segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Engenheiros do Hawaii - Uma Breve Viagem Discográfica: Os Anos Gessinger, Licks & Maltz

1. Prefácio

Longe Demais das Capitais (1986)



Também chamada pelos fãs de Santíssima Trindade, a junção de Humberto Gessinger, Augusto Licks e Carlos Maltz é a formação que podemos chamar de clássica dos Engenheiros do Hawaii e aquela que me fez gostar da banda, ainda hoje a minha predileta na seara nacional (levando-se em conta essa formação!) e por obra do acaso ainda não tinha aparecido aqui no rockngeral. Juntos eles lançaram sete discos, do segundo ao oitavo de sua discografia, porém julguei importante incluir o primeiro disco, antes da entrada do guitarrista Augusto Licks, ainda com Humberto Gessinger na guitarra e Marcelo Pitz no contrabaixo e completada por Carlos Maltz na bateria. A idéia inicial era comentar os oito discos em um único post como fiz em Uma Breve Viagem Discográfica com a banda TheCranberries, mas como achei que as resenhas dos discos dos Engenheiros ficariam bem maiores, resolvi optar por dividir os oito discos em duas postagens, tentando controlar ao máximo para não ficarem muito longos, mas logo nos comentários do primeiro disco, vi que não ia dar, decidi fazer uma postagem por disco mesmo, cujas publicações pretendo intercalar a publicações com outros temas (ainda não defini a periodicidade que irei postando sobre a discografia dos EngHaw, talvez uma por mês), então, sem mais delongas,  “voltemos enfim ao início”:
 
Humberto Gessinger (guitarras e vocal), Carlos Maltz (bateria, percussão e voz) e Marcelo Pitz (contrabaixo e voz) conheceram-se na faculdade de Arquitetura em Porto Alegre. Segundo a lenda, eles juntaram-se especificamente para tocar numa das festas da faculdade que aconteceria na noite de 11 de janeiro de 1985, no mesmo momento em que ocorria a estréia do Rock In Rio I, pois devido a uma greve as aulas se estenderam até o período de férias e os estudantes de lá não poderiam ir à Cidade do Rock no Rio de Janeiro para conferir as apresentações. Carlos Stein que depois viria a se tornar guitarrista da banda Nenhum de Nós também participou dessa formação pré-discográfica da banda que se iniciou com uma participação numa coletânea intitulada Rock Grande do Sul, na qual os Engenheiros participaram com as canções Sopa de Letrinhas e Segurança que reapareceriam em seu primeiro disco, porém com a segunda canção apresentando uma versão diferente. Embora seja o primeiro da banda, esse foi o último dos oito discos que eu adquiri e segundo o simpático vendedor que me atendeu, tratava-se do melhor disco deles. Longe Demais das Capitais não poderia abrir com outra canção que não fosse Toda Forma De Poder, embora o disco ainda não apresentasse o que seria conhecido como o som que se tornaria característico da banda, essa letra já trazia a marca de Humberto Gessinger com seu estilo crítico e político, tímido e agressivo, acidentalmente intelectual e aparentemente arrogante que tanto irritou a “crítica” dita especializada da época. Versos como o de abertura “Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada” ou “Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada” atestam isso. Ela conta com a participação do cantor e compositor gaúcho Nei Lisboa (com quem o futuro guitarrista da banda Augusto Licks tocava, tendo inclusive algumas parcerias) nos vocais e acabou tornando-se o hit do álbum, além de aparecer na trilha sonora da telenovela da Rede Globo, Hipertensão. Segurança reaparece aqui com versão diferente da lançada anteriormente na coletânea Rock Grande do Sul como disse anteriormente, tanto na letra quanto no arranjo instrumental e revela uma temática mais juvenil que apareceria em outras canções do disco. No saxofone, a participação especial de Manito d’Os Incríveis, banda da qual num futuro não muito distante os Engenheiros regravariam a versão da música italiana “Era Um Garoto Que Como Eu Amava Os Beatles e os Rolling Stones” relançada pelos Incríveis no auge da Jovem Guarda com grande êxito que seria repetido com a gravação dos Engenheiros. Segurança também foi incluída na trilha sonora da telenovela Corpo Santo da extinta TV Manchete, essa sempre foi uma forma muito eficaz de divulgar a música popular no Brasil e a gravadora da banda, RCA, aproveitou para incluir mais uma canção dos novos pupilos no esquema. Eu Ligo Prá Você, assim como Segurança e uma série de outras canções no disco tem uma influência do ska que vinha de uma grande repercussão especialmente por causa da banda The Police. Nossas Vidas tem mais ainda um pé no reggae, devido a essa fonte comum de influência, os Engenheiros chegaram a ser associados aos Paralamas do Sucesso que já vinham nessa onda desde o início da década quando apareceram no cenário nacional em 1983 e segundo Gessinger a própria gravadora pretendia lançá-los como uma espécie de “Paralamas dos Pampas”. “Eu já mandei em mandar tudo pro inferno, mas não pensei que fosse tão difícil ficar sozinho numa noite de inverno” suscita outra influência que apareceria vez por outra nas letras de Humberto que é a dupla Roberto e Erasmo Carlos. Fé Nenhuma é um pouco mais pesada e apresenta um bom riff de guitarra distorcida na introdução reforçado por uma das boas linhas de baixo de Pitz. Com seus versos “Não levo fé nenhuma em nada, mas ninguém tem o direito de me achar reacionário, não acredito no teu jeito revolucionário”, a música provavelmente ajudou a criar uma equivocada imagem niilista que a banda tinha. Beijos Prá Torcida com uma levada que chega a ser quase um charleston (se é que não é) é mais um embrião do estilo de composição de Humberto que começava a se desenhar, mais especificamente em relação às letras: “Jogam bombas em Nova York, jogam bombas em Moscou/Como se jogassem beijos prá torcida depois de marcar um gol”. 

