sexta-feira, julho 19, 2013

Engenheiros do Hawaii - Uma Breve Viagem Discográfica: Os Anos Gessinger, Licks & Maltz

4. Capítulo III

 Alívio Imediato (1989)



Depois de três discos de estúdio os Engenheiros do Hawaii resolveram seguir o exemplo de uma de suas grandes influências, o power trio canadense Rush e lançar um disco ao vivo a cada três de estúdio, prática que eles manteriam pelo menos durante a fase Gessinger, Licks & Maltz. Alívio Imediato foi o nome de batismo do disco que além das versões ao vivo de alguns de seus sucessos dos álbuns anteriores trazia também as inéditas Nau À Deriva e a faixa-título. 

Nau à Deriva abre o disco com uma curta e inesperada introdução de teclado sampleado que é sucedida pela entrada da bateria de Carlos Maltz, o violão de Augusto Licks (tocando um indefectível acorde de mi maior com quarta sempre presente nas músicas da banda) e o baixo de Humberto Gessinger fazendo um slap, no meio, surge a guitarra de Augustinho, um órgão Hammond e mais teclados simulando metais. Mais do que uma banda autoral, os Engenheiros se afirmam com uma banda de sonoridade única entre as dezenas de outras bandas com as quais dividiam a cena do rock nacional dos anos 1980. Na letra, Humberto segue desenvolvendo seu estilo com jogos de palavras e paradoxos (“meu coração é um porto sem endereço certo, é um deserto em pleno mar”).  Alívio Imediato tem Augusto Licks registrando na guitarra mais um de seus grandes solos unindo técnica e feeling como poucos. Humberto e Carlos também mostram evoluções em seus instrumentos criando junto com Augusto arranjos bastante originais.  As duas faixas evidenciam mais a sonoridade que a banda teria nos próximos álbuns, prevalecendo os timbres das guitarras e baixos Steinberger, a exploração de efeitos digitais, uma presença mais constante de teclados, até então tocados por Augusto (mas que nessas duas faixas gravadas em estúdio são executados por Paulo Henrique e Yuri Palmeira). 

A parte ao vivo do disco inicia com A Revolta dos Dândis I e II com direito à voz do apresentador do espetáculo anunciando: "O som dos Engenheiros do Hawaii". Uma característica da banda ao vivo eram os improvisos e mudanças nos arranjos originais, aqui, A Revolta I ganha um trecho  blues no final. A mixagem deixa a platéia em primeiro plano propositalmente e como diria Humberto na época, o irritava os discos ao vivo brasileiros onde só às vezes cabia um aplauso ou um grito do público aqui ou ali. Fato é que poucos desses discos eram realmente ao vivo, quando não tinha a maior parte das músicas regravadas em estúdio chegavam a utilizar até mesmo aplausos "falsos" também gravados em estúdio, por exemplo, como os que ouvimos em séries de tv (a prática, aliás, continua sendo usada até hoje, basta ouvir com mais atenção os inúmeros discos "ao vivos" despejados no mercado). No entanto, no disco eram só os três músicos e os fãs, sem um overdub sequer, se a guitarra deu uma semitonada que seja, ficou lá como foi executada no show. Infinita Highway com boas frases de baixo de Gessinger na introdução tem uma versão totalmente diferente, mais agitada e vigorosa com mais um solo genial de Augusto Licks que já tinha sua assinatura sonora definitiva e inconfundível, ele não soava como nenhum outro guitarrista, o maior mérito que todo bom guitarrista sonha atingir.

Abrindo o lado B, uma versão picotada de A Verdade A Ver Navios para caber no vinil, eles fizeram o que algumas rádios fazem literalmente cortando trechos da gravação e chegaram a excluir estrofes e refrões inteiros, ela acaba sendo quase um prelúdio para a revigorada versão de Toda Forma de Poder que ganha novo arranjo com mais "pegada", uma empolgante linha de baixo, a guitarra distorcida, a bateria comandando pausas e a energia extra vinda do público que também solta a voz (+ gritos e assovios) nas “canções irmãs” Terra de Gigantes e Somos Quem Podemos Ser.Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém reaparece bem diferente da versão lançada em disco no anterior e mostra a vocação de Humberto para comandar a platéia ainda que não falasse mais do que "boa noite" no início e "tchau, valeu" no final dos shows, ele conseguia isso usando apenas a entonação da voz ao cantar e o jogo de corpo enquanto tocava o baixo. Fechando o disco, desta vez produzido por Marcelo Sussekind, Longe Demais das Capitais, faixa-título do primeiro álbum da banda numa versão que comparada à original, mostra o peso e a diferença que Augusto Licks fez na banda cometendo mais uma grande execução da sua "seis cordas". A edição em CD tem ainda Tribos & Tribunais, outro bom momento do show. A capa com mais uma engrenagem, agora imitando o círculo da bandeira nacional e o título Alívio Imediato substituindo os dizeres "Ordem e Progresso", mostra a banda no palco numa imagem meio opaca na qual não dá pra ver claramente os integrantes, junto ao recorte do público sombreado tem um quê de disco pirata (me refiro aos bootlegs), provavelmente proposital, ela representa muito bem a sonoridade ao vivo do disco, gravado direto e sem truques de produção como só um disco pirata poderia mesmo ser. O primeiro ciclo estava fechado, eles mal sabiam do sucesso que os aguardava no ano seguinte e como seriam intensos os próximos quatro discos e anos seguintes. 

