domingo, agosto 24, 2014

Minha Fama de Mau – Erasmo Carlos


 

Eu o ouvi dizer, sei lá quantas vezes em entrevistas à época do lançamento em 2009 que esse livro não seria uma autobiografia, mas sim um apanhado de casos que ele viveu e que achava engraçados, interessantes ou no mínimo curiosos. Ainda assim a primeira crítica que li do livro Minha Fama de Mau de Erasmo Carlos começava chamando-o de “a autobiografia de Erasmo Carlos”. Mesmo que qualquer um que o leia veja claramente que não se trata de uma autobiografia no sentido mais restrito da palavra, o tal crítico malhava a falta das informações que uma biografia deveria ter e mais uma série de besteiras literárias que não cabem aqui. Mas, o que importa mesmo, é que essa é uma leitura muito válida para quem gosta de Erasmo e da música brasileira.

Sem carregar o peso e a preocupação de fazer uma autobiografia, Erasmo juntou uma série de casos que passeiam por toda a sua vida e carreira, desde encontros na infância com Tim Maia e, na adolescência com Roberto Carlos (que mereceu um capítulo só seu, além de aparecer em vários casos nos outros capítulos), o início da carreira artística com o conjunto The Snakes, a glória atingida com a Jovem Guarda, a fase mais experimental que se deu por influência da Tropicália (que por sua vez teve lá sua influência por parte da Jovem Guarda), o casamento com Narinha, os filhos, amigos que apareceram no caminho, alguns que já se foram, mas sempre lembrados com estórias que guardam um tom de alegria e satisfação, um pouquinho de amargura mesmo só quando se sente obrigado a lembrar da morte da ex-mulher Narinha.

A narrativa de Erasmo flui de forma fácil e estimulante. Um livro para ler numa sentada só. Ele não tem muito pudores e fala na maior tranquilidade de casos e mais casos com mulheres, ainda que nunca cite os nomes e não esconde suas fraquezas se elas lhe renderem boas histórias. O livro se torna mais saboroso ainda para quem tem um conhecimento razoável da história da música brasileira nos últimos cinquenta anos porque em vários momentos se têm uma visão por outro ângulo de uma série de casos públicos e de bastidores já conhecidos. Junte a ele os livros de Nelson Motta: Noites Tropicais e O Som e a Fúria de Tim Maia e, Verdade Tropical de Caetano Veloso e já terá uma boa ideia de como a música brasileira se desenvolveu nesses anos, contados porque quem realmente viveu a história toda.

Quanto ao título em alusão a canção de mesmo nome composta por Erasmo e Roberto Carlos, ele não faz tanto jus assim ao que o Tremendão (eterno apelido de Erasmo) realmente parece ser. Ele sempre foi um cara direto e sincero, pelo menos sua música mostra isso, na Jovem Guarda também fazia o tipo mais cafajeste com canções como “Terror dos Namorados”, “Você Me Acende” e outras além de “Fama de Mau”, mas talvez a sua fama de mau seja muito fruto do fato de seu parceiro musical mais frequente e melhor amigo ter sustentando sempre uma imagem com "ar de moço bom" demais (um pouco daquela coisa Beatles/Stones, aonde os primeiros eram os rapazes certinhos e os segundos os rebeldes, quando na verdade nenhum deles era só uma coisa ou a outra).

2 comentários:

  1. Tá aí um livro que eu li e gostei muito mano. Realmente não se trata de uma autobiografia, mas o Erasmo narra os fatos, conta as histórias em uma naturalidade tão dele que a gente viaja junto. Só para deixar um gostinho em quem não leu, curti muito mas muito mesmo a parte em que ele fala dos bastidores de quando o Caetano surtou e pedindo aos jurados que o desclassificassem. Os bastidores desse momento são reveladores. Acompanhei o lançamento desse livro quando ele deu algumas entrevistas. Excelente livro. Excelente postagem mano.
    Abraços

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    1. Valeu, mano! Falando em autobiografias, vamos ver se saí mesmo a do Rei um dia.

      Abraço!

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