Filmes de Guerra, Canções de Amor (1993)
Assim como fizeram em 1989, ao lançar o disco ao vivo Alívio Imediato, após três discos de estúdio,
os Engenheiros do Hawaii colocaram na praça, Filmes de Guerra, Canções de Amor (título de uma música
presente no segundo disco da banda A
Revolta dos Dândis), segundo álbum ao vivo, depois de outra sequência de
mais três trabalhos de estúdio. No entanto, ao invés de apenas fazerem um
registro da turnê como fizeram no "ao vivo" anterior, eles optaram por um novo
formato. O set básico do disco era
composto por Humberto Gessinger e Augusto Licks tocando guitarras
semi-acústicas e Carlos Maltz na
percussão. Com eventuais momentos de Gessinger ao piano ou acordeom, e Licks na
harmônica. Outra ideia tirada do Alívio Imediato foi a inclusão de novas
canções (duas delas registradas em estúdio e duas gravadas ao vivo). A escolha
do repertório não necessariamente privilegiou as canções de maior sucesso,
e eles buscaram faixas de todos os álbuns da banda (exceto do disco Gessinger,
Licks e Maltz, do qual a música “Parabólica” só aparece no vídeo lançado em VHS
na época e relançado em DVD anos depois). O disco contaria com a produção de
Mayrton Bahia, depois de vários anos com a banda se autoproduzindo. A capa com
um fundo que reproduz uma madeira com uma boca em f (a abertura presente em instrumentos
como o violino e a guitarras semi-acústicas) atentava para a sonoridade mais
acústica do trabalho.
Com participação da Orquestra
Sinfônica Brasileira, arranjada e regida por Wagner Tiso, a nova música “Mapas
do Acaso” abre o oitavo disco dos Engenheiros, sétimo e derradeiro da formação
Gessinger, Licks e Maltz. Humberto e Licks empunham guitarras semi-acústicas
com Maltz na percussão a qual se soma a sonoridade sutil da orquestra. Licks
passeia suas frases de guitarra elegantemente pela música, como faria em todo o
álbum, mostrando sua versatilidade musical. Raramente lembrado, esse talvez
seja um de seus melhores solos em seus trabalhos com os Engenheiros. As
novas letras de Humberto também estariam entre seus melhores momentos da
discografia da banda. A música, assim como todas com orquestra, foi gravada
sem a presença da plateia que já surge na segunda música, “Além dos Out-doors” também apresentada com a “nova” formação
instrumental da banda, com Augustinho brilhante na execução de sua guitarra Gibson
175. Apesar do formato e sonoridade mais leves, a banda consegue manter a
pulsação firme, levando as músicas em vários momentos para uma pegada mais jazz e blues. “Pra Entender” vem amarrada à “Além dos Out-Doors”, quase
transformando as duas músicas em partes A e B de uma mesma canção. Licks sola a
guitarra cantando as notas ao mesmo tempo, a mixagem esconde um pouco isso no
disco (no áudio do vídeo é mais evidente). Outra novidade do disco é a música “¿Quanto
Vale a Vida?”, uma das mais belas e singelas da banda. A harmônica de Licks
materializa em notas o lirismo da letra escrita por Humberto (“Nas garras da
águia, nas asas da pomba, em poucas palavras, no silêncio total, no olho do
furacão, na ilha da fantasia, quanto vale a vida”?). No final da canção,
trechos de “Piano Bar” e “Perfeita Simetria”. “Crônica” reapareceu no repertório da
banda, se renovando de tal forma que seria mantida por muito tempo no setlist dos Engenheiros. Dispensável citar mais um grande solo de Licks. Humberto registra sua
primeira gravação tocando acordeom na música “Pra Ser Sincero” que encerra o lado A do disco, deixando a marca
da música gaúcha na sonoridade da banda, especialmente na segunda parte.
“Muros & Grades” abre o lado B com novo arranjo, aonde a
batida da guitarra tocada por Humberto traz a canção para o que se convencionou
chamar de MPB. Licks toca a guitarra com e-bow
(equipamento que empresta ao instrumento uma sustentação prolongada, soando
próximo ao que o arco faz em um violino). Assim, como no disco Alívio Imediato,
a banda permite a “participação” da plateia que tem assobios e gritos
registrados no decorrer dessa e outras faixas. E a música seguinte, é
exatamente a que deu nome ao primeiro disco ao vivo (gravada então numa versão
de estúdio). A nova versão da música “Alívio Imediato” ganhou também nova
letra, com mudanças feitas à original (“Holofotes iluminam a libido e o vírus,
o álibi perdido, elo de ligação, não há nada de concreto entre nossos lábios,
só um muro de batom e frases sem fim, é que tudo se divide, todos se separam,
uma república no pampa, um ponto em circunstância, um muro nos divide, uma
grade nos separa”). A pesada “Ando Só” gravada no disco Várias Variáveis,
também recebeu o toque sutil do disco com Gessinger ao piano e mais uma vez a
participação da Sinfônica Brasileira regida por Tiso, como também acontece com
as duas partes de “O Exército de Um Homem Só” unidas, fechando a parte ao vivo
do disco. Momentos finais e épicos do show gravado na Sala Cecília Meirelles,
no Rio de Janeiro. Ao executarem essas músicas a banda certamente não imagina
estar realizando ali o que seria o “canto do cisne” da formação, e sem dúvidas,
a música seria um bom resumo dos momentos finais, “livres dessa história, a
nossa trajetória não precisa explicação, e não tem explicação”. Na sequência
eles apresentariam duas novas canções apontando os rumos que a banda poderia seguir,
caso a formação não viesse a ser desmanchada poucos meses após o lançamento do
disco com a saída de Augusto Licks, em maio de 1994. São elas: “Às Vezes Nunca” que começa ainda com a
presença das guitarras semi-acústicas e a percussão somadas à clarineta do
genial Paulo Moura e ao acordeom de Wagner Tiso. No final, a música ganha
um trecho pesado com o retorno da guitarra, baixo e bateria. E fechando o
disco, “Realidade Virtual” com piano,
acordeom e baixo tocados por Humberto, guitarra e violão de Licks e bateria de
Maltz, participação especial no coro dos Golden Boys (que já haviam gravado com
os Engenheiros na música "O Papa é Pop") e das cantoras Jurema, Ana, Cecília e Nair. A letra
rezava que era “preciso fé cega e pé atrás” e que “viver não é preciso e nem
sempre faz sentido”. Ainda que provavelmente não soubessem que esse seria o
último trabalho do trio Gessinger, Licks e Maltz, a banda inconscientemente
encerrou a formação com um grande disco e que acabava relendo toda sua obra até
então.
