Para falar desse momento mágico resolvi fazer algo inédito
aqui, uma postagem em duas versões, então aí vai a primeira:
PRIMEIRA VERSÃO:
Inacreditável!
Pronto. É isso, eis a primeira versão, não precisa ler a
segunda para saber como foram os shows. Eles foram inacreditáveis e pronto!
Pode acessar o próximo blog, caro amigo leitor.
Ah, resolveu ler a segunda versão? Tudo bem, vamos lá, mas
apesar de ser o maior texto já postado no rockngeral, essa versão não adiciona
muito a primeira versão que é por sua vez o menor texto já postado aqui.
SEGUNDA VERSÃO:
Parte 1: 21/04/2012 (sábado) –
O Primeiro Show
Obs: os parágrafos em itálico são detalhes da viagem e podem
ser pulados sem qualquer dano quanto aos
detalhes do show.
Inacreditável! É a primeira palavra que vem à mente
acompanhada de uma sonora exclamação quando penso nos dois shows de Paul
McCartney que vi no Recife no último final de semana. Inacreditável pelo fato
do músico vir pelo terceiro ano seguido ao Brasil, inacreditável por ver um
show dele na região nordeste do país, região, aliás, que eu ainda não conhecia,
inacreditável depois de (quase) achar que não veria o cara ao vivo estava ali
para assistir ao meu quarto e quinto concertos dele, inacreditável pela força e
enorme popularidade do artista capaz de lotar o Estádio do Arruda em Pernambuco,
o Teatro Apollo no Harlem, o Olympia de Paris, assim como uma praça pública em
Kiev e parar qualquer cidade onde ele chegue com sua comitiva para um show.
Inacreditável a energia que ele consegue esbanjar ainda que o calor de
Pernambuco e os vários dias passados na América Latina tenham parecido
castigá-lo um pouco.
Desembarquei no começo da tarde de sábado no Recife acompanhado do meu amigo André Guimarães (vulgo Geléia) para assistir
ao primeiro show, enquanto aguardava a liberação do quarto do hotel fomos
almoçar, não sem antes Mr. Geléia acidentalmente quase quebrar uma tela do Romero Brito que
estava com vários quadros em exposição no hotel. De início já experimentamos uma porção de carne de bode
com fritas, típicos turistas conhecendo as iguarias gastronômicas locais, o
que provavelmente mataria o vegetariano militante Sir Paul do coração. Perdão Paul, mas
estava muito bom, assim como o filé aos quatro queijos, delicioso também o
preço da cerveja por lá. Retorno ao hotel e depois de um breve descanso,
partimos para o show com a super escolta de Adreson, amigo recifense do Geléia que foi lá cortesmente apenas para nos levar ao show. Na porta, Lalau, outro amigo de Recife, juntou-se a nós,
inacreditavelmente gente fina esses caras, meus novos amigos e novos ex-amigos
do Geléia (piada interna).
