Jeff Beck é um músico que sempre procurou explorar novos sons com
sua música e esse desafio fez com que seus trabalhos sempre soem distintos. Não
foi diferente em Who Else!, álbum
lançado pelo guitarrista em 1999 no qual ele explora a música eletrônica, através de uma abordagem ritmíca techno, ainda que mantenha sua assinatura com um pé no blues e no rock clássico dos anos 60.
As duas primeiras faixas do
disco, “What Mama Said” e “Psycho Sam”, trazem a influência da
música techno e um pouco do peso do
rock industrial. A guitarra de Jeff soa rascante, e bastante “moderna”, com
frases gerando resultados bem diferentes do que um guitarrista pensaria
normalmente. Jeff parece pensar no instrumento como um DJ nessas duas músicas. “Psycho Sam” traz Pino Paladino no baixo e Manu
Katches na bateria e percussão. A banda base do disco tem Jennifer Batten na guitarra, Steve Alexander na bateria, Randy Hope-Taylor no baixo e Tony Hymas (também produtor do disco
junto com Jeff Beck) nos teclados e efeitos. “Brush With The Blues”, gravada ao vivo, apresenta o guitarrista
com sua sonoridade mais “tradicional”, digamos assim, num daqueles seus momentos de
solos geniais. Uma aula de improvisação. “Blast
From The East” retorna à onda techno, mas combinando com um riff de guitarra bem anos 60, com um quê
de surf music, algo meio Dick Dale. “Space For The Papa” segue na mesma toada eletrônica, porém numa
abordagem mais “lounge” com um riff meio hipnotizante, quase um mantra.
O longo interlúdio no meio da música também reforça o clima oriental da faixa, e
ao mesmo tempo nos traz Jimi Hendrix
à mente. “Angel (Footsteps)” tem um
som etéreo que se mantém todo o tempo de forma contemplativa e meditativa. Em “THX138”, Jeff busca novamente apoio no techno, mas sem a inspiração das faixas
anteriores, fica parecendo aquela típica música para “completar o disco”. Se eu
falei na melodia hipnotizante de “Space
For The Papa”, e isso acontece também com outras músicas do disco, essa
intenção de Jeff se faz presente na faixa seguinte de maneira explícita desde o
título: “Hip-notica”. Curiosamente a
faixa não consegue atingir tanto esse objetivo como algumas de suas parceiras
anteriores. “Even Odds” com uma
pegada mais rockeira clássica já chega com um riff à lá Jimmy Page, até
a levada da bateria tocado por Jan Hammer tem algo de John Bonham, lembrando muito o Led Zeppelin. No entanto, logo depois dessa breve primeira parte da música (praticamente uma
introdução), surge uma bela melodia de Beck (que na verdade até me parece tocada
por Jennifer Batten em sua guitarra midi soando próxima de um saxofone). “Declan” tem o velho truque de Jeff Beck
tocando usando o botão de volume da guitarra, de forma que se aproxima do
ataque de um arco no violino. A música tem participação de Clive Bell (flautas),
Bob Loveday (violino), Mark John (violão) e Simon Wallace (sintetizadores). A
música nos faz viajar por paisagens campestres norte-americanas, alguma coisa
dos velhos westerns está implícita nela. “Another
Place” fecha o disco, executada apenas por Jeff Beck num arranjo solo de
guitarra. Um breve, mas tocante improviso.
Em Who Else!, Jeff Beck continuou
sendo o músico inventivo de sempre, reafirmando sua musicalidade ímpar, com timbres de
guitarra absolutamente únicos, e apesar de sua origem musical no blues e rock
britânico dos anos 60, sua música continuava (e continua) apontando para algum
lugar no tempo muito mais à frente. Ouvindo esse disco lançado em 1999, tenho a
sensação que ainda não chegamos ao ponto em que Jeff estava quando o gravou há 16
anos.
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