Eu o ouvi dizer, sei lá
quantas vezes em entrevistas à época do lançamento em 2009 que esse livro não
seria uma autobiografia, mas sim um apanhado de casos que ele viveu e que
achava engraçados, interessantes ou no mínimo curiosos. Ainda assim a primeira
crítica que li do livro Minha Fama de
Mau de Erasmo Carlos começava
chamando-o de “a autobiografia de Erasmo Carlos”. Mesmo que qualquer um que o
leia veja claramente que não se trata de uma autobiografia no sentido mais
restrito da palavra, o tal crítico malhava a falta das informações que uma
biografia deveria ter e mais uma série de besteiras literárias que não cabem
aqui. Mas, o que importa mesmo, é que essa é uma leitura muito válida para quem gosta de Erasmo e da música brasileira.
Sem carregar o peso
e a preocupação de fazer uma autobiografia, Erasmo juntou uma série de casos
que passeiam por toda a sua vida e carreira, desde encontros na infância com Tim Maia e, na adolescência com Roberto Carlos (que mereceu um capítulo
só seu, além de aparecer em vários casos nos outros capítulos), o início da
carreira artística com o conjunto The
Snakes, a glória atingida com a Jovem
Guarda, a fase mais experimental que se deu por influência da Tropicália (que por sua vez teve lá sua
influência por parte da Jovem Guarda), o casamento com Narinha, os filhos,
amigos que apareceram no caminho, alguns que já se foram, mas sempre lembrados
com estórias que guardam um tom de alegria e satisfação, um pouquinho de
amargura mesmo só quando se sente obrigado a lembrar da morte da ex-mulher
Narinha.
A narrativa de Erasmo flui de
forma fácil e estimulante. Um livro para ler numa sentada só. Ele não tem muito
pudores e fala na maior tranquilidade de casos e mais casos com mulheres, ainda
que nunca cite os nomes e não esconde suas fraquezas se elas lhe renderem boas
histórias. O livro se torna mais saboroso ainda para quem tem um conhecimento
razoável da história da música brasileira nos últimos cinquenta anos porque em
vários momentos se têm uma visão por outro ângulo de uma série de casos
públicos e de bastidores já conhecidos. Junte a ele os livros de Nelson Motta: Noites
Tropicais e O Som e a Fúria de Tim
Maia e, Verdade Tropical de Caetano Veloso e já terá uma boa ideia
de como a música brasileira se desenvolveu nesses anos, contados porque quem
realmente viveu a história toda.
Quanto ao título em alusão a
canção de mesmo nome composta por Erasmo e Roberto Carlos, ele não faz tanto
jus assim ao que o Tremendão (eterno apelido de Erasmo) realmente parece ser.
Ele sempre foi um cara direto e sincero, pelo menos sua música mostra isso, na
Jovem Guarda também fazia o tipo mais cafajeste com canções como “Terror dos Namorados”, “Você Me Acende” e outras além de “Fama de Mau”, mas talvez a sua fama de
mau seja muito fruto do fato de seu parceiro musical mais frequente e melhor
amigo ter sustentando sempre uma imagem com "ar de moço bom" demais
(um pouco daquela coisa Beatles/Stones, aonde os primeiros eram os
rapazes certinhos e os segundos os rebeldes, quando na verdade nenhum deles era
só uma coisa ou a outra).
Tá aí um livro que eu li e gostei muito mano. Realmente não se trata de uma autobiografia, mas o Erasmo narra os fatos, conta as histórias em uma naturalidade tão dele que a gente viaja junto. Só para deixar um gostinho em quem não leu, curti muito mas muito mesmo a parte em que ele fala dos bastidores de quando o Caetano surtou e pedindo aos jurados que o desclassificassem. Os bastidores desse momento são reveladores. Acompanhei o lançamento desse livro quando ele deu algumas entrevistas. Excelente livro. Excelente postagem mano.
ResponderExcluirAbraços
Valeu, mano! Falando em autobiografias, vamos ver se saí mesmo a do Rei um dia.
ExcluirAbraço!