domingo, agosto 17, 2014

Barão Vermelho - (2004)





Ouvindo esse disco hoje, me assustei ao perceber que já se passaram dez anos desde o seu lançamento, e a correria nossa de todo dia, ainda não me permitiu apreciá-lo como se deve. O lado bom disso é ter um disco que na minha cabeça é praticamente “novo”, já que não o ouvi muito, mesmo o considerando um ótimo trabalho da banda. Da turnê que eles realizaram nesse período tive o prazer de ver cinco shows. 

Esse disco registrou a volta do Barão Vermelho, depois de um intervalo no qual os integrantes se dedicaram a projetos paralelos. Intitulado simplesmente como Barão Vermelho, assim como o primeiro álbum da banda, ele marcou um recomeço que infelizmente viria a ser interrompido com uma pausa a partir de 2007 da qual eles ainda não saíram (exceto para uma curta turnê em comemoração aos 30 anos da banda entre 2012 e 2013).

O Barão retornou ao seu som mais característico com uma pegada vigorosa, lembrando alguns de seus melhores discos como Na Calada da Noite e Carne Crua. “Cara a Cara” do baixista Rodrigo Santos com o baterista Guto Goffi abre o disco e representa bem essa sonoridade com guitarras, violões, baixo e bateria marcantes como deve ser um bom Rock’n’Roll. “Cuidado” de Roberto Frejat (guitarra e voz), Maurício Barros (teclados) e Marcelo Rosauro foi o “single” que lançou o disco, não está entre as minhas prediletas, mas é aquele tipo de música que sempre funciona nos shows (assim como a assustadora “Puro Êxtase” que ao vivo ganhava muito em relação à gravação original no disco homônimo que esteve longe de figurar entre os melhores momentos discográficos da banda). “Mais Perto do Sol” revela mais uma boa melodia composta por Frejat e Rodrigo Santos, e tem letra de Mauro Santa Cecília. “A Chave da Porta da Frente”, parceria de Frejat e Leoni tem um clima latino e mais um bom riff de guitarra, coisa que o Barão talvez tenha feito de forma única no rock nacional. As melhores bandas de rock, sempre souberam fazer belas baladas, e foi o que Frejat, Maurício Barros e Mauro Santa Cecília realizaram em “Pra Toda Vida”. Desconheço o processo de composição através do qual a música foi feita, muito provavelmente letra e música foram feitas de formas separadas, mas elas se fundem de tal maneira que parecem terem sido feitas simultaneamente por um só compositor. Aliás, o letrista Mauro Santa Cecília que já vinha de outras colaborações com o Barão, e registrou várias parcerias nesse disco também está presente, em parceria com Frejat, na adaptação do poema “Embriague-se” de Charles Baudelaire na música que ganhou o mesmo título do poema. Uma ode ao álcool, (Embriague-se, embriague-se de noite ou ao meio-dia, embriague-se numa boa de vinho, virtude ou poesia). “O Dia Em Que Você Me Salvou” de Frejat, Fernando Magalhães (guitarra) e Mauro Santa Cecília, tem algo dos anos 60 e do punk dos 70 nas guitarras e é mais uma das músicas “ganchudas” do disco que acabou não tendo a divulgação que merecia. “Cigarro Acesso No Braço” composta pelo mesmo trio é uma balada com uma letra forte de Mauro ("Vendo o sonho morrer, eu pude perceber, você dormindo hoje ao meu lado, é um cigarro aceso queimando meu braço"). A gravação é de uma melancolia e intensidade profundas. Para quem já foi muito criticado quando começou a cantar, Frejat se revelou com o tempo um bom intérprete que sabe dar o recado como poucos cantores, inclusive uma penca deles que cantam com muito mais técnica. “Tão Inconveniente” de Fernando, Rodrigo, Mauro, Lúci, Tom Capone e Frejat, é outro bom rock do disco que talvez tivesse melhor sorte na década anterior quando ainda se tocava música de qualidade no rádio. “A Máquina de Escrever” foi outra realização muito feliz de Frejat e Guto Goffi que musicaram esse poema de Giuseppe Ghiaroni (creditado com o nome errado no encarte. O poeta já foi musicado também por Erasmo Carlos na música “Sou Uma Criança, Não Entendo Nada”). Uma das melhores, senão a melhor faixa do álbum. “Só O Tempo”, outra colaboração de Frejat, Fernando e Mauro, fecha o disco.

O CD trazia ainda uma faixa interativa (que eu acho uma grande chatice que rolou quando começou a popularização dos computadores e ainda bem que já ficou para trás) através da qual você podia baixar duas faixas bônus, coisa que não fiz porque quando eu ganhei o disco já não estavam mais disponíveis e só consegui conhecer ouvindo de maneira gratuita num site (exatamente o contrário da ideia dos produtores, que era induzir o fã a comprar o disco original e não o pirata ou baixar o mp3 numa época em que as vendas já despencavam de vez no mercado nacional). Uma delas é “Círculos Loops e Repetições” de Frejat, Guto e Mauro que traz mais uma visita do Barão a música nordestina como fizeram em “Pergunte ao Tio José” (letra de Raul Seixas musicada por Frejat e gravada no disco Carne Crua), fundindo baião com rock, aliás, como o próprio Raul ensinou em “Let Me Sing, Let Me Sing” e outras de suas composições. A outra canção bônus se chama “É A Vida”, de Peninha (percussão) e Luiz Carlos Da Vila. Em se tratando de um álbum de 40 minutos numa época em que o CD já era o padrão e os discos já tinham avançado sua duração para até 60 minutos, acho que as duas podiam estar no CD sem a frescura de ter que baixar, mas ao mesmo tempo acho que ambas não acrescentariam muito ao disco que é muito bom por si só. 

