domingo, abril 29, 2012

On The Run Tour: Paul McCartney - Estádio do Arruda, Recife/PE, 21 e 22/04/2012




Para falar desse momento mágico resolvi fazer algo inédito aqui, uma postagem em duas versões, então aí vai a primeira:

PRIMEIRA VERSÃO:

Inacreditável!


Pronto. É isso, eis a primeira versão, não precisa ler a segunda para saber como foram os shows. Eles foram inacreditáveis e pronto! Pode acessar o próximo blog, caro amigo leitor.
Ah, resolveu ler a segunda versão? Tudo bem, vamos lá, mas apesar de ser o maior texto já postado no rockngeral, essa versão não adiciona muito a primeira versão que é por sua vez o menor texto já postado aqui.

SEGUNDA VERSÃO:

Parte 1: 21/04/2012 (sábado) – O Primeiro Show


Obs: os parágrafos em itálico são detalhes da viagem e podem ser pulados sem  qualquer dano quanto aos detalhes do show.

Inacreditável! É a primeira palavra que vem à mente acompanhada de uma sonora exclamação quando penso nos dois shows de Paul McCartney que vi no Recife no último final de semana. Inacreditável pelo fato do músico vir pelo terceiro ano seguido ao Brasil, inacreditável por ver um show dele na região nordeste do país, região, aliás, que eu ainda não conhecia, inacreditável depois de (quase) achar que não veria o cara ao vivo estava ali para assistir ao meu quarto e quinto concertos dele, inacreditável pela força e enorme popularidade do artista capaz de lotar o Estádio do Arruda em Pernambuco, o Teatro Apollo no Harlem, o Olympia de Paris, assim como uma praça pública em Kiev e parar qualquer cidade onde ele chegue com sua comitiva para um show. Inacreditável a energia que ele consegue esbanjar ainda que o calor de Pernambuco e os vários dias passados na América Latina tenham parecido castigá-lo um pouco. 

Desembarquei no começo da tarde de sábado no Recife acompanhado do meu amigo André Guimarães (vulgo Geléia) para assistir ao primeiro show, enquanto aguardava a liberação do quarto do hotel fomos almoçar, não sem antes Mr. Geléia acidentalmente quase quebrar uma tela do Romero Brito que estava com vários quadros em exposição no hotel.  De início já experimentamos uma porção de carne de bode com fritas, típicos turistas conhecendo as iguarias gastronômicas locais, o que provavelmente mataria o vegetariano militante Sir Paul do coração. Perdão Paul, mas estava muito bom, assim como o filé aos quatro queijos, delicioso também o preço da cerveja por lá. Retorno ao hotel e depois de um breve descanso, partimos para o show com a super escolta de Adreson, amigo recifense do Geléia que foi lá cortesmente apenas para nos levar ao show. Na porta, Lalau, outro amigo de Recife, juntou-se a nós, inacreditavelmente gente fina esses caras, meus novos amigos e novos ex-amigos do Geléia (piada interna). 

