Paul McCartney é ousado, anunciou o fim dos Beatles e
lançou um disco gravado em casa de forma totalmente experimental por pura
diversão num gravadorzinho de quatro canais. Paul McCartney é louco, depois do
fim dos Wings, sua segunda banda com a qual também alcançou sucesso mundial se
mantendo nos topos das paradas, gravou mais um disquinho experimental baseado
em sintetizadores e música eletrônica que fugia de seu estilo característico.
Isso para não falar das composições de aspirações eruditas como o Liverpool
Oratorio, o poema sinfônico Standing Stone e a mais recente composição para
ballet Ocean´s Kingdom. Agora ele aparece dando a cara para bater mais uma vez
lançando um disco com releituras de clássicos do jazz e do pop americano que
ouvia na sua infância. Paul McCartney adora se divertir, e isso é o que ele
fez nesse disco que apesar da grande produção soa mais como
um projeto despretensioso e prazeroso que um cara que já fez tudo o que ele fez na
carreira pode se dar ao luxo (e direito) de fazer, a começar pelo trocadilho do título do álbum extraído da letra da música de abertura I'm Gonna Sit Right Down que ao mesmo tempo que quer dizer "beijos na parte de baixo" ou "beijos no final", no caso de uma carta, pode ser interpretado como "beijos na bunda". O álbum tem produção de
David LiPuma que produziu entre outros, Miles Davis, George Benson, Marcus
Miller, João Donato, Tom Jobim, João Gilberto e Diana Krall que toca no disco acompanhada de sua banda, além das participações do guitarrista John
Pizzarelli e seu pai Bucky Pizzarelli (ex-guitarrista da banda de Frank
Sinatra), Eric Clapton e Stevie Wonder e a London Symphony Orchestra.
- I'm Gonna
Sit Right Down (Fred E.
Ahlert/Joe Young) -
piano, guitarra e bateria fazem o riff completado com o baixo solo na
introdução. Mas não se enganem, não é Paul quem toca o instrumento. Esse é
o seu primeiro álbum apenas como cantor. Num primeiro momento a voz de
Paul não me agradou muito no disco, gosto de cantores com uma voz um pouco
mais grave nesse estilo, os meus prediletos quase óbvios são Tony Bennett e
Frank Sinatra. Paul canta mais suave e com leve falsete no disco, fazendo
uma linha mais Fred Astaire que ele cita como inspiração no álbum e é um
dos seus primeiros ídolos de infância, inclusive já homenageado por Paul na
canção You Gave Me The Answer.
- Home
(When Shadows Fall) (Peter van
Steeden/Jeff Clarkson/Harry Clarkson) - Destaque para a
orquestração e guitarra elegante com seus arpégios dialogando com a
orquestra e a voz de Paul.
- It's Only
a Paper Moon (Harold Arlen/E.
Y. Harburg/Billy Rose) - A mesma elegante guitarra com um belo
timbre surge nessa canção com ritmo mais suingado que caiu muito bem na
voz do Paul, um solo de violino passeia pela canção num jogo de
pergunta-resposta com a voz e o assobio de Paul no meio da música.
- More I Cannot
With You (Frank Loesser)
- Uau! Que guitarra! Paul sussurra a letra com arranjo
suave e minucioso apresentando orquestra de cordas mais uma vez.
- The Glory
of Love (Billy Hill) - O
contrabaixo introduz a canção e acompanha a voz de Paul com exclusividade
durante quase todo o primeiro minuto da canção. Um solo sutil de guitarra
no meio da canção.
- We Three
(My Echo, My Shadow and Me) (Sammy
Mysels/Dick Robertson/Nelson Cogane) - Sem dúvidas, o grande
destaque instrumental fica mesmo por conta da guitarra que sempre aparece
muito bem ao longo do disco, para contrabalançar Paul faz uma de suas
melhores interpretações nessa faixa.
- Ac-Cent-Tchu-Ate
the Positive (Arlen/Johnny
Mercer) - Gravada
por Ella Fitzgerald, essa é outra canção mais suingadinha do álbum que são
as que eu acho que soaram melhor na voz do Sir predileto da casa.
- My
Valentine (Paul McCartney)
- Composição inédita de Paul McCartney, assim como fez em Run Devil Run
(outro álbum de releituras, mas enfocando o Rock'n'Roll dos anos 50) no
qual além das releituras incluiu algumas canções inéditas de sua lavra
seguindo o estilo das outras canções do disco . Quando o guitarrista de
plantão se ausenta da banda, quem surge para executar um solo de violão de
nylon é ninguém mais, ninguém menos que Eric Clapton.