Em tempo: assim como escrevi sobre o disco Longe Demais das
Capitais quando a banda ainda não contava com a presença de Augusto Licks como
um prefácio dessa série, vou aproveitar um comentário que escrevi no blog do
Humberto Gessinger, sobre o disco subsequente à saída de Augusto da banda, Simples
de Coração para adicionar um posfácio à série.
Gosto muito das canções(de amor)desse disco, mas não tenho lembrança da época do lançamento dele.
ResponderExcluirNa verdade ele não chegou a ter tanta divulgação devido à saída do Licks poucos meses depois do lançamento e o período que a banda passou montando a nova formação, fazendo shows pelo interior e se expondo pouco na mídia enquanto se readaptava. Para quem não estava acompanhando muito de perto, o Filmes de Guerra passou um pouco batido mesmo, tanto que me parece ter sido o único disco dos Engenheiros até então a vender menos de 100 mil cópias.
ExcluirVamos lá! Cara, eu sou super fã de Engº Hawaii.... Sou suspeito! Tenho todos os vinis! Consegui completar primeiro que vc! kkkkkkkkkkkkkkkk...Brincadeira! O seu conhecimento vale mais. Bom, hj escuto música no Notbook, enquanto trabalho... No que acabou o grande baixista e sexy- Simbol da banda Rebeldes?! E como já lhe disse Bob, o legado que ficou em relação ao meu pequeno contato com a produção musical, foi que meu ouvido é bem treinado. Consigo saber 'que algo está errado", mesmo não sabendo explicar...Bem, comparando os engenheiros com as bandas da época, estamos comparando um Golias contra vários Davis...ninguém chega perto. Os solos de Augusto são fantásticos. E o baixo de Gessinger? Batera de Maltz? kkkkk ...Não tem pra ninguém. Outra coisa que me faz um eterno fã de Eng, é o fato que este verdadeiro acústico foi lançado dois anos do pop acústico mtv titãs, o longa que deu origem a série. Putz...lixo comercial...lixo que o Humberto fez depois tbm junto com a MTV...Eu nem vou ler o próximo post...Pois o vinil acabou para mim neste disco que vc comentou tão bem...Literalmente...E os engenheiros tbm!
ResponderExcluirPois prefiro ser uma viúva do Augustinho, do que uma puta do Humberto!
PS - Augusto falou, não sei onde, que ele poderia fazer uma regravação nos dias de hj...mas olha o nível dos homens que aprendi a respeitar. Com a palavra, a maior guitarra do Rock nacional:
'Às vezes a saúde sofre, e os dedos também, mas é bom estar vivo e sem culpa. Fiquei sensibilizado pelas mensagens que me foram repassadas nos últimos anos: alguns com saudades, outros que nunca me viram tocar. Especialmente a carta de uma moça de Caxias do Sul que, apesar de graves problemas de saúde, se dignou a me enviar uma lata-coletânea da banda, da qual eu nem tinha conhecimento. Devo a ela um agradecimento, e também a todos que me dedicaram alguma palavra. Isso tudo pesou, em momentos em que eu avaliava se valeria subir de novo num palco. Acho que tem possibilidades de rolar, talvez com amigos. Mas preciso me convencer de que irá fazer sentido, de que não cairá em alguma vala do tipo “revival pra descolar grana”. E seria artesanal, nada imediato, pouco a oferecer, e sem fazer de conta que seja muito.'
CONGRATULATIONS ROBERT MOURA, THE FOREVER GUITAR MAN OF REBELDES!
Um típico comentário de Anderson Manine, hauhauhauhua...algumas coisas nunca mudam! Então, não por acaso eu resolvi comentar os discos apenas da fase GLM aqui, o Longe e o Simples eu inclui como prefácio e posfácio para contextualizar como a banda era antes e como ficou depois do Augustinho.
ExcluirEm tempo: O Licks acabou subindo ao palco esse mês, depois de 22 anos para fazer uma participação especial no show da cantora japonesa Tsubasa Imamura tocando Pra Ser Sincero,você viu?
Valeu pelo relato, meu velho!