Na entrada do estádio o movimento estava um pouco confuso, filas que não se sabiam onde começam nem acabavam, e ainda restava tirar os ingressos na bilheteria, nada que eu não esperava que fosse se resolver bem, como sempre, e assim foi. Resolvido o assunto, cerveja tomada, hora de entrar (não sem certo empurra-empurra, mas quando a causa é nobre a gente nem repara, o público divulgado girou em torno de 55 mil pessoas). Pronto. Dentro do estádio. Dessa vez achei o vídeo de introdução mais bacana que das outras três vezes que assisti, lembrando que o vídeo ainda é o mesmo da Up And Coming Tour. Paul abriu o show com Magical Mystery Tour, uma das três opções freqüentes nas últimas tours ao lado de Venus & Mars/Rockshow e Hello, Goodbye que ele guardou para o dia seguinte. Yeah! Lá estava ele novamente com seu velho baixo Hofner e seu terninho de “estilo beatle” mandando ver, a segunda música foi Junior´s Farm da fase Wings que eu sempre gostei, mas dado o tempo que ele não a tocava, desde o final dos anos 70, não esperava ouvir ao vivo até que ele começou a executá-la nos shows da On The Run Tour. Rockaço! Obrigado, Paul! Com seu “Oi Recife, boa noite, pernambucanos” num português que se continuarem assim as vindas ao Brasil daqui a pouco estará fluente ele cumprimentou a platéia. A segunda canção-beatle da noite foi All My Loving que já remete àquele clima saudosista dos anos 60, especialmente para a turma que pôde viver essa época abençoada. Jet, outra dos Wings garantiu o clima rockeirão do show e desembocou na super empolgante Got Get Into My Life dos FabFour. Depois Sing The Changes do projeto Fireman, que eu acho que soa muito melhor ao vivo do que no disco, aliás, Rock´n´Roll que se preza sempre soa melhor ao vivo e o cara não esta aí para brincadeira. Outra canção esperada por mim era The Night Before, um “quase um lado B” dos Beatles porque acho meio impossível dizer que se possa existir um lado B desses caras (penso que no caso deles só dá para considerar lado B mesmo os outtakes), a música presente no filme Help! também fez parte da sua trilha sonora, foi a primeira vez que Paul a tocou no Brasil, sendo ainda a primeira vez que ele a toca numa turnê. Para não perder o pique, Let Me Roll It e Paperback Writer, ambas tocadas na guitarra, respectivamente uma Gibson Les Paul e a Epiphone Casino original usada na gravação da faixa. Paul se dirigiu ao piano pela primeira vez para tocar The Long And Winding Road, Nineteen Hundred And Eigthy Five (que ele sempre dedica aos fãs dos Wings embora toque quase uma dezena de temas dessa fase no show), a nova My Valentine dedicada à sua belíssima esposa Nancy em suas próprias palavras e Maybe I’m Amazed que ele dedicou para Linda, sua primeira esposa e musa da canção. Com seu violão Martin em punho Paul tocou Things We Said Today que eu ainda não tinha ouvido ao vivo emendando com And I Love Her. Sozinho no palco ele mandou Blackbird quando uma grande lua cheia surge no telão criando um belo efeito visual. Here Today feita em homenagem ao seu parceiro mais famoso pareceu mais uma vez emocionar Paul que fez uma pausa no meio da canção (por um lado também devido às palmas da platéia que sempre atravessa o tempo quando o tenta acompanhar nessa canção já que ele a toca num andamento livre). Servido do bandolim tocou Dance Tonight, canção do disco Ever Presente Past de 2007 que vem se mantendo desde então no repertório dos shows e que tem um acompanhamento coreográfico do baterista Abe Laboriel que dança durante sua primeira parte tornando hilária a apresentação da música. A banda atual que completa dez anos de formação é constituída por Rusty Anderson (guitarra e violão), Brian Ray (guitarra, baixo e violão) e Paul “Wix” Wickens (teclados e violão), este já está há mais de vinte anos atuando ao lado de McCartney, além da competência instrumental, todos cantam muito bem, o que resulta numa ótima soma aos vocais de Paul ainda em forma aos 69 anos. Mrs. Vanderbilt que também tem se mantido no repertório foi a próxima e então Paul relembrou a eterna Eleanor Rigby para em seguida homenagear George Harrison tocando Something que ele começa sozinho se acompanhando com o ukelele Gibson presenteado pelo amigo, um dos momentos mais comoventes do show, especialmente quando o telão começa a passar imagens deles em estúdio. De improviso a banda tocou o refrão e o primeiro verso de Yellow Submarine, acredito que por manifestações da platéia que costuma gritar o nome de Ringo depois das homenagens aos outros dois parceiros de banda. O clima rockeiro voltou com Band On The Run e Ob-la-di, Ob-la-da que funciona muito bem ao vivo e levantou a multidão mais uma vez. Paul sempre encaixa uma música mais agitada/alegre após cada uma das homenagens, pois ele parece realmente ficar emocionado nesses momentos e usa uma canção mais “neutra” para quebrar o clima depois. Numa sequência alucinante, Paul tocou Back In The USSR, I´ve Got A Feeling e A Day In The Life que emenda com Give Peace A Chance da carreira solo de John Lennon e ao piano fez Let It Be, Live And Let Die com seus fogos de artifício e explosões no palco que sempre impressionam o público e encerrou com Hey Jude. Shows do Paul nunca acabam sem bis e ele retornou para tocar Lady Madonna, Day Tripper e Get Back. Shows do Paul nunca acabam sem ele tocar Yesterday  e ele voltou para tocá-la como primeira música do segundo bis que se seguiu com Helter Skelter (eu ainda quero entender como ele consegue cantar essa música depois de mais de duas horas e meia de show, inacreditável) e não pode haver final mais perfeito para um show dele do que a suíte curta formada pelas músicas Golden Slumbers/Carry The Weight/The End.