Na entrada do estádio o movimento estava um pouco confuso,
filas que não se sabiam onde começam nem acabavam, e ainda restava tirar os
ingressos na bilheteria, nada que eu não esperava que fosse se resolver bem,
como sempre, e assim foi. Resolvido o assunto, cerveja tomada, hora de entrar (não sem certo
empurra-empurra, mas quando a causa é nobre a gente nem repara, o público
divulgado girou em torno de 55 mil pessoas). Pronto. Dentro do estádio. Dessa vez achei o vídeo de introdução mais bacana que das outras três vezes que assisti, lembrando que o vídeo ainda é o mesmo da Up And Coming Tour. Paul
abriu o show com Magical Mystery Tour,
uma das três opções freqüentes nas últimas tours ao lado de Venus & Mars/Rockshow e Hello, Goodbye que ele guardou para o
dia seguinte. Yeah! Lá estava ele novamente com seu velho baixo Hofner e seu terninho de “estilo
beatle” mandando ver, a segunda música foi Junior´s
Farm da fase Wings que eu sempre
gostei, mas dado o tempo que ele não a tocava, desde o final dos anos 70, não
esperava ouvir ao vivo até que ele começou a executá-la nos shows da On The Run Tour. Rockaço! Obrigado,
Paul! Com seu “Oi Recife, boa noite, pernambucanos” num português que se
continuarem assim as vindas ao Brasil daqui a pouco estará fluente ele cumprimentou a platéia. A segunda
canção-beatle da noite foi All My Loving
que já remete àquele clima saudosista dos anos 60, especialmente para a turma
que pôde viver essa época abençoada. Jet,
outra dos Wings garantiu o clima rockeirão do show e desembocou na super
empolgante Got Get Into My Life dos
FabFour. Depois Sing The Changes do
projeto Fireman, que eu acho que soa
muito melhor ao vivo do que no disco, aliás, Rock´n´Roll que se preza sempre
soa melhor ao vivo e o cara não esta aí para brincadeira. Outra canção esperada
por mim era The Night Before, um “quase
um lado B” dos Beatles porque acho
meio impossível dizer que se possa existir um lado B desses caras (penso que no
caso deles só dá para considerar lado B mesmo os outtakes), a música presente
no filme Help! também fez parte da
sua trilha sonora, foi a primeira vez que Paul a tocou no Brasil, sendo ainda a
primeira vez que ele a toca numa turnê. Para não perder o pique, Let Me Roll It e Paperback Writer, ambas tocadas na guitarra, respectivamente uma Gibson Les Paul e a Epiphone Casino original usada na gravação da faixa. Paul
se dirigiu ao piano pela primeira vez para tocar The Long And Winding Road, Nineteen
Hundred And Eigthy Five (que ele sempre dedica aos fãs dos Wings embora
toque quase uma dezena de temas dessa fase no show), a nova My Valentine dedicada à sua belíssima
esposa Nancy em suas próprias palavras e Maybe
I’m Amazed que ele dedicou para Linda, sua primeira esposa e musa da
canção. Com seu violão Martin em
punho Paul tocou Things We Said Today
que eu ainda não tinha ouvido ao vivo emendando com And I Love Her. Sozinho no palco ele mandou Blackbird quando uma grande lua cheia surge no telão criando um
belo efeito visual. Here Today feita
em homenagem ao seu parceiro mais famoso pareceu mais uma vez emocionar Paul
que fez uma pausa no meio da canção (por um lado também devido às palmas da
platéia que sempre atravessa o tempo quando o tenta acompanhar nessa canção já que ele a toca num andamento livre). Servido do bandolim
tocou Dance Tonight, canção do disco
Ever Presente Past de 2007 que vem
se mantendo desde então no repertório dos shows e que tem um acompanhamento
coreográfico do baterista Abe Laboriel que dança durante sua primeira parte
tornando hilária a apresentação da música. A banda atual que completa dez anos
de formação é constituída por Rusty Anderson (guitarra e violão), Brian Ray
(guitarra, baixo e violão) e Paul “Wix” Wickens (teclados e violão), este já está há mais
de vinte anos atuando ao lado de McCartney, além da competência instrumental,
todos cantam muito bem, o que resulta numa ótima soma aos vocais de Paul ainda em forma aos 69 anos. Mrs. Vanderbilt
que também tem se mantido no repertório foi a próxima e então Paul relembrou a
eterna Eleanor Rigby para em seguida
homenagear George Harrison tocando Something que ele começa sozinho se acompanhando com o
ukelele Gibson presenteado pelo amigo, um dos momentos mais comoventes do show,
especialmente quando o telão começa a passar imagens deles em estúdio. De
improviso a banda tocou o refrão e o primeiro verso de Yellow Submarine, acredito que por manifestações da platéia que
costuma gritar o nome de Ringo depois das homenagens aos outros dois parceiros
de banda. O clima rockeiro voltou com Band
On The Run e Ob-la-di, Ob-la-da
que funciona muito bem ao vivo e levantou a multidão mais uma vez. Paul sempre
encaixa uma música mais agitada/alegre após cada uma das homenagens, pois ele
parece realmente ficar emocionado nesses momentos e usa uma canção mais “neutra”
para quebrar o clima depois. Numa sequência alucinante, Paul tocou Back In The USSR, I´ve Got A Feeling e A Day In
The Life que emenda com Give Peace A
Chance da carreira solo de John Lennon e ao piano fez Let It Be, Live And Let Die
com seus fogos de artifício e explosões no palco que sempre impressionam o
público e encerrou com Hey Jude.