Todo Mundo É Uma Ilha, título de uma canção que depois viraria verso da música Terra De Gigantes renega a teoria do poeta John Donne de que ninguém é uma ilha, canção de um quase-amor juvenil, daqueles que nunca davam (dão) em nada (“Não me leve a mal, mas eu não to legal, quero ficar sozinho”) com o refrão “Você não sabe o que eu sinto, você não sabe quem eu sou” remetendo mais uma vez a Roberto e Erasmo em Eu Sou Terrível (“você não sabe de onde eu venho, o que eu sou, nem o que tenho”). A canção título fala da distância da cidade natal da banda, Porto Alegre em relação ao eixo Rio-São Paulo (“estamos longe demais das capitais”), hoje me soa estranho (talvez na época eu não me desse conta) uma banda batizar um álbum ou uma música que fosse com um título como esse, o que só gerou mais má interpretação sobre a banda, mas ainda assim, eles se justificariam dizendo no release do disco:  “viemos falar da nossa aldeia pra quem quiser ouvir”. Sweet Begônia é outro reggaezinho agradável do disco, com seu texto autodepreciativo (“você diz que eu tenho pouco quase nada a oferecer, tudo que eu faço você diz que está errado, você me acha um fracasso e eu não acho isso engraçado”) traçava um pouco do perfil da banda e de seus ouvintes. Humberto se sai muito bem no solo cheio de swing da canção. Nada A Ver também apresenta alguns versos que antecipam o estilo de letras de Humberto, cheio de imagens, citações de ícones pop, jogos de palavras e aliterações: “Um cão sem dono, uma árvore no outono, o nono mês de gravidez, eu perco o sono ao som de Yoko Ono e telefono prá vocês”. Crônica foi uma canção com certo destaque em shows na época, mas que depois de uma sumida do repertório acabou reaparecendo no disco Filmes de Guerra, Canções de Amor de maneira muito forte e se tornou fixa por um bom tempo no setlist da banda, “Todo mundo já tomou a Coca-Cola e a Coca-Cola já tomou conta da China, toda cara luta por uma menina e a Palestina luta prá sobreviver”, exemplifica mais uma vez a mistura maluca e tímida de política/amor que tantas vezes reapareceria na obra dos Engenheiros. Sopa de Letrinhas fecha essa primeira empreitada da banda e mais uma vez "dá um olá" para obra de Roberto e Erasmo “nosso amor é pós-moderno, eu quero que você se aqueça nesse inverno”, ela é assinada em parceria com Marcelo Pitz, as demais canções do disco são assinadas exclusivamente por Humberto Gessinger. 

O disco produzido pelo guitarrista Reinaldo B. Brito, tem algo de obscuro desd’ a capa apresentando uma paisagem campestre, o visual dos integrantes não muito à vontade e nenhum pouco descolado que não se parece com as músicas que em sua maior parte, com suas levadas alegres de ska/reggae, não se parecem com as letras bucólicas (Humberto diria que ska era a única coisa que ele sabia tocar na guitarra). Apesar de ainda não ter um instrumental vigoroso como eles apresentariam nos discos seguintes com a entrada de Augusto Licks na banda, ele é competente e tem aquela cara de primeiro disco super sincero de uma banda de rock que ainda não sabe o que quer, nem aonde quer chegar e talvez mesmo se recuse a querer chegar a algum lugar.

7 comentários:

  1. Engenheiros é uma banda que eu sempre toquei suas músicas. Refrão de Bolero, Toda Forma de Poder, tudo música legal. Não tentávamos chegar perto dos arranjos, mal tirávamos as notas já queríamos tocar. Grande banda, grande postagem. Mas os discos que eu conheço estão por vir ainda... no aguardo aqui.

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  2. Mano, eu poderia jurar que tu detestava os Engenheiros, ahuahua...grande revelação!

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  3. Nada mano, eu curto. Tenho lá algumas opiniões, mas nada tão corrosivo não.









    eu acho hahahahahah

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  4. hauahuhauhauha...então continuo mantendo uma média boa contigo!

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  5. Comentários no ultimo post/disco!

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