Cansou de ler? Imagine o cara tocando isso tudo então, caso o amigo leitor queira fazer uma pausa para uma agüinha pode ir lá que vou emendar o segundo show nessa mesma postagem (meu caro Baratta pode aproveitar para pitar seu cigarro e tomar um cafezinho).

Parte 2: 22/04/2012 (domingo) – O Segundo Show


No final do primeiro show Paul disse: "não vamos dizer tchau, vamos dizer até a próxima”, para mim esse “até a próxima” já era o dia seguinte.

Se comer carne de bode poderia decepcionar o nosso querido Paul, tenho certeza que ele ficaria orgulhoso da pizza vegetariana que Geléia e eu comemos após o primeiro show...quer dizer, na verdade não era bem vegetariana, pedimos uma pizza de frango, mas ela veio sem o frango (!?), não fica difícil entender porque a pizzaria ao lado do Arrudão estava razoavelmente vazia enquanto uma multidão que deixava o estádio poderia ter parado ali para fazer uma boquinha antes de ir embora.

O segundo dia começou com café da manhã reforçado e F1 seguido de uma cervejinha na beira da piscina do hotel, mais ou menos o que poderíamos chamar ”picaretamente” de "trabalho de recuperação" preparando para a segunda noite de show. A convite do Adreson e do Lalau fomos almoçar no restaurante Bode do Nô e experimentar a picanha de bode, me agradou, mais gostei mesmo foi da fava e do queijo manteiga com melaço (sou um queijolátra confesso), depois fomos comer um camarão (outra paixão) e assistir ao jogo Náutico X Sport, e aí começou meu show de bolas-foras, resolvi torcer pro Náutico e nem o pênalti defendido pelo goleiro Gideão salvou o alvirrubro da derrota por 2 a 1, fui torcer pro Santa Cruz e ele perdeu por 2 a 1 para o Salgueiro, Flamengo também perdeu para o Vasco pelo mesmíssimo placar, nem o meu Cruzeiro se salvou perdendo de 3 a 2 para o América-MG pela semifinal do campeonato mineiro. Pelo menos o camarão estava ótimo. De volta ao hotel, Adreson e Lalau levaram dois violões e fizemos uma jam com os nobres anfitriões relembrando os bons tempos dos Engenheiros do Hawaii (a unanimidade entre os quatro) com direito entre outras canções a Comfortably Numb do Pink Floyd e uma bela canção própria do Lalau (grava isso aí, bicho!). E lá fomos nós para o Arrudão novamente escoltados pelos parceiros recifenses.

