Longe Demais das
Capitais (1986)
Também chamada pelos fãs de Santíssima Trindade, a junção de Humberto Gessinger, Augusto Licks e Carlos Maltz é a formação que podemos chamar de clássica dos Engenheiros do Hawaii e aquela que me
fez gostar da banda, ainda hoje a minha predileta na seara nacional (levando-se
em conta essa formação!) e por obra do acaso ainda não tinha aparecido aqui
no rockngeral. Juntos eles lançaram
sete discos, do segundo ao oitavo de sua discografia, porém julguei importante
incluir o primeiro disco, antes da entrada do guitarrista Augusto Licks,
ainda com Humberto Gessinger na guitarra e Marcelo Pitz no contrabaixo e
completada por Carlos Maltz na bateria. A idéia inicial era comentar os oito
discos em um único post como fiz em
Uma Breve Viagem Discográfica com a banda TheCranberries, mas como achei que as resenhas dos discos dos Engenheiros
ficariam bem maiores, resolvi optar por dividir os oito discos em duas postagens,
tentando controlar ao máximo para não ficarem muito longos, mas logo nos
comentários do primeiro disco, vi que não ia dar, decidi fazer uma postagem por
disco mesmo, cujas publicações pretendo intercalar a publicações com outros
temas (ainda não defini a periodicidade que irei postando sobre a discografia
dos EngHaw, talvez uma por mês), então, sem mais delongas, “voltemos enfim ao início”:
Humberto Gessinger (guitarras e vocal), Carlos Maltz
(bateria, percussão e voz) e Marcelo Pitz (contrabaixo e voz) conheceram-se na
faculdade de Arquitetura em Porto Alegre. Segundo a lenda, eles juntaram-se especificamente
para tocar numa das festas da faculdade que aconteceria na noite de 11 de
janeiro de 1985, no mesmo momento em que ocorria a estréia do Rock In Rio I, pois devido a uma greve
as aulas se estenderam até o período de férias e os estudantes de lá não
poderiam ir à Cidade do Rock no Rio de Janeiro para conferir as apresentações. Carlos
Stein que depois viria a se tornar guitarrista da banda Nenhum de Nós também participou dessa
formação pré-discográfica da banda que se iniciou com uma participação numa
coletânea intitulada Rock Grande do Sul,
na qual os Engenheiros participaram com as canções Sopa de Letrinhas e Segurança
que reapareceriam em seu primeiro disco, porém com a segunda canção
apresentando uma versão diferente. Embora seja o primeiro da banda, esse foi o
último dos oito discos que eu adquiri e segundo o simpático vendedor que me
atendeu, tratava-se do melhor disco deles. Longe
Demais das Capitais não poderia abrir com outra canção que não fosse Toda Forma De Poder, embora o disco
ainda não apresentasse o que seria conhecido como o som que se tornaria característico
da banda, essa letra já trazia a marca de Humberto Gessinger com seu estilo
crítico e político, tímido e agressivo, acidentalmente intelectual e aparentemente
arrogante que tanto irritou a “crítica” dita especializada da época. Versos
como o de abertura “Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem
nada” ou “Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada” atestam isso. Ela
conta com a participação do cantor e compositor gaúcho Nei Lisboa (com quem o futuro guitarrista da banda Augusto Licks tocava, tendo inclusive algumas parcerias) nos vocais e acabou tornando-se o hit do álbum, além de
aparecer na trilha sonora da telenovela da Rede Globo, Hipertensão. Segurança
reaparece aqui com versão diferente da lançada anteriormente na coletânea Rock
Grande do Sul como disse anteriormente, tanto na letra quanto no arranjo
instrumental e revela uma temática mais juvenil que apareceria em outras
canções do disco. No saxofone, a participação especial de Manito d’Os Incríveis,
banda da qual num futuro não muito distante os Engenheiros regravariam a versão
da música italiana “Era Um Garoto Que Como Eu Amava Os Beatles e os Rolling
Stones” relançada pelos Incríveis no auge da Jovem Guarda com grande êxito que seria repetido com a gravação dos
Engenheiros. Segurança também foi incluída na trilha sonora da telenovela Corpo Santo da extinta TV Manchete,
essa sempre foi uma forma muito eficaz de divulgar a música popular no Brasil e
a gravadora da banda, RCA, aproveitou para incluir mais uma canção dos novos pupilos
no esquema. Eu Ligo Prá Você, assim
como Segurança e uma série de outras
canções no disco tem uma influência do ska que vinha de uma grande repercussão especialmente
por causa da banda The Police. Nossas Vidas tem mais ainda um pé no
reggae, devido a essa fonte comum de influência, os Engenheiros chegaram a ser
associados aos Paralamas do Sucesso
que já vinham nessa onda desde o início da década quando apareceram no cenário
nacional em 1983 e segundo Gessinger a própria gravadora pretendia lançá-los
como uma espécie de “Paralamas dos Pampas”. “Eu já mandei em mandar tudo pro
inferno, mas não pensei que fosse tão difícil ficar sozinho numa noite de
inverno” suscita outra influência que apareceria vez por outra nas letras de
Humberto que é a dupla Roberto e Erasmo Carlos. Fé Nenhuma é um pouco mais pesada e apresenta um bom riff de
guitarra distorcida na introdução reforçado por uma das boas linhas de baixo de
Pitz. Com seus versos “Não levo fé nenhuma em nada, mas ninguém tem o direito
de me achar reacionário, não acredito no teu jeito revolucionário”, a música
provavelmente ajudou a criar uma equivocada imagem niilista que a banda tinha. Beijos Prá Torcida com uma levada que
chega a ser quase um charleston (se é
que não é) é mais um embrião do estilo de composição de Humberto que começava a
se desenhar, mais especificamente em relação às letras: “Jogam bombas em Nova
York, jogam bombas em Moscou/Como se jogassem beijos prá torcida depois de
marcar um gol”.
