terça-feira, abril 24, 2012

Bob Dylan: Chevrolet Hall, Belo Horizonte 19/04/2012



O show de Bob Dylan poderia ter sido uma experiência bem mais agradável, mas vários fatores não ajudaram muito. Em primeiro lugar é fundamental que se criem mais locais para shows na cidade, a falta de concorrência parece fazer com que a esculhambação role solta, impressionante se pagar o alto preço dos ingressos que andam sendo cobrados no país com suas inexplicáveis taxas de conveniências (que só são convenientes para a empresa que vende os ingressos) para não ouvir um som com qualidade ideal e ainda ter que aguentar seguranças mal-educados e truculentos como os que vi atuando no Chevrolet Hall, não consigo entender a dificuldade de se dizer com educação que não se pode parar no degrau de uma escada, vi uma segurança sendo extremamente grosseira com um senhor por conta disso, um outro segurança não permitiu que uma moça passando mal ficasse sentada num corredor vazio, local esse, aliás, que devia ser o único lugar com espaço no ginásio que parecia super lotado. Estive no show do Ringo Starr no mesmo local e disseram que a lotação foi esgotada, 7 mil pessoas, porém no show do Dylan que também teve seus ingressos esgotados a casa parecia bem mais cheia. Será que venderam ingressos além da conta?

Quando Dylan abriu o show em clima “sessentista” com a música Leonard-Skin Pill-Box Hat do disco Blonde On Blonde (1966) eu ainda estava entrando, vim pelo corredor ouvindo os primeiros acordes e gastei um tempinho ainda para conseguir achar um lugar para me acomodar no ginásio enquanto ele tocava It´s All Over Now, Baby Blue do mesmo disco, depois ele tocou Things Have Changed, música que eu não conhecia e que fez parte da trilha sonora de um filme que eu nunca vi chamado Wonder Boys (Garotos Incríveis no Brasil) lançado em 2000, Tangled Up In Blue do disco Blood In The Tracks de 1975 veio na sequência e depois três canções dos anos 2000 que me fizeram cair a ficha de que estou desatualizado no repertório do Dylan em pelo menos dez anos, foram elas: Beyond Here Lies Nothin´ do álbum Together Throug Live de 2009, Spirit On The Water do Modern Times de 2006 e High Water, homenagem à lenda do blues Charley Patton presente no disco Love & Theft de 2011, desse disco ele tocou ainda a música Honest With Me e na sequência Simple Twist Of Fate, outra canção do disco Blood In The Tracks. Também dos anos 2000 e presente no Modern Times ele fez Thunder On The Mountain mais para o fim do show. De volta aos anos 60 ele tocou Desolation Row do Highway 61 Revisited (1965), o disco mais prestigiado do show com quatro canções apresentadas, as outras foram: Ballad Of A Thin Man, Like A Rolling Stone (o momento de maior empolgação por parte de platéia que cantou em alto volume o refrão junto com Dylan) e a faixa título. A música que valeu o show para mim foi Man In The Long Black Coat do álbum No Mercy (1989) pelo qual sou completamente fascinado, mas que não esperava nenhuma de suas faixas inclusas no setlist. All Along The Watchtower do disco John Wesley Harding (1967) que teve a célebre regravação de Jimi Hendrix que de tão marcante fez com o próprio Dylan passasse a tocá-la mais na levada da releitura do guitarrista encerrou o show que teve ainda o bis com a música Rainy Day Women #12 &35 do Blonde On Blonde. A excelente banda que acompanhou Dylan que se alternou na guitarra, gaita e nos teclados é formada pelo velho de guerra Tony Garnier no baixo, os guitarristas Stu Kimball e Charlie Sexton, George Receli na bateria e Doni Heron nos teclados.

Quanto ao som que também já andei comentando aqui em outras postagens, andou bem irregular, bom no começo do show ele se tornou demasiado grave durante o decorrer da apresentação, as palavras cantadas por Dylan se tornavam totalmente ininteligíveis às vezes e não era só por conta de voz ou da dicção do artista. Boa parte do público provavelmente não se incomodou com isso, pois parecem ter ido lá mais por curiosidade e badalação, muita gente dispersa, umas pessoas à minha frente bateram papo o show inteiro discutindo relacionamentos, festas de aniversário e outras coisas super relevantes para se debater ao som de Dylan ao vivo, não mudei de lugar por falta de opção, mal dava para andar e acho que o resto do ginásio não estaria muito diferente. Agora ridículo mesmo eram os gritinhos frenéticos da platéia toda vez que Dylan tocava gaita, pareciam macacas de auditório se manifestando quando sobe a plaquinha por trás da câmera nos programas de TV dizendo: "gritem", "aplaudam" porque não bastasse a falta de técnica do músico, o som da gaita ainda estava estridente pacas. Vi o show da primeira sacada da arquibancada, mais exatamente entre a arquibancada, a escada e um corredor, ponto estranho, mas foi por ali que muita gente teve que se arranjar para tentar curtir e aproveitar um pouco os reais investidos.

A sensação que fiquei é que o local ideal para um show como esse seria um teatro ou uma casa noturna aconchegante com mesas, já que as variações e modificações nos arranjos feitas por Dylan e banda pedem um pouco mais de concentração para perceber suas sutilezas. De qualquer forma valeu ver o cara em ação, embora ele fique mais estático no palco, também vi um Dylan que nunca havia visto nos vídeos, fazendo pose e uns leves trejeitos de showman tímido. E já que a Never Ending Tour nunca vai acabar espero poder revê-lo ao vivo em outro local e circunstância melhores.

Ah, apesar do meu aparente mau-humor na maior parte do texto eu gosto (muito) do Dylan e também gostei do show, que fique bem claro isso. Uma estória que costumo contar (e que levo menos de 5 segundos para desmentir) é que me chamo Robert por causa dele.

Foto: acreditem se quiser essa foi a melhor que eu consegui tirar, como o marrento Bob Dylan proibiu a imprensa (incluindo fotógrafos) nem na net consegui achar uma bacana.

P.S. Falando em fotos aí estão as fotos da segunda edição do Balança Zap, ficam aqui os agradecimentos à Banda Mestiço e à rapéize da produção: http://balancazap.blogspot.com.br/2012/04/balanca-zap-mestico.html




2 comentários:

  1. Taí outro gênio. O grande Dylan. Não vi ao vivo ainda. Mas ele vez ou outra está sempre por aqui. O osso mesmo é as acomodações para ver nossos ídolos. Além das acomodações, acústica e tals. Na verdade eu assisti umas três vezes a shows com lugares com mesa e confesso que não curti muito. Também não gosto muito de pista, porque é o de sempre: empurra empurra, pisão no pé, falatório, gente do seu lado que não conhece a música. Da arquibancada foi o melhor lugar que eu assisti a shows. Exceto uma vez num Hollywood Rock da vida, em que dava pra descer da arquibancada para o gramado. Mas eu acho assim. Show com acomodações legais, sem empurra empurra, acústica boa, podendo até repetir música... to começando a crer que é só vendo dvd... hahaha. foi podre, mas to começando a acreditar nisso.

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  2. Ah, como diria Tim Maia: "Tudo é tudo e nada é nada", hehe...DVD nunca vai substituir a energia e o espírito de um show ao vivo. Um show tipo o do Paul eu prefiro ver em pé mesmo e na pista, seja a normal ou a premium, um show como o do Dylan e do Roberto é melhor ver sentado e num teatro de preferência, mas...sobram mesmo são os ginásios com suas "acústicas maravilhosas" para esses eventos.Lama!

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