O segundo show foi dia de pista premium, eu gosto mais do clima da pista comum, mas para ver o show não há dúvida do quanto a premium é melhor, ver o palco por inteiro, os caras ali na frente, os detalhes da iluminação (vários que eu não tinha percebido no dia anterior) e mesmo o som que é excelente no estádio inteiro ainda estava bem melhor ali, tive que mudar de lugar num determinado momento por causa do impacto dos graves das caixas de som explodindo no meu peito (imagine que era principalmente do baixo do Paul. Phoda!). Paul abriu a segunda noite com a opção mais provável: Hello, Goodbye no lugar de Magical Mystery Tour e variou mais três canções em relação à primeira noite, Got To Get Into My Life deu lugar a Drive My Car, I’ve Just Seen A Face entrou no lugar de Things We Said Today e um bônus para mim foi ouvir I Saw Her Standing In  There ao vivo de novo após o segundo show no Rio de Janeiro ano passado, música que ele não tem tocado com frequência nos últimos tempos e que ele acabou trocando no bis por Helter Skelter, provavelmente para poupar um pouco a voz. Eu já tinha achado Sir Paulie meio cansado na noite anterior, apesar de toda a vitalidade do velho Macca e da banda que literalmente desceu a lenha na segunda noite, deve ter pesado o calor que fazia no Recife e os vários dias em que ele já estava na América Latina, em alguns momentos sua voz falhou um pouquinho, não sei se isso foi perceptível para todo o público e lembro-me de ouvir um erro na linha de baixo em uma canção, nada que desabonasse a performance geral, mais uma vez completamente acima da média, o cara faz o maior show de rock do planeta indubitavelmente. Às falas em português ele acrescentou um "Salve a terra de Luiz Gonzaga!" que deixou a platéia atônita de emoção e o aplaudiu intensamente, mais do que pernambucano, Luiz Gonzaga é um patrimônio nacional que deixou o mineiro aqui super orgulhoso também, o povo pernambucano ainda pode se orgulhar da bandeira de Pernambuco que Paul agitou no palco ao final de cada show, não me recordo dele fazer isso com bandeiras de um estado antes, normalmente ele agita a bandeira do país em que está se apresentando, enquanto o tecladista Wix traz a bandeira inglesa, a bandeira brasileira ausente na primeira noite foi carregada pelo guitarrista Rusty na segunda apresentação, no primeiro dia o baterista apareceu no palco com uma bandeira de pirata (fato que eu achei muito engraçado). Paul não precisava fazer nada disso, não precisava se esforçar em falar um pouco do idioma local como ele faz em cada país que visita, aprender frases e gírias típicas de cada região, mas ele faz questão de dar esse mimo aos seus fãs e aos boçais que o criticam eu pergunto: qual é o problema?  Mais uma promessa de "até a próxima" no fim do show e outra vez a sensação de alma lavada e dever cumprido. Valeu Paul, valeu Recife! E que venha o Mineirão em 2013!

Mesmo ainda durante o show eu pensava: “não acredito que estou em Pernambuco vendo esse cara!” Mas estava. Inacreditável, né? Mas acreditem em mim: esses shows foram realmente inacreditáveis!



Fotos: 1 internet (não consegui identificar o autor). 2 e 3 internet (Marcos Hermes). 4 Da esquerda para a direita no alto: Paul ao piano (22/04); Lalau, Geléia, eu e Adreson nos arredores do Arrudão; os passaportes da alegria; close na mão e na Gibson 335 de Rusty (22/04); no meio: eu prestando um tributo ao Geléia e suas fotos com cerveja; as iguarias locais apreciadas durante a estadia; público do dia 21/04 no Arruda, Paul novamente ao piano; embaixo: paisagem do Recife e o pôster do show.

Dando crédito a quem tem: a idéia dos parágrafos "paralelos" em itálico veio do livro Como Dois e Dois São Cinco - roberto carlos (& erasmo & wanderléa) de Pedro Alexandre Sanches, aliás, já devia ter postado sobre este livro há muito, uma hora ele pinta por aqui .

