domingo, julho 06, 2014

Um encontro com a cantora Josephine Baker e o maestro Souza Lima




O único tipo de loja da qual eu gosto são os sebos de livros e discos. Não tenho paciência para ir em nenhum outro tipo de loja por mais que possa gostar ou precisar do produto que ela venda. Há alguns anos atrás, andando numa rua do centro de Belo Horizonte, deparei-me com um sebo que de tão pequeno mal cabiam os livros e o vendedor lá dentro. Ainda assim, consegui entrar, e como de hábito, procurei primeiro por livros sobre música, como sempre se tem poucos, confiro-os primeiro, para depois procurar outros temas. Um livro chamou minha atenção: A Cleópatra do Jazz de Phyllis Rose (Ed. Rocco), uma biografia sobre a cantora Josephine Baker. Já tinha visto ou ouvido algo sobre ela, mas não conhecia quase nada sobre sua carreira. A capa exibia uma foto de corpo inteiro da artista nua, porém, com suas “vergonhas” escondidas por um tecido que descia de suas mãos na altura dos seios até os pés. Dei uma folheada, pareceu-me interessante e resolvi levá-lo. Acabei gostando do livro e ainda mais da cantora. Josephine teve uma história fantástica, saiu de uma infância miserável em Saint Louis nos EUA para brilhar nos palcos do mundo a partir de um sucesso arrebatador na cidade na Paris dos anos 1920, que já era um grande centro cultural e intelectual com a presença de grandes escritores; e o sucesso das bandas de jazz, do teatro e da ópera. Josephine aparecia em cena com os seios à mostra e vestida apenas de um pequeno saiote, se tornou sua marca registrada, um em especial com arranjos que imitavam bananas. Ela ficou milionária e adotou doze órfãos das mais variadas etnias que ela chamou de Tribo Arco-Íris, a intenção da artista negra era promover uma convivência harmônica entre as “raças”, fruto do trauma de quem viveu nos Estados Unidos da América do início do século passado. Além de brigar pelos direitos civis negros em seu país, ela trabalhou como agente da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Seu funeral em Paris, cidade que adotou como lar, reuniu uma verdadeira multidão em 1975 em frente à Igreja de La Madeleine.

Tempos depois, a caminho do trabalho, avistei outro sebo que também não conhecia, assim como o primeiro, e da mesma forma resolvi entrar. Seguindo o ritual, fui direto aos livros sobre música, a oferta também era a de sempre, poucas edições sobre o tema, mas entre eles achei a autobiografia do maestro brasileiro, nascido em São Paulo, Souza Lima com o título de Moto Perpétuo, a visão poética da vida através da música (Ed. Ibrasa). Além de regente, Souza Lima era também pianista e compositor, até então só o conhecia por nome, mas resolvi levar o exemplar, uma edição bem simples, com um texto mais simples ainda, de uma pureza quase ingênua. Souza Lima que escreveu o livro aos 84 anos, pouco antes de sua morte, se pareceu com vários senhores de mais idade com os quais eu gosto muito de conversar, sejam conhecidos ou aqueles simpáticos senhores e senhoras que dão bom dia no ponto de ônibus e comentam sobre o tempo ou alguma outra trivialidade para puxar assunto. Ele se apresentou como pianista ao lado de Villa-Lobos e da pianista francesa Marguerite Long que também foi sua professora. Foi titular da Orquestra Municipal de São Paulo durante 32 anos, e  entre outras orquestras, também regeu a Sinfônica Brasileira em ocasiões especiais, teve sob sua batuta, entre tantos nomes, solistas como o violonista Andrés Segóvia, a cantora Maria Lúcia Godoy, os pianistas Arthur Moreira Lima e Magda Tagliaferro. Para a minha surpresa, as histórias de Souza Lima e Josephine Baker se encontram num certo ponto do livro quando descobri que o regente também viveu em Paris na mesma época em que a cantora, e embora atuando em áreas diferentes (pero no mucho), ele na música erudita, e ela como cantora e dançarina de jazz e vaudeville. Ela aparece numa lista no final do livro entre os solistas que se apresentaram sob a regência de Souza Lima. O livro, no entanto, não revela detalhes desse encontro, mas eu posso dizer que os encontrei em esquinas diferentes de Belo Horizonte.

4 comentários:

  1. Sebos, oh, os sebos. É um passatempo quando entro em algum, mas confesso que vou primeiro nos discos e uma rápida olhadela nos livros. Já pergunto se tem algo como biografia, edição especial ou algo do gênero. Souza LIma, tem um grande conservatório aqui em SP com esse nome. E a pergunta que não quer calar, da Josephine, tem foto dela pelada?
    Abraço mano.

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  2. O Conservatório leva esse nome por causa dele mesmo, mano. E sim, tem fotos dela pelada, haha.

    Abraço!

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  3. ae sim mano hehe. Agora interessei, nas fotos.

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  4. Haha, só procurar na internet aí. Mas recomendo o livro, a história dela é bem bacana.

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