- Always (Irving Berlin) - A sensação
ao ouvir o disco pela primeira vez era que se tratava de uma apresentação
ao vivo que ia aquecendo e melhorando com o decorrer. Embora gravado em
estúdio e sem saber a ordem fiquei com essa sensação nas duas primeiras
audições, desse ponto para frente o disco me parece soar melhor. Grande
interpretação e outro belo solo de guitarra.
- My Very
Good Friend the Milkman (Harold
Spina/Johnny Burke) - Não bastasse cantar como ninguém e executar
diversos instrumentos com extrema competência, Paul ainda tem mais essa qualidade:
assobia muito bem! E esse é o destaque nessa canção junto com o solo de
trompete.
- Bye, Bye,
Blackbird (Ray Henderson/Mort
Dixon) - Essa já foi registrada por outro beatle antes, Ringo Starr a
gravou em Sentimental Journey, seu álbum de releituras de standards do
jazz também. O piano aparece de maneira mais efetiva nessa canção.
- Get
Yourself Another Fool (Haywood
Henry/Tucker) - Engraçado, quando comecei a ouvir essa música que
apresenta um solo de guitarra na introdução pensei: parece muito com o timbre e as frases de Clapton! E isso antes de saber quem em definitivo havia
gravado o instrumento na faixa que inclusive já tem um pezinho mais no
blues.
- The Inch
Worn (Loesser) - Um violão de aço surge
apresentando a canção de clima melancólico que remete mais à Inglaterra do
que aos EUA, tanto que até parece uma composição de Paul.
- Only Our
Hearts (McCartney) - A outra inédita de Paul
no disco (gostei mais até do que My Valentine) não destoa do restante do
trabalho. Com participação especial de Stevie Wonder que faz um solo de gaita
fecha bem o disco e dá vontade de colocá-lo para tocar mais uma vez.
Paul disse que o disco é para ser ouvido em casa depois
de um dia de trabalho acompanhado de uma xícara de chá ou de uma taça de vinho.
Se fosse comparar esse disco com uma garrafa de vinho não diria que ele é fruto
de uma safra especial como um Ram 71, um Band On The Run 73 ou ainda um
Flaming Pie 97, diria (como dizem os chatinhos) que ele é bastante honesto, bom
para o dia-a-dia.
Em tempo: O disco Ram que apareceu aqui na minha lista de
discos de 2011 acaba de ser relançado em edições especiais em vinil e cd. Sonho
de besta: será que Paulie andou lendo o rockngeral?
Ainda: Não que esse blog tenha algum compromisso com
tempo, mas escrevi sobre o disco na ocasião de seu lançamento em fevereiro, na verdade pouco
antes dele sair mesmo, a partir de um mp3 vazado, a demora para postar aqui foi
porque não queria comentá-lo simplesmente a partir da audição do som tosco do
áudio mp3, mas como ainda não o adquiri resolvi publicar assim mesmo. Pelo
menos ele não precisou esperar 40 anos como o Ram para ser comentado aqui.
(Como se fizesse falta, rs).
É mano, como eu já te falei por msn, ainda não ouvi o disco como ele deve ser ouvido. Mas com os seus comentários eu me animo de colocá-lo na mira do canhão de laser, tempos modernos, blé! Preferiria colocá-lo na vitrola, mas minha atual situação financeira pra ficar feia precisaria "embonitar"! Disco para ouvir depois de um dia de trabalho, gostei disso. Aliás, o Unplugged é na mesma linha, é leve, coeso, Paul é Paul. Outro ídolo nosso também se aventurou (ao longo da carreira e não em um disco específico) colocar o estilo jazz, não seriam releituras, mas suas próprias músicas. Roberto Carlos, canções como Música Suave, Emoções e Pra Sempre, são 3 belos exemplos disso. Outro artista que gosto muito também fez releituras de jazz, Rod Stewart, Great American Songbook. Gostei dos trabalhos.
ResponderExcluirNo caso do Paul, as participações de Clapton, Diana, Stevie Wonder, John Pizzarelli, que já tinha feito um tributo aos Beatles em forma de jazz... timaço. Vou ouvir lendo o seu post. Abraço mano.
Pô, eu fico vendo os sites gringos e dá muito vontade de comprar o vinil, mas no caso desse vou optar pelo cd mesmo. O Roberto vez por outra canta algo nesse estilo, seria bacana se ele fizesse um disco assim cantando algo do repertório do Tony Bennett, Sinatra e do Chet Baker que ele gosta muito, mas no caso dele é mais complicado, o disco com o Caetano cantando Tom Jobim que foi um projeto maravilhoso eu ainda ouço e acho que ele não existe, rs.
ResponderExcluirGrande abraço e valeu a presença de sempre!