terça-feira, abril 24, 2012

Bob Dylan: Chevrolet Hall, Belo Horizonte 19/04/2012



O show de Bob Dylan poderia ter sido uma experiência bem mais agradável, mas vários fatores não ajudaram muito. Em primeiro lugar é fundamental que se criem mais locais para shows na cidade, a falta de concorrência parece fazer com que a esculhambação role solta, impressionante se pagar o alto preço dos ingressos que andam sendo cobrados no país com suas inexplicáveis taxas de conveniências (que só são convenientes para a empresa que vende os ingressos) para não ouvir um som com qualidade ideal e ainda ter que aguentar seguranças mal-educados e truculentos como os que vi atuando no Chevrolet Hall, não consigo entender a dificuldade de se dizer com educação que não se pode parar no degrau de uma escada, vi uma segurança sendo extremamente grosseira com um senhor por conta disso, um outro segurança não permitiu que uma moça passando mal ficasse sentada num corredor vazio, local esse, aliás, que devia ser o único lugar com espaço no ginásio que parecia super lotado. Estive no show do Ringo Starr no mesmo local e disseram que a lotação foi esgotada, 7 mil pessoas, porém no show do Dylan que também teve seus ingressos esgotados a casa parecia bem mais cheia. Será que venderam ingressos além da conta?

Quando Dylan abriu o show em clima “sessentista” com a música Leonard-Skin Pill-Box Hat do disco Blonde On Blonde (1966) eu ainda estava entrando, vim pelo corredor ouvindo os primeiros acordes e gastei um tempinho ainda para conseguir achar um lugar para me acomodar no ginásio enquanto ele tocava It´s All Over Now, Baby Blue do mesmo disco, depois ele tocou Things Have Changed, música que eu não conhecia e que fez parte da trilha sonora de um filme que eu nunca vi chamado Wonder Boys (Garotos Incríveis no Brasil) lançado em 2000, Tangled Up In Blue do disco Blood In The Tracks de 1975 veio na sequência e depois três canções dos anos 2000 que me fizeram cair a ficha de que estou desatualizado no repertório do Dylan em pelo menos dez anos, foram elas: Beyond Here Lies Nothin´ do álbum Together Throug Live de 2009, Spirit On The Water do Modern Times de 2006 e High Water, homenagem à lenda do blues Charley Patton presente no disco Love & Theft de 2011, desse disco ele tocou ainda a música Honest With Me e na sequência Simple Twist Of Fate, outra canção do disco Blood In The Tracks. Também dos anos 2000 e presente no Modern Times ele fez Thunder On The Mountain mais para o fim do show. De volta aos anos 60 ele tocou Desolation Row do Highway 61 Revisited (1965), o disco mais prestigiado do show com quatro canções apresentadas, as outras foram: Ballad Of A Thin Man, Like A Rolling Stone (o momento de maior empolgação por parte de platéia que cantou em alto volume o refrão junto com Dylan) e a faixa título. A música que valeu o show para mim foi Man In The Long Black Coat do álbum No Mercy (1989) pelo qual sou completamente fascinado, mas que não esperava nenhuma de suas faixas inclusas no setlist. All Along The Watchtower do disco John Wesley Harding (1967) que teve a célebre regravação de Jimi Hendrix que de tão marcante fez com o próprio Dylan passasse a tocá-la mais na levada da releitura do guitarrista encerrou o show que teve ainda o bis com a música Rainy Day Women #12 &35 do Blonde On Blonde. A excelente banda que acompanhou Dylan que se alternou na guitarra, gaita e nos teclados é formada pelo velho de guerra Tony Garnier no baixo, os guitarristas Stu Kimball e Charlie Sexton, George Receli na bateria e Doni Heron nos teclados.

Quanto ao som que também já andei comentando aqui em outras postagens, andou bem irregular, bom no começo do show ele se tornou demasiado grave durante o decorrer da apresentação, as palavras cantadas por Dylan se tornavam totalmente ininteligíveis às vezes e não era só por conta de voz ou da dicção do artista. Boa parte do público provavelmente não se incomodou com isso, pois parecem ter ido lá mais por curiosidade e badalação, muita gente dispersa, umas pessoas à minha frente bateram papo o show inteiro discutindo relacionamentos, festas de aniversário e outras coisas super relevantes para se debater ao som de Dylan ao vivo, não mudei de lugar por falta de opção, mal dava para andar e acho que o resto do ginásio não estaria muito diferente. Agora ridículo mesmo eram os gritinhos frenéticos da platéia toda vez que Dylan tocava gaita, pareciam macacas de auditório se manifestando quando sobe a plaquinha por trás da câmera nos programas de TV dizendo: "gritem", "aplaudam" porque não bastasse a falta de técnica do músico, o som da gaita ainda estava estridente pacas. Vi o show da primeira sacada da arquibancada, mais exatamente entre a arquibancada, a escada e um corredor, ponto estranho, mas foi por ali que muita gente teve que se arranjar para tentar curtir e aproveitar um pouco os reais investidos.

