3. Capítulo II
Ouça
o Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém (1988)
Mais um daqueles discos dos Engenheiros do Hawaii que já
causava choque na crítica começando pelo título: “Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém”. E é a faixa título que abre o
disco mais uma vez, dando nova guinada e uma leve “modernizada” no som da banda. Com boa execução nas rádios, foi das principais responsáveis por ter
mantido a média de cerca 130 mil discos vendidos que a banda conseguiu com seus
três primeiros discos. “Cidade Em Chamas” traz outro ótimo registro de guitarra de Augusto Licks que também já começava a caracterizar um estilo
que ele desenvolveria na banda,cheio de dedilhados com timbres limpos e belos
solos num equilíbrio perfeito entre técnica, feeling e melodia. A letra provoca
o ouvinte (ou seria a crítica?): “se o que eu digo não faz sentido, não faz
sentido ficar ouvindo, mas o que eu digo não é mentira, não faz sentido ficar
mentindo”. Humberto Gessinger ainda repete o verso “eu sei que eles têm razão, mas a razão
é só o que eles têm” (presente na música "Quem Tem Pressa Não Se Interessa" do disco anterior) se autocitando, outra marca registrada das
suas letras. Em “Somos
Quem Podemos Ser”, Humberto cria uma de suas melhores e emblemáticas letras ("sem querer eles me deram as chaves que abrem essa prisão"..."quem duvida da vida tem culpa, quem evita a dúvida também tem") uma espécie de continuação de “Terra de Gigantes” (também presente no disco anterior), inclusive o arranjo
é feito também só com guitarras e violão dedilhados e entre as novidades no som da banda, traz um solo de guitarra
sintetizada do Licks. “Sob o Tapete” é a primeira música da parceria
de Humberto e Augusto que se revelaria super produtiva, instrumental vigoroso
que não deixa mais dúvidas que o trio havia criado um estilo, a bateria
agressiva de Carlos Maltz, longe do
swing brazuca, os baixos pulsantes e melodiosos de Humberto (segundo Augusto
Licks, como se fosse um guitarrista tocando o baixo) e a guitarra virtuosa de
Augustinho fugindo das simples execução de acordes para tocar frases melódicas
junto com a voz em alguns momentos, facilmente saindo de um acorde distorcido
para um dedilhado com um bom gosto extremo na escolha de timbres e efeitos e
uma sonoridade mais “modernosa” do que ele havia criado até então. “?Desde Quando?” tem um riff de guitarra hipnótico
nos primeiros versos da canção, passando por slides na sequência e power
chords no refrão, na letra Humberto manda um “Rock’n’Roll não é o que se
pensa e o que se pensa não é o que se faz, o que se faz, só faz sentido quando
vivemos em paz” em mais um dos jogos de palavras que ele usaria tão bem ao
longo da carreira. “Nunca Se Sabe” carrega
uma bela citação ao escritor Hermann
Hesse: “me obrigue a morrer, mas não me peça pra matar”, carregada de
lirismo, fica entre uma balada que queria ser um rock e um rock que queria
ser uma balada.
“A
Verdade A Ver Navios” tem o mesmo riff da introdução de “Terra De Gigantes” e uma letra
contundente de Humberto, “Na hora H, no dia D, na hora de pagar pra ver,
ninguém diz o que disse (não era bem assim)”, a guitarra tocada por Humberto
tem aqueles acordes de quarta que a banda usaria em várias canções como já
havia feito em "A Revolta dos Dândis I". Augustinho
realiza um bonito solo de piano, e no final tem aquele mesmo riff que aparece
em “Vozes” (do disco A Revolta dos
Dândis) e “Várias Variáveis” (do álbum homônimo) dando uma idéia de
continuidade, ligando os discos e músicas. “Tribos & Tribunais”, outra parceria de Gessinger/Licks tem boas
frases de guitarra e baixo dobrando a melodia, outra grande performance
instrumental do trio. Na letra, Humberto explora as aliterações que também seriam constantes em seus escritos ("todo dia a gente inventa e fantasia, a gente tenta todo dia, feito cegos, egos em agonia"). “Pra Entender” também
segue a linha de “Tribos & Tribunais”,
“Sob O Tapete” e “Além dos Out-doors” canções que foram
criando a sonoridade característica do trio, Licks brinca com a guitarra
durante toda a canção, aos guitarristas de plantão fica o meu conselho: na
falta de idéias de como fazer uma base original, ouça-a! “?Quem Diria?” retoma a canção romântica “à la Humberto Gessinger” e
traz mais um solo genial de Augustinho. “Variações
Sobre Um Mesmo Tema “é dividida em três partes, a primeira composta apenas
por um Humberto tem como destaque a condução de tambores tocada por Carlos e a
guitarra slide de Licks com Humberto Gessinger mais uma vez se autocitando aonde
lembra a letra da faixa título do disco em questão e de “Infinita Highway”. A “Parte
2”, com letra de Humberto e música de Augusto Licks traz o único registro
de Augusto na banda como voz principal e tem acompanhamento solitário de uma
guitarra tocada com o efeito de volume. A “Parte
3” assinada apenas por Licks é uma vinhetinha musical com uma sonoridade
pesada que seria quase uma milonga heavy metal. Outra novidade é a presença de Maluly na produção. A capa, a exemplo
da anterior é novamente dividida em nove partes, dessa vez o fundo é vermelho
dando sequência à trilogia com as cores da bandeira o Rio Grande do Sul, (Augustinho
já aparece com sua indefectível camisa social branca fechada até o último botão
que seria a predileta e mais usada nos shows da banda), as letras são escritas
numa irritante fonte gótica e as engrenagens brotam na capa e contracapa do
disco, agora não tinha mais volta para a banda e o público, era ame ou odeie.
Grande postagem mano. Esse ainda é um disco que eu não conheço a fundo. Com os seus comentários (faixa a faixa) dá pra ouvir o disco com calma, ir ouvindo e prestando mais atenção nos detalhes. Acho que eu já disse isso em outra postagem sobre o Engenheiros, mas é uma banda que eu toquei muito as músicas que tocaram nas rádios. E a gente como é fã de música, sabe que muitas músicas excelentes ficam fora das rádios tbm. Vou ver se encontro aqui, eu tenho esse mp3 em algum lugar...
ResponderExcluirValeu, mano. Olha os discos dessa fase eu recomendo muito,ouvi tanto na época que dava pra escrever as resenhas de cabeça, mas to aproveitando pra reouvir direto dos vinis (aliás, não esqueci do post do Elvis, mas quero reler e comentar ouvindo o disco junto).
ResponderExcluirabraço!
Por incrível que pareça tem algumas músicas desse disco que não conheço.
ResponderExcluirSó me dei conta disso ao ler o post, aliás belo post.
Valeu, man, próxima estadia sua em BH te aplico o disco na íntegra!
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