Infeliz. É a
palavra mais leve e suave, que eu, grande admirador do trabalho de Roberto Carlos consigo usar para
avaliar seu mais recente disco. Anunciado há tempos, a investida de RC num
disco todo de remixes já me dava sinais que não seria dos seus trabalhos mais
interessantes, começando pela escolha equivocada de algumas músicas a serem
remixadas. Canções como “Fera Ferida”
e “O Portão” definitivamente não tem
nada a ver com as levadas dance às
quais tentaram imprimi-las. A idéia de se fazer remixes das músicas de Roberto não é nova, lembro de um primo meu que
era DJ e nos anos 1990 já havia feito um remix
de “Todos Estão Surdos” e apesar
de ter sido feita de forma amadora soava bem mais interessante que todo o EP
lançado esse ano, até porque a música se prestava a esse tipo de intervenção,
assim como acredito que outras também seriam melhor exploradas, especialmente
gravações do período da Jovem Guarda e da fase soul music do Roberto, aonde as suas interpretações e arranjos
tinham uma pegada mais forte com uma energia que combinariam mais com o estilo dance. Mesmo tentativas do próprio
Roberto nessa área já foram mais felizes há alguns anos como o remix de “Se Você Pensa” feito em 1994 pelo mesmo DJ Memê responsável pelo atual remix
de “Fera Ferida”, mas que foi lançada
apenas como um single para as rádios,
assim como o mix de várias faixas dos
anos 1960 que também não foi parar em nenhum dos seus discos de carreira, mas
foi usado como divulgação nas rádios em 2004 na ocasião do lançamento de seu
primeiro Box com os discos gravados por ele entre 1963/1969. Vale lembrar que
em seu disco de 2002, Roberto incluiu remixes
de duas músicas, “Se Você Pensa”
novamente com arranjo de Memê e "O Calhambeque”.
Devido a pouca, para não dizer nenhuma aceitação desses trabalhos, ele já
deveria ter percebido que não rolou, não deu certo. Nesse quesito admito que “É Proibido Fumar” com remix do DJ Mau Mau foi a que funcionou
melhor, justiça seja feita. Completa o EP a música “É Preciso Saber Viver” com um efeito na voz de Roberto de tremolo
e uma equalização aguda que cria uma sonoridade bizarra que jamais pensei que o
cantor permitisse ser lançada e o trio
Dexterz, formado por Julio Torres, Amon Lima e Junior Lima, responsável pelo remix, ainda dá uma plagiadinha no remix
de “A Little Less Conversation” feito
com a gravação de Elvis Presley em
2002.
Acho louvável
que ele tente explorar novos caminhos para sua música, mas por mais diferente
que possa aparentemente ser, não consigo ver esse disco como uma investida real
nisso. É contraditório, mas ao invés de uma novidade, o disco soa como mais um
relançamento de grandes sucessos como os artistas que ainda pertencem a uma
grande gravadora tem feito já há mais de uma década no Brasil com o receio de
lançar material inédito e não ter aceitação no mercado e apostando na
passividade do público. Além das canções no repertório nada convenientes à remixes, a interpretação dele também não
combina com as levadas das músicas. Foi traumático vê-lo num programa de TV
cantando duas dessas canções ao vivo, aquela sensação de que ele está cantando uma
música e que a base instrumental tocada é de outra canção e isso ainda
amplificado pelo fato da voz do cantor ficar num plano bem mais alto que a sua
banda, nesse caso deveria ser observado que para soar com o peso da música
eletrônica, o instrumental deveria ficar mais alto para dar o destaque necessário às
batidas características do estilo, no cd em si esse detalhe é amenizado. Roberto que é um mestre da interpretação nos mais variados
estilos com uma versatilidade que nunca vi em nenhum outro cantor, seja cantando rock, pop,
samba, bolero, tangos, jazz, fado, definitivamente não tem o feeling para
a música eletrônica, e sua postura no palco também não ajuda nenhum pouco nesse caso.
Se a intenção
é conquistar o público da música eletrônica e das baladas, já deu errado, as
pessoas não irão dançar ao som de um “Portão”
remixado, não vai tocar na noite, não vai ser sucesso nas baladas e para piorar
por outro lado o disco também não deve agradar (e eu já sei que não agradou) aos
seus fãs de sempre. Se ouvisse seus próprios trabalhos com mais atenção RC
poderia observar que seus dois grandes discos nos últimos 15 anos foram o Acústico e o álbum com Caetano Veloso cantando a música de Tom Jobim. Mesmo as canções inéditas
com maior aceitação do público, que é a primeira coisa que ele pensa ao lançar
um trabalho, foram aquelas que não fogem muito ao seu estilo característico, “Te Amo Tanto”, “Amor Sem Limites”, “Pra
Sempre” e a mais recente “Esse Cara
Sou Eu”. Poderia ser um caminho a se investir, a gravação de canções de
outros compositores que ele gosta ou o tão esperado disco de inéditas feito com
o capricho que ele e os fãs merecem. Pode ter certeza que aqueles fãs que fazem
questão de manter sua discografia completa comprarão esse Remixed, ouvirão uma vez e o deixarão descansar eternamente na
estante sempre optando por outros discos quando quiserem ouvir essas mesmas canções.
Outra coisa
que definitivamente não cola no Remixed
é a capa, Roberto quis fazer um disco diferente, mas se esqueceu (ou teve medo
de arriscar) que a capa deveria acompanhar isso, no mínimo ele deveria ter
feito uma capa mais alternativa, com outros motivos que não a sua foto
simplesmente como se fosse um de seus discos tradicionais, não sei até que
ponto a responsabilidade é totalmente dele e até aonde vai uma má orientação dos
profissionais que o cercam, mas acredito que a análise dos resultados de
trabalhos como esse o levarão a procurar a velha qualidade que ele tinha e que
anda sendo deixada de lado na tentativa de se enquadrar ao que está rolando no
momento sendo que em nada combina com ele. Ele conseguiu fazer isso com muita competência com o rock nos anos 60,
com a soul music nos anos 70, com o
pop dos anos 80. Espero que ele reencontre
seu caminho o mais breve possível. Seu público clama por isso.
No mais, um
ano-novo maravilhoso para todos.