A sensação que fiquei é que o local ideal para um show como esse seria um teatro ou uma casa noturna aconchegante com mesas, já que as variações e modificações nos arranjos feitas por Dylan e banda pedem um pouco mais de concentração para perceber suas sutilezas. De qualquer forma valeu ver o cara em ação, embora ele fique mais estático no palco, também vi um Dylan que nunca havia visto nos vídeos, fazendo pose e uns leves trejeitos de showman tímido. E já que a Never Ending Tour nunca vai acabar espero poder revê-lo ao vivo em outro local e circunstância melhores.

Ah, apesar do meu aparente mau-humor na maior parte do texto eu gosto (muito) do Dylan e também gostei do show, que fique bem claro isso. Uma estória que costumo contar (e que levo menos de 5 segundos para desmentir) é que me chamo Robert por causa dele.

Foto: acreditem se quiser essa foi a melhor que eu consegui tirar, como o marrento Bob Dylan proibiu a imprensa (incluindo fotógrafos) nem na net consegui achar uma bacana.

P.S. Falando em fotos aí estão as fotos da segunda edição do Balança Zap, ficam aqui os agradecimentos à Banda Mestiço e à rapéize da produção: http://balancazap.blogspot.com.br/2012/04/balanca-zap-mestico.html




domingo, abril 15, 2012

José Saramago: Uma Trilogia? Ou Variações Em Torno De Um (Quase) Mesmo Tema?



