Nos últimos anos, o lançamento de biografias relacionadas à
música têm se tornado mais frequente no mercado editorial brasileiro. Ao mesmo
tempo em que parece ter sido descoberto um novo filão, em alguns casos, esses
lançamentos acabam resolvendo um atraso sobre uma parte da história da música
brasileira sempre relegada aos bastidores. O livro em questão, André Midani – Música, Ídolos e Poder – Do
Vinil ao Download foi lançado em 2008 pela Editora Nova Fronteira.
André Midani,
nascido na Síria e criado na França para onde se mudou aos três anos de idade,
acabou por se tornar um dos nomes mais importantes da indústria fonográfica
brasileira, tendo atuado também no mercado americano e mexicano. Ele chegou ao
Brasil em 1955. Antes disso, trabalhou no setor de estoque e como vendedor na
gravadora Decca na França. Seu
primeiro emprego no Brasil foi na Odeon
Records onde esteve ligado diretamente ao lançamento da bossa nova, uma vez
que João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes foram contratados pela Odeon. No mesmo período, Lúcio Alves, Dick Farney, Sylvia Telles,
Elza Soares, Anísio Silva, Isaura Garcia,
Tony e Celly Campelo também gravavam
pela Odeon. Depois de um período atuando pela Capitol Records no México e nos EUA, retornou ao Brasil ainda nos
anos 1960 para assumir a direção da gravadora Phillips, tendo sido responsável
pelo lançamento de discos de vários artistas ligados à Tropicália, como Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e os Mutantes; além de Elis
Regina, Nara Leão, Chico Buarque, Erasmo Carlos, Jorge Ben,
Maria Bethânia, João Donato. Na época, a Philips fez
um anúncio no qual apareciam todos seus contratos e trazia a frase: “Só nos falta o Roberto Carlos...Mas ninguém é perfeito”, pelo fato do artista
ser contratado da CBS (hoje, Sony Music). Em 1976, foi o responsável
pela inserção da gravadora Warner no
país, lançando discos de Tom Jobim, Hermeto Pascoal, A Cor do Som, Marina Lima,
Belchior, Zezé Motta, Ney Matogrosso,
Banda Black Rio, Raul Seixas, Gil, Elis, Paulinho da Viola e Dona Ivone Lara. No início dos anos
1980, a Warner viria a se tornar um dos principais selos a lançar bandas do
rock nacional, entre elas: Barão
Vermelho, Titãs, Kid Abelha, Marina Lima,
Lulu Santos. Em resumo: Midani atuou
diretamente na carreira discográfica de quase todos os artistas brasileiros que
estiveram na grande mídia dos anos 1960 aos 1980.
O livro, disposto em pequenos capítulos e numa narrativa que
não se aprofunda em detalhes, lembra em alguns momentos a despretensiosa
autobiografia de Erasmo Carlos, Minha Fama de Mau (que de tão despretensiosa,
Erasmo evitou chamar de biografia dizendo que era apenas um apanhado de casos que
se passaram em sua vida). Apesar de carregar a alcunha de autobiografia, Midani
não entra muito em questões pessoais, de forma que o livro se torna um
histórico de sua vida profissional, deixando-o bastante útil para quem tem
interessa na história da música brasileira. Ainda que ele não funcione exatamente
como o que poderíamos chamar de registro documental, ele traz muitas informações
e questionamentos para quem sabe ler as entrelinhas. Em poucas, porém claras
palavras, está nele toda a sujeira que permeou as grandes gravadoras: o
surgimento e funcionamento do esquema de jabá; o envolvimento da máfia na indústria
fonográfica; a perda da direção das gravadoras por “homens da música” para cair
nas mãos de tecnocratas; a pirataria de cassetes e CDs que tomou conta do país
nos anos 1990, num esquema fabuloso com origem na China. As palavras escritas por Midani deixam um
pouco menos bela a história da música popular brasileira e internacional (ok, essa história nunca foi tão bela mesmo), ainda
assim, essas palavras precisavam ser ditas e explicam muito de como o mercado
chegou a essa miséria musical que hoje se encontra na grande mídia.
Em tempo: não consigo pensar no André Midani e não lembrar
os versos de Raul Seixas na música “Conversa Pra Boi Dormi” (“André Sidami só
faz confusão, sonhei com ele e mijei no colchão”).
Ainda: (O livro se encontra disponível para download no site
de Midani: http://www.andremidani.net/)
Uia, grande postagem mano, agora você mantendo uma regularidade de uma postagem por semana que eu quero voltar a ter.
ResponderExcluirLivro pra download? Uia, agora eu gostei. Baixando aqui.
Midani fala muito bem do Erasmo, e essa praia de livro sobre (gravadoras) afinal, ele fala porque praticamente todas se resumiram à Sony?
Abraço mano!
Estou me esforçando mesmo para manter essa regularidade, virou um desafio e hoje foi difícil vencê-lo. Tive um pouco de resistência para tirar esse livro da biblioteca da faculdade, muita coisa pra ler e estudar, certa preguiça em relação ao que poderia ser o conteúdo, e mesmo em relação ao Midani, mas considerei que o lerei de um dia pro outro e assim o fiz. Valeu a pena, embora seja um tanto quanto raso no texto.
ResponderExcluirNa época do lançamento do livro lembro do Midani em alguns programas de televisão contando algumas histórias sobre a indústria fonográfica.Lembro dele contando que,o Chacrinha cobrou jabá para o Pepeu e a Baby se apresentarem no programa dele, e o Midani então resolveu denunciar isso,mas teve efeito contrário que ele esperava.Os outros programas passaram a cobrar jabá também.
ResponderExcluirEu relutei um pouco em pegar esse livro pra ler, mas acabou valendo a pena, ele é bastante elucidativo sobre a sujeira que rola no mercado musical.
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