11 comentários:

  1. Eduardo Dornelas7/19/2013 2:36 PM

    Talvez tenha sido esse disco que tenha me feito conhecer e gostar de "Engenheiros".Digo talvez porque as lembranças não são muito claras, mas sei que conheci as versões ao vivo de "Terra de Gigantes" e "Somos Quem Podemos Ser" e "Toda Forma de Poder" antes das originais.E talvez seja por isso que eu prefira as versões ao vivo.Por incrível que pareça só vir a conhecer Infinita Highway um ano depois ( ou dois anos , não tenho certeza) quando ganhei de natal o LP junto com o LP Papa é Pop, não me lembro de ouvi-la no rádio até então, nem a versão original nem ao vivo.

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  2. "as lembranças não são muito claras"...é a idade, meu caro, hauhaua...disco de 1989, já vai um "tempim bão" aí...Eu também gosto imensamente desses versões ao vivo, acho que posso dizer que gosto dessas quatro que você citou mais nesse disco ao vivo do que as originais, incluindo "Longe Demais das Capitais" e "Ouça o que eu digo..."

    E o natal rendeu, hein? Ganhar os dois discos de presente de uma vez, naquela época disco de vinil valia mais que barra de ouro.

    Abraço e valeu a preza!

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  3. Esse disco foi um que eu ouvi bastante, porém não à exaustão. Um amigo meu tinha esse disco e me recordo que algumas músicas conheci ao vivo antes das versões de estúdio. Infinita Highway é uma obra prima, mas nesse disco ela ficou muito acelerada, mas provavelmente era a vibe do show. Engenheiros nunca foi uma banda que me empolgasse. Mas reconheço que teve grandes trabalhos. 1989 marca o ano que eu começava a violar tocão, ops, tocar violão. Mas esse disco mesmo eu fui conhecer uns anos depois. Eu particularmente sempre achei o Humberto um chato, sei lá, ele me passa essa imagem.
    Pegando de gancho o seu comentário acima "naquela época disco de vinil valia mais que barra de ouro." agora tá voltando esse tempo. Recentemente vi alguns discos nacionais relançados na faixa dos R$ 80,00...

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  4. E aí, mano Baratta!

    Eu gosto muito dessa versão acelerada de Infinita. E Engenheiros sempre foi meio ame ou odeie mesmo, para quem não ama paciência porque ainda faltam 4 discos pra eu completar a discografia dessa fase que eu estou postando, hehe.

    Sim, sim, o disco de vinil voltou a ficar caro, mas hoje é mais por ser exclusividade, coisa rara. Eu lembro que na minha época de infância (não faz taaaaanto tempo assim,hehe), só dava pra adquirir discos quando eu ganhava de aniversário ou natal, mas aí já na adolescência,teve aquele fase que começou a popularizar o cd e embora a produção fosse muito mais barata (Baratta!rs), o cd era mais caro que o vinil (coisas do Brasil) e o vinil também ficou bem acessível quando as lojas estavam acabando com estoque, eu particularmente fiz a festa comprando muita coisa bacana.

    Abraço e valeu pelos comentários de sempre!

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  5. a morte do vinil, eu fiz a minha coleção de Paul nos sebos...
    Agora, "Eu lembro que na minha época de infância (não faz taaaaanto tempo assim,hehe)"
    aham... ok hehe
    Abraço mano

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  6. A minha coleção do Paul também foi feita assim, hehe.

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  7. Eduardo Dornelas7/21/2013 6:53 PM

    Nessa época meus presentes de aniversário e natal só eram discos.
    Mais duas coisas que esqueci de mencionar.Não sabia que no cd tem "Tribos e Tribunais".A outra coisa é que, a primeira música que aprendi tocar no violão foi "Somos Quem Podemos Ser", aliás , primeira é última.

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  8. Pois é, Dude, era o meu caso na escolha de presentes também, assim eu fui montando minha coleção do RC.

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  9. Não aguentei, pus https://www.youtube.com/watch?v=wfUullf2Fyg pra tocar...somos da epoca de K7 e vinil! Tamos velhos, quem não mandou morrer aos 27?

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  10. Minha vida foi programada pra ir só até os 27, o que vier depois é lucro, ou não, haha. Lembrei da gente no Ordem e Progresso com esse vinil.

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