Vez por outra as postagens desse blog fogem do tema Rock’n’Roll e/ou música e essas postagens vão para o marcador Geral, embora eu procure evitar fazê-lo, dessa vez o motivo é para comentar sobre três livros do escritor português José Saramago. Eu sempre digo que não escolho livros, eles que me escolhem, tenho uma lista com vários títulos que pretendo ler, mas no meio do caminho vão aparecendo outros, O Evangelho Segundo Jesus Cristo de Saramago deve ter ficado uns quinze anos na espera. Só fui conhecer a obra do escritor no ano passado durante uma viagem a Porto Alegre quando minha amiga Jéssica me emprestou um exemplar que ela havia tomado emprestado numa biblioteca, o livro era o Intermitências da Morte, li lá mesmo durante a estadia, apesar de estar na cidade pela primeira vez e estivesse curtindo muito os passeios pela capital gaúcha, um dos prazeres durante a viagem era ficar no quarto do hotel lendo o livro pela manhã. Um soco na boca do estômago esse livro, e eu já vinha de um histórico de leituras pesadas que iam aos limites extremos da crueldade e da miséria do ser humano, Crime e Castigo de Dostoiéviski e A Hora da Estrela de Clarice Lispector. O livro começa falando de um dia num país fictício em que ninguém morreu, o fato se sustenta por um longo período, a partir disso desenrola-se a estória, mostrando as complicações e implicações que uma possível imortalidade traria à sociedade e como seriam as prováveis reações das chamadas autoridades que por sua vez não resultam muito diferentes do que já são. Fiquei impressionado logo de início com Saramago. De volta a Belo Horizonte, meu amigo Rodrigo Braga (vulgo Busha) me emprestou Ensaio Sobre a Cegueira, depois do soco na boca do estômago, esse livro foi a joelhada na cara quando você se abaixa para tentar recuperar o ar, não fosse a minha resistência de boxeador teria ido à nocaute antes de terminar o livro. Duro, cruel, sofrido. Desta vez a cegueira toma de assalto todo um país, o que serve de ponto de partida para o autor mais uma vez abordar e especular como governo e povo reagiriam à essa nova realidade. Saramago vai ao âmago da questão, sem filtros. Deu para perceber logo de início que o livro se tratava de uma variação sobre um (quase) mesmo tema, sendo que o Ensaio Sobre a Cegueira foi escrito dez anos antes do Intermitências da Morte. Nesse livro, uma mulher assume a posição de heroína, uma heroína sem nome, sendo tratada simplesmente como a mulher do médico. Na verdade nenhum dos personagens tem nome. Por ser um best-seller e inclusive ter virado filme talvez minhas apresentações sejam desnecessárias. Na sequência li Ensaio Sobre A Lucidez, escrito por sua vez entre os dois livros, nove anos após o Ensaio Sobre a Cegueira e apenas um ano antes do Intermitências da Morte, os três títulos me parecem muito próximos do que se pode considerar uma trilogia. Já imaginava pelo título que esta estória seria mais uma variação na linha dos dois livros lidos anteriormente. A impressão, lógico, se confirmou. O livro começa num dia de eleição em que poucos eleitores compareceram para votar. Depois de convocada uma nova eleição, os eleitores são tomados por uma lucidez que abre seus olhos e faz com que compareceram às urnas e votem massivamente em branco questionando assim a democracia e sistema de governo em que vivem que é exatamente dentro dos nossos padrões reais e é dentro desse questionamento que o livro se move. Saramago faz ataques muito bem direcionados às autoridades e à maneira como manipulam a mídia para vender-nos seus falsos valores, assim como também cutuca a sociedade como um todo e como cada um se posiciona dentro dela. É nesse ponto e nas críticas em que o livro se apóia que reside sua virtude, porém, depois de ter lido os dois livros citados anteriormente (duas obras-primas, diga-se de passagem) estava certo que este iria pelo mesmo caminho, mas não foi o que aconteceu, o livro parece não se desenvolver, o autor faz muitas voltas para não chegar a lugar nenhum, lá pelo meio do livro ele acaba virando quase que um romance de espionagem, como era dado a esse tipo de leitura no início da adolescência resolvi tentar “entrar” no livro por essa ótica, mas ainda assim ele não “me pegou”; e então eis que surge no livro os principais personagens do Ensaio Sobre a Cegueira, em especial a heroína, mulher do médico, acho que só então me dei conta do quanto tinha admirado essa personagem, tal qual uma Ana Terra de Érico de Veríssimo. A partir de sua aparição, li o livro vorazmente com toda empolgação que me faltara até então, ainda que sentisse a estória um pouco perdida pelo autor que me parecia ter escrito a obra preso a circunstâncias de contrato e tivesse prazo para entregá-lo à editora (não que eu pense que esse não seja uma situação comum, mas pareceu-me deveras forçada a escrita de Saramago nessa obra), nesse labirinto entre seguir e terminar a obra, acho que o autor se perdeu. Nesse momento sou obrigado a interromper o leitor e dizer-lhe que caso não tenha lido o livro e pretende fazê-lo, pare a leitura do texto nesse momento, pois vou contar o final da estória (se for esse seu caso, volte depois para ler a conclusão). No desespero de não saber o que fazer com a estória e dar um desfecho genial como na “Cegueira” e no “Intermitências”, Saramago toma uma decisão radical, mata a heroína a sangue frio e sem piedade, mais ainda do que o policial que ele faz atirar no livro. Para mim, apesar da inteligentíssima crítica política, o Ensaio Sobre a Lucidez não fornece o espelho que eu imagino que o autor queria propor para o Ensaio Sobre a Cegueira, ainda assim, para quem ler o Ensaio Sobre A Cegueira vale a pena conferir o Ensaio Sobre a Lucidez. Apesar de certa decepção com o Ensaio Sobre Lucidez, os livros Ensaio Sobre a Cegueira e Intermitências da Morte são maravilhosos e desempatam essa “trilogia” de forma brilhante onde um simples 2 X 1 torna-se uma goleada. A propósito, já estou mergulhado no meu quarto livro de Saramago, chegou a vez na fila (finalmente) do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo que parece ser mais um gol de placa do autor que por acaso também foi um apaixonado por futebol. 