Shows do Paul nunca acabam sem bis e ele retornou para tocar Lady Madonna, Day Tripper e Get Back. Shows
do Paul nunca acabam sem ele tocar Yesterday e ele voltou para tocá-la como primeira música do segundo bis que se seguiu com Helter Skelter (eu ainda quero entender como ele consegue cantar
essa música depois de mais de duas horas e meia de show, inacreditável) e não pode
haver final mais perfeito para um show dele do que a suíte curta formada pelas
músicas Golden Slumbers/Carry The
Weight/The End.
Cansou de ler? Imagine o cara tocando isso tudo então, caso o amigo leitor queira fazer uma pausa para uma agüinha pode ir lá que vou emendar o
segundo show nessa mesma postagem (meu caro Baratta pode aproveitar para pitar
seu cigarro e tomar um cafezinho).
Parte 2: 22/04/2012 (domingo) –
O Segundo Show
No final do primeiro show Paul disse: "não vamos dizer
tchau, vamos dizer até a próxima”, para mim esse “até a próxima” já era o dia
seguinte.
Se comer
carne de bode poderia decepcionar o nosso querido Paul, tenho certeza que ele
ficaria orgulhoso da pizza vegetariana que Geléia e eu comemos após o primeiro
show...quer dizer, na verdade não era bem vegetariana, pedimos uma pizza de
frango, mas ela veio sem o frango (!?), não fica difícil entender porque a
pizzaria ao lado do Arrudão estava razoavelmente vazia enquanto uma multidão que deixava o estádio
poderia ter parado ali para fazer uma boquinha antes de ir embora.
O segundo
dia começou com café da manhã reforçado e F1 seguido de uma cervejinha na beira
da piscina do hotel, mais ou menos o que poderíamos chamar ”picaretamente” de "trabalho de recuperação" preparando para a segunda noite de show. A convite do
Adreson e do Lalau fomos almoçar no restaurante Bode do Nô e experimentar a
picanha de bode, me agradou, mais gostei mesmo foi da fava e do queijo manteiga
com melaço (sou um queijolátra confesso), depois fomos comer um camarão (outra
paixão) e assistir ao jogo Náutico X Sport, e aí começou meu show de
bolas-foras, resolvi torcer pro Náutico e nem o pênalti defendido pelo
goleiro Gideão salvou o alvirrubro da derrota por 2 a 1, fui torcer pro Santa
Cruz e ele perdeu por 2 a 1 para o Salgueiro, Flamengo também perdeu para o
Vasco pelo mesmíssimo placar, nem o meu Cruzeiro se salvou perdendo de 3 a 2 para o
América-MG pela semifinal do campeonato mineiro. Pelo menos o camarão estava
ótimo. De volta ao hotel, Adreson e Lalau levaram dois violões e fizemos uma jam com os nobres anfitriões relembrando
os bons tempos dos Engenheiros do Hawaii (a unanimidade entre os quatro) com
direito entre outras canções a Comfortably Numb do Pink Floyd e uma bela canção
própria do Lalau (grava isso aí, bicho!). E lá fomos nós para o Arrudão
novamente escoltados pelos parceiros recifenses.
