Eric Clapton Unplugged foi o primeiro dos projetos acústicos lançados pela emissora MTV a render uma grande
repercussão e vendagem de discos. O álbum foi top 1 da revista Billboard,
rendeu seis prêmios Grammy ao músico e vendeu 24 milhões de
cópias. Nem sempre esses prêmios e posições nas paradas querem dizer muito. É
sabido como essas coisas podem ser manipuladas, comercial e politicamente, e
que elas não são, necessariamente, indicadores de qualidade. Mas, no caso desse
Unplugged, o trabalho realmente justifica seus méritos. Grande parte
desse sucesso foi sustentando pela canção "Tears In Heaven" e
a brilhante regravação de "Layla".
O
disco abre com "Signe", instrumental despretensioso escrito
por Clapton, cuja função era mesmo a de servir como um leve prelúdio do show
feito para a TV. Na sequência Clapton ataca com dois blues, "Before You
Accuse Me" de Bo Diddley e "Hey Hey" de Big
Bill Broonzy que explicitam o quanto o músico domina o estilo.
Mesmo tendo abordado vários estilos ao longo da carreira, como o rock, o
reggae, o pop, a soul music, Clapton tem suas raízes
musicais fincadas no blues que sempre aparece em seus trabalhos. O
grande hit do disco, "Tears In Heaven" foi composta por
Clapton em parceria com Will Jenenings em razão da perda de seu filho Connor
de apenas 5 anos que faleceu ao cair do 53º andar do prédio em que morava na
cidade de Nova York. A música havia sido lançada um ano antes na trilha sonora
do filme Rush totalmente assinada por Clapton que também resultou num
trabalho primoroso. "Lonely Stranger" é daquelas baladas que
"só um rockeiro sabe fazer". Um dos grandes momentos do
Clapton compositor que se une com maestria ao intérprete genial. "Nobody
Knows You When You´re Down and Out" de Jimmy
Cox é outro clássico do blues revisitado por Eric. O blues, sem dúvidas é o que
guia este álbum. A inesperada versão de "Layla", clássico
absoluto da carreira de Clapton, foi a investida mais ousada do disco, despida
das marcantes linhas e riffs de guitarra da versão original, e o belo solo
de piano tocado pelo baterista Jim Gordon (que assina essa composição
com Clapton), transformando o estridente rock, numa balada sutil. O
vocal rasgado e gritado torna-se suave, quase sussurrado. Talvez nem mesmo seu
autor, esperasse que essa nova abordagem da música alcançasse tamanha
relevância em seu repertório. "Running On Faith" de Jerry
Lynn Williams, gravada originalmente por Eric em 1989 no disco Journeyman,
é outro dos grandes sucessos apresentados no disco. Esta permanece mais próxima
do original, até mesmo pela proximidade dos períodos das gravações. Da obra de
seu grande ídolo e lenda mor do blues, Robert Johnson, surge "Walkin'
Blues" e "Malted Milk" que Eric toca com absoluta
autoridade. "Alberta" música tradicional com arranjo de Huddi
Ledbetter e "San Francisco Bay Blues" de Jesse Fuller
são outras músicas pinçadas do repertório blues que fizeram a cabeça a
do jovem Eric Patrick Clapton e que ele apresenta com um misto de reverência e
respeito aos velhos mestres. Também do disco Journeyman (e da mesma forma
ficando mais próxima do original) é a música, "Old Love",
parceria entre Clapton e o guitarrista Robert Cray. "Rollin'
& Tumblin" de Muddy Waters fecha o disco num clima agitado
de rythm and blues, de forma improvisada e despretensiosa, como a faixa
de abertura.
Um
dos pontos que mais fortalecem esse disco, junto ao repertório, e justifica o
nome de "Unplugged" (Acústico) ao disco, é o domínio com que
Eric Clapton toca violão. De importância inquestionável no trato da guitarra
elétrica, ele toca violão com cordas de nylon, aço e um de 12 cordas com
as pegadas características de cada um deles. Seja no dedilhado no violão com
cordas de nylon de "Tears In Heaven" e "Lonely
Stranger", seja na pegada mais blues/folk de "Layla",
ou no slide de "Running On Faith". Na banda, os velhos
companheiros, Nathan East no baixo, Andy Fairweather-Low no
violão, Chuck Leavell nos teclados, Steve Ferrone na bateria, Ray
Cooper na percussão, Katie Kisson e Tessa Niles nos backing
vocals. O disco que teve produção de Russ Titelman, parceiro de Eric
em outras empreitadas, tornou o formato "unplugged" tão
popular que o conceito quase se tornou um "estilo de música". Em seus
shows, os sets "acústicos" também viriam a ser sempre um
momento marcante. Porém, com a sabedoria de quem estava no ramo há muito tempo
e de como são frívolas algumas variantes do mercado, no disco seguinte,
ele se concentraria na gravação de um disco de clássicos do blues From
The Craddle (sendo essa a ligação com o "Unplugged"), mas
totalmente eletrificados. Vivendo um momento difícil com a perda do filho,
Clapton se apoia no blues, canta e chora seus lamentos em seu violão,
porém consegue manter a austeridade e equilíbrio de um velho bluesman
para seguir na estrada.
Ainda:
segue a campanha de financiamento coletivo do Workshop do Quarto Para O Mundo de AugustoLicks em Belo Horizonte. Já foram arrecadados 22% do total do projeto.
Para saber mais, participar e/ou colaborar: http://www.kickante.com.br/campanhas/augusto-licks-workshop-do-quarto-para-o-mundo-em-bh
Na época do lançamento do "Unplugged", li uma crítica(acho que na revista Bizz, mas não tenho certeza) dizendo que o disco não era bom.A crítica dizia que Clapton dava uma aula de tocar violão, mas isso não era suficiente para se tornar o disco bom.Um dos maiores absurdos que já li.
ResponderExcluirObs.;Me chamou a atenção sua expressão " consegue manter a 'austeridade'.
Pela tolice da crítica, muito provavelmente era da Bizz. O cara não só dá essa aula de como tocar violão, como apresenta uma série de belas canções de sua lavra como é o caso de "Layla", "Tears In Heaven", Lonely Stranger", "Old Love" , bem como resgata uma série de temas do blues com maestria.
ExcluirPor que te chamou a atenção a expressão em questão? Eu pensei na "austeridade" num sentido de mais de "rigorosidade", "sobriedade" com as quais ele se porta no palco (e talvez na vida), no equilíbrio entre a emoção e técnica para tocar, ainda mais vivendo o momento delicado em que estava nesse período. Não sei se foi assim que você entendeu porque essa é uma palavra complicada de se usar.
Pensei na política atual do governo alemão, em que a Angela Merkel adota a austeridade rs.Pensei na rigorosidade sem o equilíbrio da emoção.
ResponderExcluirHahaha...falei que era uma palavra complica de se usar.
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