Fotos:1. Reprodução das capas do três livros publicados pela Editora Companhia das Letras; 2. José Saramago (divulgação).

sábado, abril 07, 2012

Como é que se chama aquele artista mesmo?




Uma coisa que eu acho muito engraçada é ver pessoas trocando nomes dos outros, não nomes de pessoas “comuns”, decorrente de uma simples confusão ou reles esquecimento, mas nomes de pessoas conhecidas e que costumam ser repetidos à exaustão como acontece principalmente com artistas famosos, nomes que costumamos ouvir e ler a todo instante e ainda assim, alguns insistem em trocar.  No plano comum, o meu nome mesmo é um que as pessoas sempre trocam, apesar de estrangeiro, não consigo ver muita dificuldade para se falar Robert, no entanto, freqüentemente me chamam de Roger, Roberto ou ainda Rob´s (a versão predileta de pessoas com mais idade), não consigo entender como Rob´s (ou Robis) pode ser mais fácil de falar do que Robert, mas enfim, o erro acontece com nomes famosos e mais simples ainda, não falo do caso aceitável e desculpável de se falar errado o nome de um Arnold Schwarzenegger ou de uma Amy Winehouse. Não é a dificuldade em falar os nomes que por ventura possam ser complicados que eu acho engraçado, tanto não vejo graça nem debocho de pessoas falando palavras em geral de forma errada, o que me diverte são casos como o de uma amiga da minha mãe costuma chamar o Milton Nascimento de Newton Nascimento e o político ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso de Milton Cardoso (parece até proposital). Outro dia uma senhora conversando comigo chamou a Elba, de Elza Ramalho (fiquei pensando se ela chama a Elza Soares de Elba Soares). Gilberto Gil vira Roberto Gil para alguns, o cantor Fagner vira Wagner para outros. 

Um caso que não se trata de simples confusão, mas até de ”muito conhecimento” foi o de um rapaz que trabalhava na segurança local de um show do Roberto Carlos na cidade mineira de Sete Lagoas que me disse (sei lá de onde ele tirou isso) que Roberto Carlos era só o nome artístico e que o verdadeiro nome do Rei era Alberto Carlos, não adiantou eu dizer que o nome completo dele era Roberto Carlos Braga e que na verdade ele tinha um irmão chamado Carlos Alberto e outro chamado Lauro Roberto e que sabia disso por várias fontes, uma vez que colecionava tudo sobre a vida dele, o rapaz ficou me fitando com um olhar desconfiado (fruto da nossa mineirice) e certamente foi embora acreditando ainda na sua informação. No vídeo The World Tonight (making of do disco Flaming Pie), Paul McCartney chama Lenny Kravitz de Lenny Kradick para depois rir quando o avisaram que tinha pronunciado o nome errado e se desculpar sem grilos dizendo: “me chamam de Paul McCarthy”!  O caso que provavelmente me chamou a atenção para o lado cômico disso pela primeira vez foi quando em 1992, também saindo de um show do Roberto Carlos com meu pai, fomos a um restaurante e o simpático senhor da mesa ao lado ouvindo o nosso papo sobre música acabou puxando conversa e se confessando MUITO fã do Tom McCartney!


Fotos (internet): Os famosos Roberto Gil, Alberto Carlos, Lenny Kradick, Tom McCartney. Elza Ramalho, Newton Nascimento e Wagner.





P.S. Então “rapéize”, depois da nossa ótima noite de estréia com a banda Vagabundo Não é Fácil, vai rolar a segunda edição da festa/show Balança Zap (evento que estou produzindo junto ao pessoal da Cia. Teatral Zap18), dessa vez apresentando a banda Mestiço. O evento será sábado dia 14/04. Fica aqui mais uma vez o convite à todos! Maiores informações: http://balancazap.blogspot.com.br/