Pego o ônibus para voltar pra casa depois de um dia de aula
e trabalho. Entro carregando meu violão. Dentro do veículo, apenas um
passageiro. Um senhor de 65 anos (como
ele veio a me dizer mais tarde), trajando uma inusitada camiseta do Boston Celtics, e razoavelmente embriagado. Ele vê o estojo do instrumento e pergunta se é um
violão, como se tivesse alguma dúvida, apenas para puxar papo. Digo que sim, e
ele responde que toca um pouco, sabe acompanhar algumas músicas e fazendo os
acordes no ar começar a cantar uma inesperada “Parei...Olhei” , lançada pelo Roberto
Carlos no longínquo ano de 1965 ao que eu respondo completando a letra e
dizendo que ele foi “fundo”. Ele emenda com “O
Calhambeque”, para depois começar a cantar a música “Ninguém Poderá Julgar-me Nem Mesmo Tu”, sucesso do cantor Jerry Adriani, que segundo ele, veio da Itália para o Brasil quando tinha 17 anos, e inclusive tinham a
mesma idade. Eu digo que o Jerry é brasileiro mesmo, e que a
confusão se dá por ele ser descendente de italianos e ter gravado o primeiro
disco nesse idioma. Ele não me ouviu e reafirmou que o Jerry era italiano. Resolvi concordar.
Ele explicou então que tocava violão, mas só fazia acompanhamento
porque solar é difícil e ele não estudou. Disse que tocava só de ouvido, mas
que eu deveria estudar porque quem estuda toca melhor que ele. Para
exemplificar, ele citou a música “O
Milionário”, gravada pelo conjunto Os
Incríveis, a qual ele sabe tocar o acompanhamento, mas não o solo. Nem
cogitei tentar argumentar que não necessariamente um solo é mais difícil de
tocar do que determinados acompanhamentos. Acho que por algum motivo durante o papo
ele concluiu que eu ainda estava começando a estudar violão, tentei explicar
que eu já tocava há algum tempo, mas novamente ele não entendeu. Como não faria
diferença, mais uma vez o deixei acreditar no que ele tinha entendido mesmo (até
porque eu sei lá se realmente toco violão).
Coincidentemente, nos levantamos para descer no mesmo ponto. Ele me
perguntou se aquela era a Avenida Augusto de Lima, e eu confirmei que era sim. Agradecendo-me,
ele se despediu, mas não sem antes dizer em tom profético: não desanime não, você
vai ser o maior músico do mundo!
Então ‘tá!
Então ‘tá!
Pintura: Vieux Guitariste Aveugle – Pablo Picasso
Sinceramente não sei se esse seu excesso de humildade ajuda ou atrapalha.Como não sabe se realmente toca violão?E o senhorzinho não profetizou, só relatou os fatos.
ResponderExcluirHaha, força a barra não, mas valeu pelo comentário!
ExcluirÉ que tu não estendeu o papo, se não ia ser mais ou menos igual aquelas histórias do ANgeli com os personagens Wood & Stock. Senhor: Você vai ser o maior músico do mundo! Robert: Ah é? Quem te disse?
ResponderExcluirSenhor: (diz olhando pra cima) John Lennon!
Abraço mano
A onda foi mais ou menos essa, mano ,hauahuhaua.
ExcluirAbraço!