Bons arranjos de guitarra, belas melodias e letras com conteúdo, receita infalível de um bom Rock’n’Roll, resultaram num disco maduro, tanto na temática das letras quanto na qualidade musical da banda, porém, sem perder a energia e alegria juvenis do Rock. 

8 comentários:

  1. Eduardo Dornelas8/19/2014 3:00 PM

    Dez anos, quem diria.Parece que foi ontem.Quando comprei esse disco, achei o melhor álbum do Barão.É um disco clássico de Rock and roll, pode parecer um pleonasmo dizer que um disco de uma banda de rock é um disco de rock, mas quem gosta de rock sabe do que eu estou falando.Eles abandonaram os metais que vinham os acompanhando desde do "Carne Crua", justamente para fazer um "disco clássico de rock and rol", e isso se estendeu para os shows, apenas com os integrantes da banda, pois Maurício Barros é um eterno Barão.
    Mas hoje em dia já não tenho convicção para dizer que é o melhor álbum do Barão, apesar de ser um dos melhores.Talvez pela ausência de bons discos de rock naquela época fiquei tão empolgado que considerei o melhor do Barão em um primeiro momento.Mas não tenho discernimento para dizer qual é o melhor disco da banda.

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  2. Parece não, foi ontem! Rs. Eu tenho uma recordação muito especial de uma audição desse disco que foi aí na sua casa, fiquei boa parte do tempo olhando pela janela do seu apartamento enquanto o disco rolava e foi quando percebi a melancolia forte que tem em algumas músicas. Para mim o melhor disco deles ainda é o Carne Crua (detalhe: eu gosto dos metais no Barão), aliás, enquanto escrevia esse texto pensei em fazer com a discografia do Barão o mesmo que estou fazendo com a dos Engenheiros, comentando todos os discos.

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  3. Eduardo Dornelas8/20/2014 9:41 AM

    Eu sabia dessa sua recordação de ouvir disco lá em casa olhando pela janela, até pensei que fosse citar isso no post.Também gosto dos metais, mas acho válido o argumento que usaram para retirar os metais dos shows naquela época.Um detalhe que ficou de fora, foi que, enquanto eles fizeram os ensaios para a gravação do disco, o Rodrigo estava em reabilitação, e foi aberto um precedente , ele era liberado da clínica para participar dos ensaios e depois retornava, coisa que não acontecia com outros pacientes. E a música "Mais Perto do Sol", o Rodrigo fez pro pai dele que tinha falecido a pouco tempo.

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  4. Não sabia que o Rodrigo tinha escrito a letra pro pai dele. Não citei no texto, mas veio pros comentários o caso da janela. O bacana dos comentários é exatamente o fato deles completarem os textos com observações como essas que você fez. Aliás, ainda tenho que consertar um detalhe sobre o Barão num texto antigo aqui que você me deu ideia uma vez.

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  5. Eduardo Dornelas8/20/2014 10:51 AM

    Não sei se,necessariamente a letra é do Rodrigo, pois como você disse no texto,é uma parceria entre ele , Frejat e Mauro Santa Cecília, o que se deduz que a letra é do Mauro.Mas o Rodrigo me disse uma vez que é uma homenagem ao pai dele.
    Acho que você deveria mesmo escrever sobre a discografia do Barão.

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  6. Acredito que a letra seja mais do Mauro com colaborações do Rodrigo então.

    E sim, fechando a discografia do Engenheiros fase GLM, iniciarei a do Barão.

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  7. Esse disco eu passava pela rua com a patroa (a mesma até hoje) e em uma banca de cd pirata (ah não sou o único poxa) rs, vi esse e o Revenge do KISS. Comprei os dois. Interessante é que esse CD do Barão, ao colocar no computador abria uma mensagem: Obrigado por comprar o CD original, uahuahuha. Além do CD eu destacaria um especial da Volta do Barão na extinta MTV, que mostrava praticamente todo o making of (coisa que eu gosto muitcho) das gravações do disco. Mostrava o lado família de cada um, conversas em mesa de bar, Frejat mostrando sua casa seus filhos, perdendo a carteira num táxi até (o taxista devolveu no dia seguinte) e entre tantas coisas, o produtor se não me engano Tom Capone que viria a falecer ou durante ou após a gravação do disco algo assim.
    Excelente resgate de disco mano. Bela postagem parabéns!
    Abraços

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    1. Enfim, uma banda brasileira da qual nós dois gostamos. Também acho bacana esses making off, acho que os primeiros que vi foram do Paul (provavelmente você também, né?). Quanto ao Tom Capone é isso mesmo, ele morreu durante as gravações, o disco é dedicado a ele.

      Valeu! Grande abraço!

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