Todo Mundo É Uma Ilha,
título de uma canção que depois viraria verso da música Terra De Gigantes renega a teoria do poeta John Donne de que ninguém é uma ilha, canção de um quase-amor
juvenil, daqueles que nunca davam (dão) em nada (“Não me leve a mal, mas eu não
to legal, quero ficar sozinho”) com o refrão “Você não sabe o que eu sinto, você
não sabe quem eu sou” remetendo mais uma vez a Roberto e Erasmo em Eu Sou Terrível (“você não sabe de onde
eu venho, o que eu sou, nem o que tenho”). A canção título fala da distância da
cidade natal da banda, Porto Alegre em relação ao eixo Rio-São Paulo (“estamos
longe demais das capitais”), hoje me soa estranho (talvez na época eu não me
desse conta) uma banda batizar um álbum ou uma música que fosse com um título
como esse, o que só gerou mais má interpretação sobre a banda, mas ainda assim,
eles se justificariam dizendo no release do disco: “viemos falar da nossa aldeia pra quem quiser
ouvir”. Sweet Begônia é outro
reggaezinho agradável do disco, com seu texto autodepreciativo (“você diz que
eu tenho pouco quase nada a oferecer, tudo que eu faço você diz que está
errado, você me acha um fracasso e eu não acho isso engraçado”) traçava
um pouco do perfil da banda e de seus ouvintes. Humberto se sai muito bem no solo
cheio de swing da canção. Nada A Ver também
apresenta alguns versos que antecipam o estilo de letras de Humberto, cheio de
imagens, citações de ícones pop, jogos de palavras e aliterações: “Um cão sem
dono, uma árvore no outono, o nono mês de gravidez, eu perco o sono ao som de
Yoko Ono e telefono prá vocês”. Crônica foi
uma canção com certo destaque em shows na época, mas que depois de uma sumida
do repertório acabou reaparecendo no disco Filmes
de Guerra, Canções de Amor de maneira muito forte e se tornou fixa por um
bom tempo no setlist da banda, “Todo mundo já tomou a Coca-Cola e a Coca-Cola
já tomou conta da China, toda cara luta por uma menina e a Palestina luta prá
sobreviver”, exemplifica mais uma vez a mistura maluca e tímida de
política/amor que tantas vezes reapareceria na obra dos Engenheiros. Sopa de Letrinhas fecha essa primeira
empreitada da banda e mais uma vez "dá um olá" para obra de Roberto e Erasmo
“nosso amor é pós-moderno, eu quero que você se aqueça nesse inverno”, ela é
assinada em parceria com Marcelo Pitz, as demais canções do disco são assinadas
exclusivamente por Humberto Gessinger.
O disco produzido pelo guitarrista Reinaldo B. Brito, tem algo de obscuro desd’
a capa apresentando uma paisagem campestre, o visual dos integrantes não muito
à vontade e nenhum pouco descolado que não se parece com as músicas que em sua
maior parte, com suas levadas alegres de ska/reggae, não se parecem com as
letras bucólicas (Humberto diria que ska era a única coisa que ele sabia tocar
na guitarra). Apesar de ainda não ter um instrumental vigoroso como eles
apresentariam nos discos seguintes com a entrada de Augusto Licks na banda, ele
é competente e tem aquela cara de primeiro disco super sincero de uma banda de
rock que ainda não sabe o que quer, nem aonde quer chegar e talvez mesmo se
recuse a querer chegar a algum lugar.
Engenheiros é uma banda que eu sempre toquei suas músicas. Refrão de Bolero, Toda Forma de Poder, tudo música legal. Não tentávamos chegar perto dos arranjos, mal tirávamos as notas já queríamos tocar. Grande banda, grande postagem. Mas os discos que eu conheço estão por vir ainda... no aguardo aqui.
ResponderExcluirMano, eu poderia jurar que tu detestava os Engenheiros, ahuahua...grande revelação!
ResponderExcluirNada mano, eu curto. Tenho lá algumas opiniões, mas nada tão corrosivo não.
ResponderExcluireu acho hahahahahah
hauahuhauhauha...então continuo mantendo uma média boa contigo!
ResponderExcluircraro4
ResponderExcluirComentários no ultimo post/disco!
ResponderExcluirOk, man!
Excluir