O
segundo show foi dia de pista premium,
eu gosto mais do clima da pista comum, mas para ver o show não há dúvida do
quanto a premium é melhor, ver o
palco por inteiro, os caras ali na frente, os detalhes da iluminação (vários
que eu não tinha percebido no dia anterior) e mesmo o som que é excelente no
estádio inteiro ainda estava bem melhor ali, tive que mudar de lugar num
determinado momento por causa do impacto dos graves das caixas de som
explodindo no meu peito (imagine que era principalmente do baixo do Paul.
Phoda!). Paul abriu a segunda noite com a opção mais provável: Hello, Goodbye no lugar de Magical Mystery Tour e variou mais três
canções em relação à primeira noite, Got
To Get Into My Life deu lugar a Drive
My Car, I’ve Just Seen A Face
entrou no lugar de Things We Said Today
e um bônus para mim foi ouvir I Saw Her
Standing In There ao vivo de novo após o segundo show no Rio de
Janeiro ano passado, música que ele não tem tocado com frequência nos últimos
tempos e que ele acabou trocando no bis por Helter
Skelter, provavelmente para poupar um pouco a voz. Eu já tinha achado Sir
Paulie meio cansado na noite anterior, apesar de toda a vitalidade do velho
Macca e da banda que literalmente desceu a lenha na segunda noite, deve ter
pesado o calor que fazia no Recife e os vários dias em que ele já estava na
América Latina, em alguns momentos sua voz falhou um pouquinho, não sei se isso
foi perceptível para todo o público e lembro-me de ouvir um erro na linha de
baixo em uma canção, nada que desabonasse a performance geral, mais uma vez
completamente acima da média, o cara faz o maior show de rock do planeta
indubitavelmente. Às falas em português ele acrescentou um "Salve a terra
de Luiz Gonzaga!" que deixou a platéia atônita de emoção e o aplaudiu
intensamente, mais do que pernambucano, Luiz
Gonzaga é um patrimônio nacional que deixou o mineiro aqui super orgulhoso
também, o povo pernambucano ainda pode se orgulhar da bandeira de Pernambuco
que Paul agitou no palco ao final de cada show, não me recordo dele fazer isso
com bandeiras de um estado antes, normalmente ele agita a bandeira do país em
que está se apresentando, enquanto o tecladista Wix traz a bandeira inglesa, a
bandeira brasileira ausente na primeira noite foi carregada pelo guitarrista Rusty na segunda apresentação, no primeiro dia o baterista apareceu no palco com uma bandeira de pirata (fato que eu achei muito engraçado). Paul não precisava fazer nada disso, não precisava se esforçar em
falar um pouco do idioma local como ele faz em cada país que visita, aprender
frases e gírias típicas de cada região, mas ele faz questão de dar esse mimo
aos seus fãs e aos boçais que o criticam eu pergunto: qual é o problema? Mais uma promessa de "até a
próxima" no fim do show e outra vez a sensação de alma lavada e dever
cumprido. Valeu Paul, valeu Recife! E que venha o Mineirão em 2013!
Mesmo ainda durante o show eu pensava: “não acredito que estou
em Pernambuco vendo esse cara!” Mas estava. Inacreditável, né? Mas acreditem em
mim: esses shows foram realmente inacreditáveis!
Fotos: 1 internet (não consegui identificar o autor). 2 e 3 internet (Marcos Hermes). 4 Da esquerda para a direita no alto: Paul ao piano (22/04); Lalau, Geléia, eu e Adreson nos arredores do Arrudão; os passaportes da alegria; close na mão e na Gibson 335 de Rusty (22/04); no meio: eu prestando um tributo ao Geléia e suas fotos com cerveja; as iguarias locais apreciadas durante a estadia; público do dia 21/04 no Arruda, Paul novamente ao piano; embaixo: paisagem do Recife e o pôster do show.
Dando crédito a quem tem: a idéia dos parágrafos "paralelos" em itálico veio do livro Como Dois e Dois São Cinco - roberto carlos (& erasmo & wanderléa) de Pedro Alexandre Sanches, aliás, já devia ter postado sobre este livro há muito, uma hora ele pinta por aqui .