou “Hey Jude”, para ser ele dessa vez surpreendido
pela platéia que levantou cartazes escritos “Thank You” e assim se encerrou o
show com o público entoando ainda o refrão “na na na nanana nanana, Hey Jude”
por alguns minutos até que ele retornasse para o sempre esperado bis, que teve “Day
Tripper”, a “nova” “Lovely Rita” canção do álbum Sgt. Peppers
Lonely Hearts Club Band que também teve sua estréia em shows em BH e
foi sucedida por “Get Back”. Sentindo falta de “Yesterday”? Sim, eu
já disse antes aqui em outra postagem que ele nunca termina sem essa, e ele
voltou pra tocá-la, com direito a “Helter Skelter” logo em seguida, o que dá
ênfase a versatilidade de Paul, de uma balada com violão e quarteto de cordas
(executados ao vivo por Paul “Wix” Wickens nos teclados) à porrada sonora da
segunda, uma das canções precursoras do Heavy Metal. Para terminar de vez, a belíssima suíte “Golden Slumbers/Carry The
Weight/ The End.
Toda vez que ele termina um show e diz até à próxima, tenho a certeza que
verei novamente um show dele. E que novamente será genial e surpreendente. Long
Live Rock’n’Roll, Long live Macca!
Foto: in(f)ernet Marcos Hermes