A movimentação em torno da campanha de
financiamento coletivo para a realização de um workshop de Augusto Licks
em Belo Horizonte me remeteu a esse disco. Pra Viajar No Cosmos Não Precisa Gasolina foi o álbum de estreia do cantor e
compositor gaúcho, Nei Lisboa. Na época,
tocando com Nei Lisboa, além de sua guitarra marcante, Licks assinaria algumas
parcerias com ele. Entre elas, a faixa
título. Coincidentemente, sua produção também foi resultado de um projeto de
financiamento coletivo ancorado pelo artista. Quem comprasse antecipadamente o “Nei
Lisbônus” garantia seu exemplar do disco.
“A Tribo Todo Dia Em Festa” abre o disco com uma levada reggae. Um tecladinho
malandro reforça essa inclinação da música. A letra traz um jogo de palavras
onde sobressaem aliterações, “Keka qué casá com Zeca, Lolô loca coca? Cola e
som, Marta Maharish meditação”. A tribo todo em dia em festa da qual Nei
fala, não poderia ser outra senão “o povo brasileiro” que “sofri pá pagá o pão, bebi chopp e faz a revolução”. A curiosamente
intitulada “Me Chama de Robert” é um
frevo que fala de um certo gringo americano chamado Robert que Nei Lisboa conheceu em Porto Alegre e que
depois de tomar umas e outras se “transformava” num "super-herói" que jogava bola
como Pelé, e entre outros "super poderes" se tornava uma
chaminé ao fumar, e também virava a mãe do Brasil (se não conseguiu entender
muita coisa, essa música já rendeu uma resenha no rockngeral
depois de um encontro meu com o Nei Lisboa que você pode conferir aqui e se inteirar mais). O blues “Não Me Pergunte A Hora” foi escrita por Nei em parceria com Augusto Licks. Provavelmente a melhor faixa do disco, ela
tem um dos muitos grandes solos que o guitarrista deixou registrados em sua carreira
discográfica. A voz agradável e bela interpretação de Nei valorizam ainda mais
cada um dos versos que ele escreveu para a canção. “Síndrome de Abstinência”
traz a sonoridade gaúcha mais à tona com uma característica milongueira, mas também apresenta um breve interlúdio jazzístico.
Com arranjos delicados de violão, “Doddy
II” é outra faixa tocante do disco. A faixa título surge incorporando mais uma
vez o blues ao som de Nei. Outra bem sucedida parceria com Licks e que também
traz sua guitarra como destaque. Aliás, foi Augusto quem completou a frase,
iniciada por Nei Lisboa ao dizer que “não precisa gasolina” pra viajar no
cosmos. “No no chance” é quase uma vinheta que passeia do jazz ao frevo e ao samba, tirando um
leve sarro com os sobrinhos do Tio Sam (olha o Robert gringo aí de novo). “Rabo de Foguete” é uma parceria de Nei
com Iotomar Polsko que traz uma
citação à “Prenda Minha”, música
tradicional gaúcha. “Exaltação” é uma
elegia à erva...à erva com a qual se faz chimarrão. A música também se
aproxima da sonoridade tradicional gaúcha. “Sinal Azul” é uma balada
caprichada de Nei Lisboa em parceria com Augusto Licks, Glauco Sagebin e Peninha.
“Água Benta” de Nei, Augusto e Clóvis
Frimm fecha o disco com um quê de otimismo, e como a sonoridade geral
do disco, tem aquela dose de “nostalgia artificial” dos anos 1980 que ficou datada tão rápido.
Com uma forte raiz gaúcha, mas sem se prender a
tradicionalismos forçados, Nei revigorou a música de sua região, porém, atento
a outras influências de diversas fontes como o rock, o jazz, o reggae, bem como
diversas vertentes da música brasileira, como o frevo e o samba. Seus trabalhos
seguintes tratariam de reafirmar isso a cada novo lançamento. Pra Viajar No
Cosmos Não Precisa de Gasolina lançado como disco independente foi um
grande cartão de apresentação de Nei Lisboa à música brasileira.
Em tempo: segue a campanha de financiamento do
Workshop do Quarto Para O Mundo de Augusto Licks em Belo Horizonte. Já foram
arrecadados 26% do valor total. Participe!
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